Quem sou eu
- Konceyção
- Santa Cruz do Capibaribe/ Caruaru, NE/PE, Brazil
- Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.
SEGUIDORES
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Comunidade Virtual vai abrir inscrições para novo curso à distância
Em setembro, uma nova atividade de formação da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro estará disponibilizada aqui na Comunidade Virtual. Trata-se do curso online Sequência didática: aprendendo por meio de resenhas, destinado a professores de Língua Portuguesa de escolas públicas de todo o país.
É o primeiro curso do ano promovido pela Olimpíada. Para participar basta ser cadastrado na Comunidade Virtual e fazer a inscrição em nossa página. Quem ainda não se cadastrou, pode fazê-lo na hora. Entre em "login", na barra lateral à esquerda da página da Comunidade, e siga as orientações. Para cadastrar-se é preciso do número do CPF.
O número de vagas no curso é limitado. Serão cinco turmas com 40 vagas cada uma, com duração de oito semanas. A previsão é que algumas turmas do curso iniciem no dia 5 de setembro e outras no início de outubro. Até a próxima semana, a Comunidade Virtual deverá anunciar a data exata de início das inscrições e das atividades do curso.
Objetivos
A idéia do curso é possibilitar que educadores da rede pública vivenciem, como alunos, uma sequência didática em torno de um gênero diferente dos já trabalhados pela Olimpíada. “Não queremos que o professor vire um especialista em só escrever crônicas ou poemas, mas que ele aprenda quais são os princípios de uma sequência didática para o ensino de qualquer gênero”, explica Sonia Madi, coordenadora pedagógica da Olimpíada. “Em cursos anteriores, o professor estava no lugar de discutir a didática do ensino da língua, mas ele não vivia esse papel de aluno. Aqui ele se coloca e vai aprender a escrever da mesma forma que um aluno vai aprender a escrever um gênero”, afirma.
Realizado totalmente a distância, o curso permite ao participante vivenciar uma sequência didática para escrever uma resenha de um produto cultural, compreendendo quais são os princípios do trabalho com gêneros e com sequências didáticas na escola. O curso também pretende ajudar a elaborar atividades e exercícios que ensinem crianças e jovens a produzir textos na escola.
Metodologia
O curso está dividido em sete módulos, com uma semana de duração cada. Todas as atividades podem ser realizadas no horário mais adequado ao participante. Elas são de diferentes tipos: autoinstrucionais, com exercícios realizados individualmente, sem interação ou mediação; interativas, com debates em fóruns; e mediadas, realizando tarefas comentadas e avaliadas por um mediador.
Para saber mais, acompanhe as notícias publicadas aqui na CV.
POEMAS - PARA COMEÇAR BEM A SEMANA
Convite
(José Paulo Paes)
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio,pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
Tem tudo a ver
Elias José
A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.
A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte
os olhos pedindo pão.
A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o voo,
e o canto dos pássaros,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.
A poesia
- é só abrir os olhos e ver-
tem tudo a ver
com tudo.
Os poemas
(Mário Quintana)
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Fonte:
QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM,1980.
Aninha e suas pedras - Cora Coralina
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que tem sede.
AS MINHAS ILUSÕES
FLORBELA ESPANCA
Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisível lira…
O sol é um doente a enlanguescer…
A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!
O sol morreu… e veste luto o mar…
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.
As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim… uma por uma…
A DUAS FLORES
CASTRO ALVES
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
ap.
bruna beber
na minha casa você pode flagrar alguém
se escondendo da rotina num quarto escuro
ou batendo a cinza do cigarro na janela
enquanto espia as roupas dançando em silêncio
no varal da área
às três da madrugada
você pode flagrar alguém preocupado
segurando uma caneca com vinho vagabundo
dormindo fora de hora
pensando demais na vida
e no tédio que é
essa falta de paixão.
verbo irregular
bruna beber
pra sempre é passado
é mais uma promessa apostando corrida
com todas as outras
na escadaria da igreja da penha
voltaria atrás
de joelhos
pra chegar primeiro
no futuro
porque se o tempo cura tudo
e o tal futuro a deus pertence
não vou duvidar
que milagres acontecem
mas pra sempre vou achar
não quero me especializar
em ter certezas, em fabricar
situações definitivas
toda vez que me vierem à cabeça
seus lábios de algodão
doce se dissolvendo
nos meus.
