“No início, havia apenas a palavra e meu principal significado para chão: tudo aquilo que me sustenta. Chão, quase uma onomatopeia do andar – que soa nasal e reverbera no corpo todo”, diz Lenine, pontuando como construiu o nome para o seu décimo disco.
Ruídos como o canto de um pássaro, o apito de uma chaleira, batimentos cardíacos, uma máquina de escrever, uma lavadora de roupas e até uma motosserra, foram utilizados para compor dez faixas orgânicas, intensas e poéticas, classificadas pelo cantor como “pessoal, passional e intransferível”.
Logo na capa do álbum, todo o sentimentalismo envolto ao novo trabalho se resume: uma foto retirada do álbum da família. “É meu neto. Ele estava dormindo sobre mim. Corrobora este significado de sustento porque, naquele momento, eu era o seu chão”, diz Lenine.
Além da participação dos músicos Júnior Tostoi, Lula Queiroga, Carlos Rennó e Ivan Santos, o filho do cantor, Bruno Giorgi, também ajudou na construção do álbum, o que evidencia um significado singular.
A primeira faixa, que leva o nome do álbum – Chão -, exprime uma sensação de tensão e utiliza elementos eletrônicos. Começa com o som de passos, que ecoam durante toda a música. “Um monossílabo, reverberante e onomatopeico, porque ele já traz o barulho da caminhada quando você fala ‘chão, chão, chão’”.
Destaque também para a faixa Amor é para quem ama, que conta com a participação especial de Frederico, um canário belga da sogra do cantor. “Frederico estava na porta do estúdio. Quando eu fui ouvir, estava o vazamento lá do passarinho cantando. Só que o Bruno [Giorgi] falou ‘Ele tá cantando no tom. Vamos assumir isso aqui’. Botei no computador a música e dei um play/rec – de antes de começar a música e até terminar. Quando a gente abriu, foi a mesma coisa que você ouviu, porque não teve edição. Cara, o Frederico arrasou!”. Na mesma faixa, há também citação da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
A última faixa, Isso é só o começo, apresenta todos os elementos usados nas faixas anteriores, intencionando um fio condutor pontual para o final do disco.
Certamente, um trabalho que reafirma toda a reinvenção costumeira de Lenine. Vale a pena conferir!
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