“Professores
devem reaprender a aprender”
O professor americano Will Richardson percebeu, em
sua rotina de sala de aula, que havia alguma coisa mudando naquele espaço de
aprendizagem. O ano era 2001 e ele dava aula de inglês para o ensino médio em
escolas norte-americanas. Nessa década que se passou, as tecnologias foram
entrando no universo educacional, ele começou a escrever sobre o assunto e,
entre idas e vindas de conversas com professores pelo país, sua suspeita só se
confirmou: essa aflição não era só sua. Foi aí que percebeu que o primeiro passo
para os professores se adequarem aos novos formatos de educação era fazer com
que eles reaprendessem a aprender e, para isso, era fundamental que eles se
organizassem em redes.
“Esse é um dos desafios mais interessantes que
temos hoje: como é que ajudamos os professores a entender o que está
acontecendo fora das escolas e os deixamos aptos para preparar as crianças para
essa realidade?”, pergunta o especialista, que já tem uma dica de qual seja a
resposta. “Os professores têm que construir suas próprias redes e se tornar
responsáveis pelo seu aprendizado, assim como se espera que os alunos façam”,
afirma Richardson, que há seis anos vêm capacitando professores por meio do
programa Powerful Learning
Practice.
Na capacitação que dá para os professores,
Richardson reúne professores em comunidades virtuais e em algumas atividades
presenciais ao longo do ano letivo. Ele procura fazer desse ambiente virtual um
espaço compreensivo em que os professores possam compartilhar experiências,
ansiedades e expectativas e, de quebra, se apropriar das funcionalidades da internet. “Tentamos fazer com que os
professores se sintam confortáveis com o ambiente on-line, dividam seus medos,
sejam transparentes, conversem. Mas leva tempo”, afirma o especialista, que
procura usar o canal que criou para mostrar exemplos do que é possível fazer e
falar sobre a educação do século 21. O programa, diz ele, tem sido procurado
por escolas públicas e particulares, que inscrevem parte do seu corpo docente
para participar da capacitação. As atividades são compartilhadas em um blog e
parte das discussões que esses educadores promovem podem ser acessadas pelo
site.
Preparar os professores para uma nova realidade de
educação, em que há muito mais conhecimento disponível na palma da mão em um
smartphone do que nas bibliotecas de muitas escolas, é apenas parte da solução.
Richardson diz que a própria escola precisa mudar radicalmente. Tanto defende
que lançou, no mês passado, o livro Why School?, (Por que Escola?, em livre
tradução), cuja versão digital em inglês está disponível na Amazon por US$
2,99. “Não é que não queiramos a escola. Não queremos essa escola. Tudo precisa
ser repensado: currículo, design, infraestrutura”, diz
ele.
“Não acho
que possamos fazer como fazemos hoje, quando os alunos ficam trancados 45
minutos em uma sala, depois têm outra aula de 45 minutos. Temos que dar uma
bagunçada nisso.”
O argumento de Richardson é que entregar o
conhecimento pronto, encaixotado, hoje não faz mais sentido. O que se espera é
que o currículo seja reflexivo, baseado muito mais em perguntas que não
necessariamente se sabe a resposta – “porque é isso que elas vão encontrar na
vida”. “As crianças demandam diferentes tipos de aprendizado, diferentes tipo
de alfabetizações”, diz o educador, que ressalta a importância de que os alunos
recebam uma espécie de alfabetização em rede (livre tradução para network
literacy), em que aprendam segurança na web, como e onde pesquisar, o que
se pode ou não fazer em ambiente virtual.
Quanto à estrutura das escolas, Richardson diz que
o ideal é que os espaços fossem redesenhados porque sala de aula, quadro negro
e carteira já não fazem mais sentido. “É
preciso ter muito mais espaços colaborativos de trabalho, acesso a materiais
multimídia. Não acho que possamos fazer como fazemos hoje, quando os alunos ficam
trancados 45 minutos em uma sala, depois têm outra aula de 45 minutos. Temos
que dar uma bagunçada nisso.”.
FONTE: http://porvir.org/porpensar/professores-devem-reaprender-aprender/20121009
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