CORA CORALINA
Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida...
CÍRCULO VICIOSO
MACHADO DE ASSIS
Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
"Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela"
Mas a lua, fitando o sol com azedume:
"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume"!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta luz e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?"...
TIMIDEZ
CECÍLIA MEIRELES
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
— mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
— palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
— que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
— e um dia me acabarei.
INTERLÚDIO
CECÍLIA MEIRELES
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
Jorge Luís Borges 112 anos de seu nascimento,
24 /08/1899 Buenos Aires, Argentina.
14/07/1986, Genebra, Suíça.
O escritor Jorge Luís Borges expressou emoções por meio de fábulas e símbolos |
"Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção".
O escritor Jorge Luis Borges nasceu na capital argentina, Buenos Aires. Bilíngüe desde a sua infância, aprendeu a ler em inglês antes que em castelhano, por influência de sua avó materna de origem inglesa.
Aos seis anos disse a seu pai que queria ser escritor e aos sete escreveu, em inglês, um resumo de literatura grega. Aos oito, inspirado num episódio de "Dom Quixote" de Cervantes, fez seu primeiro conto: "La Visera Fatal". Aos nove anos, traduziu do inglês "O Príncipe Feliz" de Oscar Wilde.
Em 1914, devido à quase cegueira total, seu pai decide passar uma temporada com a família na Europa. Em Genebra, Jorge escreveu alguns poemas em francês enquanto estudava o bacharelado (1914-1918). Sua primeira publicação registrada foi uma resenha de três livros espanhóis para um jornal de Genebra.
Em 1919, mudou-se para a Espanha e publicou poemas e manifestos na imprensa. Em 1921, retornou a Buenos Aires e redescobriu sua cidade natal, na efervescência dos anos 20. Nesse clima escreveu seu primeiro livro de poemas, "Fervor em Buenos Aires", publicado em 1923.
A partir de 1924, publicou algumas revistas literárias e, com mais dois livros, "Luna de Enfrente" (poesia) e "Inquisiciones" (ensaios), ganhou em 1925 a reputação de chefe da jovem vanguarda de seu país. Nos anos seguintes, ele se transformou num dos mais brilhantes e polêmicos escritores da América Latina.
Inventando um novo tipo de regionalismo, acrescentou uma perspectiva metafísica da realidade, mesmo em temas como o subúrbio portenho ou o tango. Nesta fase escreveu "Cuaderno San Martin" e "Evaristo Carriego". Mas logo se cansou desses temas e começou a especular sobre a narrativa fantástica, a ponto de produzir durante duas décadas, de 1930 a 1950, algumas das mais extraordinárias ficções do século, nos contos de "Historia Universal de la infâmia" (1935); "Ficciones" (1935-1944) e "El Aleph" (1949), entre outras.
Em 1937, Borges foi nomeado diretor da Biblioteca Pública Nacional, o que foi seu primeiro e único emprego oficial. Saiu nove anos depois, indignado com a inclinação fascista que estava tomando a Argentina.
No que se refere ao amor, o caso mais quente do escritor argentino foi com Estela Canto, que depois lançou o livro de memórias "Borges a Contraluz". Ele conta em sua biografia que a pediu em casamento. Moderna e liberada para a época, Estela respondeu: "Eu aceitaria, Georgie, mas não podemos casar sem antes dormir juntos". Borges ficou assustado e desapareceu.
Aos 50 anos, o escritor já havia perdido parcialmente a visão. Com o passar dos anos, quando a cegueira se fez completa, sua mãe, Leonor, passou a cuidar dele, lendo e escrevendo o que ditava.
O reconhecimento literário de Borges se solidificou em 1961 com a conquista do prêmio concedido pelo Congresso Internacional de Editores, que dividiu com Samuel Beckett. Logo receberia também prêmios e títulos por parte dos governos da Itália, França, Inglaterra e Espanha.
Em 1967, Borges casou-se com uma amiga de infância, Elsa Astete. O casamento durou três anos e acabou com Borges fugindo de casa, sem coragem para discutir a separação. Sua mãe, Leonor, morreu em 1975. Seu segundo casamento foi com a sua ex-aluna Maria Kodama que se tornou sua secretária particular em 1981. Kodama era de origem japonesa e tornou-se a herdeira de seus direitos autorais.
