As salas são divididas por canções. Todas as composições ganharam novas versões, por serem interpretadas – além de Vasconcelos e Bittar – por artistas como Arnaldo Antunes, Otto, Jorge du Peixe e Dominguinhos. A decoração dos espaços também acompanha o tema das músicas. A sala da canção “Xote das Meninas”, cuja letra relata a paixão que aflora desde cedo nas garotas, tem um altar com o santo casamenteiro, retratos de casais e velas.
Para a autora, a composição resulta em uma textura surreal. “Faz você sentir a letra com intensidade. É como se você tivesse ouvindo essa música pela primeira vez. Faz você pensar no sentimento que a canção passa”, diz Rhaissa Bittar, responsável pela versão musical. A cantora reconhece que Luiz Gonzaga não a influenciou diretamente, mas ela se identificou muito com essa canção. “A letra fala desse sentimento da menina que troca os brinquedos pelas primeiras paixões. É algo muito puro e muito gosto de ouvir. Até as mulheres mais ‘avassaladoras’ têm uma menina dentro de si. É isso o que essa música resgata”, opina.
Se, por um lado, para retratar o espírito feminino da canção foi preciso surrealismo, por outro, foi necessário muito dinamismo para explorar as onomatopeias da música “Samarica Parteira”. Os recursos de linguagem presentes no vocabulário de Luiz Gonzaga foram projetados em telões de led. Em meio à sala escura, que reflete os clarões das palavras gigantes, Naná Vasconcelos era só elogios. “É muito difícil mexer com onomatopeias, embora eu as use bastante em meu trabalho. Só que Luiz cantava com muita espontaneidade, parecia que ele nunca tinha ensaiado. Eu achei difícil porque o vocabulário e a cultura dele são diferentes dos meus. Mesmo assim, o resultado ficou ótimo”, acredita o instrumentista.
O foco diferenciado da idealizadora do projeto, Lina Rosa, segue uma ideia sugerida em um verso do escritor Carlos Drummond de Andrade – “Quando eu morrer, morre comigo um certo olhar”. A frase do poeta mineiro reflete a particularidade que cada um tem de enxergar a vida. Foi através deste pensamento que a responsável pela exposição colocou em prática um sonho. “Quando criança, eu sempre via Luiz Gonzaga como uma figura pop e divertida. Já adolescente, isso continuou. Quantos forrós dele eu já dancei quando saía da faculdade? Ele era uma pessoa que seguia comigo, para onde eu fosse. Eu queria expor todas essas lembranças e pensei na exposição. A realização foi fácil, porque reflete uma verdade. É legítimo”, afirma.
Legítimo também foi a palavra utilizada pelos estudantes Otávio Henrique e Teo Almeida ao visitarem a exposição. Eles são de Caruaru e reconhecem que nunca viram algo tão alternativo. “É diferente e incrível. Nós nunca tínhamos visto Luiz Gonzaga por este lado. Sempre olhávamos para ele de uma forma clichê. Nós sempre demos valor, mas pensávamos nele com aquele estereótipo de um músico com sanfona. A exposição tem o objetivo de desmistificar isso. Olhar através das fronteiras, assim como Luiz Gonzaga fez com a música”, concordaram.
A exposição “Baixio dos Doidos”, cujo nome remete à terra natal de Luiz Gonzaga, está instalada na antiga estação ferroviária de Caruaru. Ela é um dos principais atrativos do São João da cidade e poderá ser visitada até o dia 15 de julho, das 16h às 22h. A entrada é gratuita.
FONTE:
http://maisab.com.br/tvasabranca/blog/com-veia-pop-de-gonzagao-baixio-dos-doidos-agrada-publico-e-artistas/
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