Em 1983, Borges publicou no diário "La Nación" de Buenos Aires o relato "Agosto 25, 1983", em que profetizava seu suicídio. Perguntado depois porque não havia se suicidado na data anunciada, respondeu: "Por covardia". Borges afirmava freqüentemente o seu ateísmo e falava da solidão como uma espécie de segunda companheira.
Bibliografia
Poesia
- Elemento de lista com marcas
- Fervor de Buenos Aires (1923)
- Luna de enfrente (1925)
- Cuaderno San Martín (1929)
- Poemas (1923-1943)
- El hacedor (1960)
- Para las seis cuerdas (1967)
- El otro, el mismo (1969)
- Elogio de la sombra (1969)
- El oro de los tigres (1972)
- La rosa profunda (1975)
- Obra poética (1923-1976)
- La moneda de hierro (1976)
- Historia de la noche (1976)
- La cifra (1981)
- Los conjurados (1985)
Contos
- El jardín de senderos que se bifurcan (1941)
- Ficciones (1944)
- El Aleph (1949)
- La muerte y la brújula (1951)
- El informe Brodie (1970)
- El libro de arena (1975)
Ensaios
- Inquisiciones (1925)
- El tamaño de mi esperanza (1926)
- El idioma de los argentinos (1928)
- Evaristo Carriego (1930)
- Discusión (1932)
- Historia de la eternidad (1936)
- Aspectos de la poesía gauchesca (1950)
- Otras inquisiciones (1952)
- El congreso (1971)
- Libro de sueños (1976)
Não-classificados
- Historia universal de la infamia (1935)
- El libro de los seres imaginarios (1968)
- Atlas (1985)
Em colaboração com Adolfo Bioy Casares
- Seis problemas para don Isidro Parodi (1942)
- Un modelo para la muerte (1946)
- Dos fantasías memorables (1946)
- Los orilleros (1955). Roteiro cinematográfico
- El paraíso de los creyentes (1955). Roteiro cinematográfico
- Nuevos cuentos de Bustos Domecq (1977
Fontes: Uol e Wikipédia (adaptado)
Quero ler nas férias
Maria Rita divulga primeira música de seu novo CD
Foto Vicente de Paulo
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A gravação do disco durou apenas 10 dias e foi realizada no estúdio Toca do Bandido, no Rio de Janeiro. Canções que já fazem parte do repertório de seus shows, como Conceição dos Coqueiros e Santana, estarão presentes neste CD que será lançado no final de setembro.
Além deste, a cantora já lançou nos anos anteriores os álbus Maria Rita, Segundo e Samba meu.
domingo, 28 de agosto de 2011
ZÉLIA DUNCAN - OS IMORAIS
Do nosso gosto, nosso encontro,
Da nossa voz...
Os imorais se chocam por nós,
Por nosso brilho, nosso estilo
Nossos lençóis.
Mas um dia, eu sei, a casa cai
E então a moral da história
Vai estar sempre na glória de fazermos
O que nos satisfaz...
Os imorais falam de nós
Do nosso gosto, nosso encontro,
Da nossa voz...
Os imorais sorriram pra nós
Fingiram trégua, fizeram média
Venderam paz...
Mas um dia, eu sei, a casa cai
E então a moral da história
Vai estar sempre na glória de fazermos
O que nos satisfaz...
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
ESC. DR ADILSON realiza o FOLCLORE PERNAMBUCO MULTICULTURAL 2011
A Escola Dr. Adilson Bezerra de Souza
realiza o Folclore Pernambuco Multicultural nessa Sexta-feira, 26 de Agosto Várias manifestações culturais farão parte do evento: cultura indígena, turismo, culinária, ritmos e danças, literatura, xilogravuras, Lampião, forró, artesanato e muito mais. O Evento começará a partir das 8h e permanecerá durante todo o dia na escola. | |
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Encontro literário da UESCC chega a sua 5ª edição - Texto de Betto Aragão
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5° Encontro Literário: contos, poesias e outras estórias... UESCC
Marina Porteclis fala sobre sua escrita
A jovem autora de Shangrilá comenta aqui como é seu processo de criação de personagens e da história, permitindo-nos acompanhar os bastidores de sua escrita. Veja que interessante.
O arcabouço e a alma
Costumo dizer que minha escrita divide-se em duas fases bem distintas: uma interna, que independe de qualquer instrumento para ser consumada, e uma externa, que ganha cores e vida através de uma tela, onde dedilho as palavras que, por dentro, já ecoavam.
Na primeira fase, que se passa dentro de meu imaginário, crio inicialmente os cenários e logo os povoo com as personagens principais, dando-lhes formas, semblantes, olhares, vozes, gestos, nomes e sobrenomes. Uma vez esculpidos os corpos e personalidades, passo alguns dias pensando, vendo, ouvindo música por elas, olhando paisagens, tentando sentir o que sentiriam diante do mundo, da vida, de sua época, de determinadas circunstâncias e, sobretudo, em presença umas das outras. E é justamente quando consigo estabelecer estas relações, que crio o enredo principal. Portanto, antes de concluir a primeira fase, sei exatamente quem são as personagens – interna e externamente –, como irão se conhecer, o que vai aproximá-las e aonde irão chegar. Enfim, como se pintasse um quadro, faço um esboço de traços em meu imaginário, rabiscando um norte para a história e deixando entreabertos os caminhos que irão levá-las ao final antevisto. É o que me compete na primeira fase: dar arcabouço à história.
A segunda fase, por sua vez, começa justamente quando já compreendo e domino tanto o universo individual de cada personagem, quanto o universo externo, ou seja, aquele que as circunda em forma de cenário e circunstâncias. Nestes termos, quando finalmente me sinto apta, sento-me diante de uma tela – de computador, é claro – e é quando passo a utilizar-me das palavras para dar vida ao enredo que idealizei. Em uma metáfora, poderia dizer que a segunda fase é quando, realmente, fazendo uso de meus pincéis – que são as palavras – passo a dar cores ao “quadro” que arquitetei. Geralmente, com as tintas primárias, traço, num primeiro parágrafo, uma cena forte e que tenha me marcado emocionalmente enquanto eu ainda estava na primeira fase. E é partindo desta cena que deixo vir à tona o restante da história. Ela nasce como se já estivesse pronta e parece ter vida própria. Os caminhos, outrora entreabertos, para a minha surpresa vão assumindo cores e contornos definidos e, sem que eu perceba, as etapas do enredo vão se abrindo e se fechando diante dos meus olhos. Minhas mãos, através da escrita, têm como função apenas a de abrirem as cortinas. O norte, aos poucos, se aproxima e, quando menos espero, vem o arremate do quadro numa última pincelada. O arcabouço, enfim, ganhou alma. O significado e o significante da trama já estão consignados, não apenas na última, mas em cada página. É quando, finda, eu assino a obra.
E foi assim – vencendo estas duas etapas – que escrevi diversos contos e também meu primeiro romance, intitulado Shangrilá. Para ser precisa, posso afirmar que a segunda fase de meu livro – ou seja, a escrita propriamente dita – durou cerca de um mês. Já a primeira fase, não sei precisar. Realmente não consigo definir durante quanto tempo lapidei em meu imaginário as personagens, nem em corpo, nem personalidades. Talvez, de algum modo, elas sempre tenham existido, tamanha a força que observei em cada uma delas, quando as libertei em cada página. O cenário, por sua vez, não fui eu que criei. Ele existe. É inteiramente real. Meu trabalho, neste aspecto, foi apenas o de retornar ao palco de minha infância, em viagens viabilizadas pela memória.
Durante estes dias, quase um mês, chegava em casa a noite e me debruçava diante da tela, vencendo, insone, as madrugadas. Buscando nas gavetas de minha memória, logo me via novamente nos arredores do Engenho Mata Verde – que não é o nome real da propriedade – e era por ali que eu colocava Mariana, Fabíola, Januária, Kimber, dona Antonieta, seu Antunes, Dionísio, Davi, Vicente, Aloísio, Dinorah e demais personagens, todos já bem definidos interna e externamente. E assim, com a força das palavras, deixava-os trilhar pelos caminhos entreabertos que, aos poucos, iam se definindo, cada um com a cor que lhe competia na peculiar aquarela. Quando dei por mim, tudo já estava ali, nada do que idealizei se perdeu. No final, todos se libertaram, inclusive eu.
INGRAMATICÁVEL - MARINA PORTECLIS
“Amar, verbo intransitivo”
Foi este o título do livro
Romance de Mário de Andrade
Amar, verbo intransitivo
Repito,
Reflito:
Dizia ele a verdade
Mesmo avessando a gramática
Pois amar é verbo arredio
Que não exige complemento
Não escolhe sujeito
Prescinde de objeto
Direto ou indireto
Choca-se em nós sem aviso,
Por vezes em forma de prêmio,
Outras, de castigo
Sempre sem escolha
E conjuga-se em todos os tempos
Em todas as pessoas
Atreve-se a ser plural e singular
Definido e indefinido
Ecoa no pretérito perfeito
E também no imperfeito
No mais-que-perfeito, repousa
E ousa retornar ao presente,
Mesmo contido,
Mesmo ausente
O amor não é só intransitivo
É também intransigente
No futuro distante, por vezes, prorroga-se
No infinitivo dos “r”s
Amar, amar e somente
Inventando, à revelia de nós, o “para sempre”
Mesmo em primeira pessoa
O amor substantivo
Também é palavra articulada:
Como se feita de líquido
Se amolda em toda morada:
Não tem face
Não tem cor
Não tem sexo
Não tem idade
Tem apenas um capricho:
Classificar-se como abstrata
Mas o amor é mais que isto
E burla mesmo o dicionário,
É sentimento concreto,
Teimoso,
Ingramaticável
Além das palavras,
Além das quimeras,
Além das vontades,
O amor, de tão concreto, é terreno
Onde se erguem indústrias,
Pontes,
Cabanas,
Miragens,
Onde crescem frondosas árvores
Onde descansa a chuva
De onde verte coragem
Feito navio sem leme,
O amor segue à escolha do vento
Propõe pacto contra o tempo
E vence
A singrar pelos mares
Mas o amor não é só verbo,
Não é só substantivo,
Não é só terreno fértil
De onde despontam abrigos
O amor também é semente
Que precisa ser regada
E, astuto, se desfaça
De pronome reflexivo
A exigir cumplicidade
É quando o desafio começa
E de navio sem leme
Transmuda-se em leme sem navio
Que finge ser guiado,
Que finge ter controle,
Que se acomoda nos particípios:
Amado e Amado
Até que um colide no outro
E o amor, compassadamente sepultado,
Encolhe, seca e morre
No silencio negligente
De não ser mais conjugado
Retomemos, portanto, a gramática,
As lições, os dicionários
Em busca de outra palavra
A completar o amor:
“Cuidado”.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Caruaru usa cordel na educação infantil
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Observatório da Imprensa Ter, 23/08 - 22h
Especial 70 anos de “Brasil, país do futuro”
Livro publicado pelo escritor austríaco Stefan Zweig
Publicado em 16/08/2011 - 16h53 • Atualizado em 18/08/2011 - 18h56
O Observatório da Imprensa de terça-feira (23), às 22h, traz uma edição especial para lembrar os 70 anos do livro Brasil, país do futuro, publicado pelo escritor austríaco Stefan Zweig. Lançado em 1941, a obra teve oito edições e constitui não só um retrato do país, como também uma interpretação do espírito brasileiro.
Aclamado escritor de ascendência judaica, Zweig encontrou no Brasil um abrigo que o manteria a salvo das perseguições aos judeus na Europa e das atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Refugiado nos trópicos, deparou com um país de dimensões continentais onde o ódio racial dava lugar à convivência pacífica, a exuberante natureza seduzia os recém-chegados e o futuro econômico parecia promissor.
No país com potencialidade para ser o berço de uma nova civilização, escreveu uma declaração de amor que foi recebida no exterior como uma revelação. Mas que acabou incompreendida no Brasil. Acusado pela imprensa de receber dinheiro do governo brasileiro para escrever o livro, Zweig, na verdade, recebeu como retribuição um carimbo que o salvaria dos horrores da guerra na Europa: o visto de residência de permanente no Brasil.
Deprimido com a repercussão negativa do livro e angustiado com a perspectiva de que a guerra chegaria ao Brasil, Stefan Zweig e sua mulher Lotte cometem o suicídio em pleno carnaval carioca, fevereiro de 1942, um ano depois do lançamento do livro.
Entrevistados:
Affonso Romano de Sant’anna – Poeta, crítico literário
Afrânio Garcia – Antropólogo
Alcino Leite Neto – Editor da Publifolha
Alzira Abreu – Pesquisadora / CPDOC – FGV
Barbara Freitag – Socióloga, prof. Emérita / UNB
Clara Sverner – Pianista, pesquisadora
Cristovam Buarque – Senador, ex-ministro da Educação
Fábio Koifman – Professor de História / UFRRJ
Fernando Henrique Cardoso – Ex-presidente da República, sociólogo
Fuad Atala – Jornalista, pesquisador
João Paulo dos Reis Velloso – Ex-ministro do Planejamento, economista
Marco Aurélio Garcia – Assessor especial da Presidência da República, professor
Orlando de Barros – Prof. História Contemporânea do Brasil / UERJ
Renato Lessa – Cientista Político, professor de Teoria Política / UFF
Sérgio Abranches – Sociólogo, economista
O Observatório da Imprensa especial “Setenta anos de Brasil, país do futuro” vai ao ar na terça (23), às 22h, na TV Brasil.
Apresentação: Alberto Dines
Horário: 22h
domingo, 21 de agosto de 2011
sábado, 20 de agosto de 2011
TABACARIA (15-1-1928 ) Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
TABACARIA (15-1-1928 )
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.
In Pessoa, F. (1981): Obra Poética, Rio de Janeiro: Ed. Aguilar.
Absurdo (Vanessa da Mata)
Havia tanto pra lhe contar
A natureza
Mudava a forma o estado e o lugar
Era absurdo
Havia tanto pra lhe mostrar
Era tão belo
Mas olhe agora o estrago em que está
Tapetes fartos de folhas e flores
O chão do mundo se varre aqui
Essa idéia do natural ser sujo
Do inorgânico não se faz
Destruição é reflexo do humano
Se a ambição desumana o Ser
Essa imagem infértil do deserto
Nunca pensei que chegasse aqui
Auto-destrutivos,
Falsas vitimas nocivas?
Havia tanto pra aproveitar
Sem poderio
Tantas histórias, tantos sabores
Capins dourados
Havia tanto pra respirar
Era tão fino
Naqueles rios a gente banhava
Desmatam tudo e reclamam do tempo
Que ironia conflitante ser
Desequilíbrio que alimenta as pragas
Alterado grão, alterado pão
Sujamos rios, dependemos das águas
Tanto faz os meios violentos
Luxúria é ética do perverso vivo
Morto por dinheiro
Cores, tantas cores
Tais belezas
Foram-se
Versos e estrelas
Tantas fadas que eu não vi
Falsos bens, progresso?
Com a mãe, ingratidão
Deram o galinheiro
Pra raposa vigiar
Ano de Lançamento: 2007
Gravadora: Sony BMG Brasil
Vanessa da Mata - Biografia
Vanessa da Mata nasceu em 1976, em Alto Garças, no Mato Grosso – uma pequena cidade 400 quilômetros de Cuiabá, cercada de rios e cachoeiras. De formação autodidata, ouviu de tudo na infância. De Luiz Gonzaga a Tom Jobim, de Milton Nascimento a Orlando Silva. Ouviu também de ritmos regionais como o carimbó, dos discos trazidos das viagens de um tio à Amazônia. Ouviu samba, música caipira e até música brega italiana, sons que chegavam pelas ondas da rádio AM.
Aos 14 anos, Vanessa se mudou para Uberlândia, em Minas Gerais, cidade a mil e duzentos quilômetros de distância de Alto da Graça. Foi para lá sozinha, morar em um pensionato: se preparava, então, para prestar vestibular de medicina. Mas já sabia o queria: cantar. Aos 15, começou a se apresentar em bares locais.
Em 1992, foi para São Paulo, onde começou a cantar na Shalla-Ball, uma banda de reggae de mulheres. Três anos depois, excursionou com a banda jamaicana Black Uhuru. Em seguida, fez parte do grupo de ritmos regionais Mafuá. Neste período, ainda dividia seu tempo entre as carreiras de jogadora de basquete e de modelo.
Em 1997, conheceu Chico César: com ele, compôs "A força que nunca seca". A música foi gravada por Maria Bethânia, que a colocou como título de seu disco, em 1999. A gravação concorreu ao Grammy Latino e também foi gravada no CD de Chico, “Mama Mundi”. O Brasil descobria uma grande compositora. Bethânia voltou a gravar Vanessa: “O Canto de Dona Sinhá” esteve no CD “Maricotinha” – com participação de Caetano Veloso - e em sua versão ao vivo. Já “Viagem” foi gravada por Daniela Mercury em “Sol da Liberdade”. Com Ana Carolina compôs “Me Sento na Rua”, do CD “Ana Rita Joana Iracema e Carolina (2001).
A voz e a presença de Vanessa começavam também a chamar atenção. Fez participações em shows de Milton Nascimento, Bethânia e nas últimas apresentações de Baden Pawell: estava pronta para estrear em carreira solo.
Em 2002, lançou seu primeiro CD, “Vanessa da Mata” (Sony) – que teve produção conjunta de Liminha, Jaques Morelenbaum, Luiz Brasil, Dadi e Kassin. Entre os sucessos deste disco estão “Nossa Canção” (trilha sonora da novela “Celebridade”), “Não me Deixe só” - que estourou nas pistas com remix de Ramilson Maia - e “Onde Ir” (que esteve na trilha da novela “Esperança”)
O segundo disco, “Essa boneca tem manual” (Sony), foi lançado em 2004 e teve produção de Liminha, como quem também dividiu as composições. Além de suas próprias canções – como "Ai ai ai...", ''Ainda bem'' e "Não chore homem", regravou “Eu sou Neguinha” (Caetano Veloso, versão que integrou a trilha da novela “A Lua me disse”) e "História de uma gata" (Chico Buarque, de "Saltimbancos"). Como “Ai ai ai..”, música nacional mais executada nas rádios em 2006, o álbum chegou a Disco de Platina.
“Sim”, o terceiro disco, lançado em 2007, foi produzido por Mario Caldato e Kassin. O álbum foi gravado entre a Jamaica e o Brasil. Das 13 faixas, cinco tem a participação de Sly & Robbie, dois ícones da música jamaicana. “Sim” é definido, pelo seu título, como “uma resposta positiva à vida, uma resposta de luta”. E conta com participações de Bem Harper, João Donato, Wilson das Neves, Don Chacal e um time da nova geração da música brasileira,como o baterista Pupillo (Nação Zumbi) e os guitarristas Fernando Catatau (Cidadão Instigado), Pedro Sá e Davi Moraes, entre outros.
Em 2009 Vanessa lançou seu primeiro DVD e CD ao vivo, o “Multishow Ao Vivo - Vanessa da Mata”.
Gravado em Paraty e dirigido por Joana Mazzucchelli, o projeto registrou músicas de seus três trabalhos: "Sim", "Essa Boneca tem manual" e "Vanessa da Mata".
No palco, além de sua banda, Vanessa foi acompanhada pela dupla de jamaicanos Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo).
Em 2010, Vanessa lança "Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias", seu quinto disco. Produzido por Kassin e mixado por Mario Caldato, o cd tem 12 faixas inéditas, uma parceria com Lokua Kanza ("Vá") e outra com Gilberto Gil ("Quando Amanhecer").
FONTE: http://www.vanessadamata.com.br/bio
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Titãs - Quem vai Salvar Você do Mundo (2011)
Quem vai salvar você do mundo?
Titãs
Composição: Sérgio BrittoQuem vai salvar o mundo de você?
Quem vai salvar você do mundo?
Quem vai livrar o mundo
De tantas certezas
Se nem a própria vida já não
Nos causa surpresa
Quem vai livrar o mundo
De tanto dar volta?
- Nem rumo certo ou norte
Por linhas tortas
Quem vai livrar o mundo
De ser e ser tantos
Se nem a própria morte já não
Nos causa espanto
Quem vai livrar o mundo
Das dores do mundo?
- Nem curso em linha reta
Nem passos sem rumo
Se não nos vemos nos outros
Se em nós os outros não se vêem
Se a vida é para tão poucos
Se a vida é para mais ninguém
Como seria o perfil de Macunaíma no Facebook? (Bianca Borgianni)
A internet foi criada há mais ou menos uns 40 anos, com fins militares durante a Guerra Fria. Desde então seu uso foi aumentando em círculos acadêmicos restritos, apenas como mecanismo de comunicação interna. A internet só começou a ser usada por uma parcela maior da população em 1990. Se a compararmos à vida de uma pessoa, poderíamos dizer que só agora, com 21 anos, ela está saindo da adolescência.
Esses dados são importantes para que entendamos o porquê de uma grande porcentagem de usuários ser formada exatamente por jovens. Um garoto de 16 anos já nasceu em meio a tudo isso, facilitando seu processo de aprendizagem sobre o uso da ferramenta, pois ela nunca se apresentou a ele como uma novidade. Alguém de mais de 35 anos, por outro lado, viveu o choque de uma vida sem internet para uma vida com internet. Suas referências de pesquisa muito provavelmente são outras. Se um professor pedisse de lição de casa o resumo de um livro, seria mais difícil encontrar uma resenha pronta do que ler o livro e fazer a sua própria.
Abordamos isso tudo para chegarmos a uma conclusão sabida por todos: a internet ocupa um grande espaço na vida dos jovens, e, portanto, tem um papel fundamental no ambiente escolar. Cabe a nós professores tentarmos conciliar o mundo virtual com o escolar, sem que o primeiro invalide propostas pedagógicas do segundo e liquide algumas experiências essenciais, como a própria leitura de obras literárias.
Foi pensando nisso que surgiu a idéia. Em junho, a designer da Comunidade Virtual, Natália Pacheco, enviou por email para toda a equipe uma página interessante: era um perfil do personagem Dom Casmurro, de Machado de Assis, em uma rede social. Por se tratar de personagem de um grande clássico, foi muito fácil identificar as referências aludidas na sua “atividade recente”.
O perfil agradou toda a equipe e decidiu-se, então, que todos criariam alguns perfis para entender se a proposta teria algum potencial pedagógico.
Pedro Bala, de Capitães da Areia, no Facebook
O primeiro passo foi a escolha do personagem. Essa etapa já exige certo conhecimento prévio sobre a obra, pois assim que você pensar em algum – Pedro Bala, por exemplo, personagem de Capitães da Areia, romance de Jorge Amado - como foi meu caso, será preciso recorrer ao livro.
Eu havia lido a obra na oitava série, de modo que os episódios não estavam muito frescos na memória. Foi necessário então fazer uma releitura de vários trechos.
Depois de rever algumas das relações de Pedro Bala com os outros personagens da história; perceber os principais traços de sua personalidade e os fatos mais importantes da narrativa, precisei escolher uma rede social que se adequasse às suas características.
Minhas opções eram: Twitter, Facebook, Myspace, Flicker, Orkut ou um perfil na própria Comunidade Virtual. Como Capitães da Areia é uma história cheia de personagens e acontecimentos, preferi me inspirar no Facebook.
Por não ser muito boa com recursos de fotomontagem, preferi fazer o perfil a mão, usando colagem, canetinha e lápis de cor. Quem tem alguns conhecimentos de programas como o Photoshop e até mesmo o Paint (que usei para fazer o Twitter do Gregor Samsa, de A metamorfose de Kafka) vai se divertir utilizando outros recursos.
Foi bom fazer um planejamento, selecionando os principais episódios que seriam mencionados e com quais personagens ele interagiria. Depois disso, mãos à obra! Desenhei as fotos dos amigos e fiz colagem com a foto principal do perfil, a de Pedro Bala. Tentei articular as ferramentas da própria rede social para se adequarem com verossimilhança ao personagem. O pensamento foi: “se o próprio Pedro Bala tivesse um perfil no Facebook, como seria?”
O mais interessante dessa proposta é que não há como realizá-la sem ter lido o livro todo muito bem, e se você fez isso muito tempo atrás, é necessário que faça uma releitura de vários trechos.
Bem encaminhado em sala de aula pode ser uma proposta divertida de verificação de leitura, que provavelmente vai motivar mais os alunos do que a elaboração de uma resenha. A apropriação de uma forma que dialoga com o cotidiano pode dar uma cara nova a uma atividade aparentemente protocolar. Incorporar de maneira criativa elementos vistos como empecilhos para a aprendizagem e a leitura talvez seja atualmente um dos métodos mais eficazes no sentido de aproximar os alunos da literatura!
Agora queremos fazer um convite a professores e alunos: o que acham de elaborarem perfis de personagens literários em sala de aula ou em casa e mostrarem para a gente?
Estamos muito curiosos para saber se a proposta funciona na escola e como os perfis vão ficar! Envie perfis criados por professores ou alunos e os relatos dessa experiência para sabermos como funcionou.