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No 6º Encontro Literário promovido pela UESCC (União dos Estudantes de Santa Cruz do Capibaribe) muitos convidados novos e que comungam do prazer da leitura, da escrita. Poetas jovens, alguns mais maduros. Discussões sobre a escrita, etc. Tudo num clima agradabilíssimo. Evento que merece muitas e muitas outras edições. Espaço para que possamos compartilhar, apreciar, ler, reler, ouvir, discutir, nos emocionar com a literatura.
Vários textos foram lidos, de autores diversos, inclusive de autoria própria.
Abaixo estão alguns dos textos que levei. Obviamente não foram os únicos do encontro e que bom.
Então aproveitem e sintam um pouco o gostinho de quero mais.
Até a próxima edição!
CHACAL
a palavra vive no papel
com vírgulas hífens crases reticências
leva uma vida reclusa de carmelita decalça
corpo palavra
o corpo aprender a ler na rua
com manchetes de jornais
jogadas na cara pelo vento
com gírias palavrões
zoando no ouvido
com gritos sussurros
impressos na pele
palavra corpo
a palavra quer sair de si
a palavra quer cair no mundo
a palavra quer soar por aí
a palavra quer ir mais fundo
a palavra funda
a palavra quer
a palavra fala:
- eu quero um corpo !
corpo palavra
o corpo sabe letras com gosto
de carne osso unha e gente
o corpo lê nas entrelinhas
o corpo conhece os sinais
o corpo não mente
o corpo quer dizer o que sabe
o corpo sabe
o corpo quer
o corpo diz:
- fala palavra !!!
palavracorpo corpopalavra
Sócio do ócio
doce ociosidade
sacia minha sede de ser assim
largado no mundo caído na vida
terra mãe luz da manhã
doce sociedade ociosa sempre no cio
já aboliram a escravatura
pendure sua rede mate sua sede
de se espreguiçar
de volta ao princípio
onde o que come é comido
cru ou cozido
vou te devorar
viva nossa carne mortal
de partículas imortais
para pulsar
filhos do sol
até que se cumpra
nosso destino cósmico
sou sócio do ócio
eu sou
Chacal
PALAVRAS
(Maria Aparecida Ribeiro – Caruaru)
fecho-me
para que o mundo não me devore
e leve o resto da minha canção
no meu silêncio
protejo-me
da própria verdade
das palavras
elas insistem na minha prosa
nos meus gestos...
expressam o que sou e sinto
brincam com a minha dor
zombam do meu amor
dormem e acordam comigo
batem a minha porta
e sem pedir licença
arrastam tudo do me ser
tudo do meu sagrado...
ah! essas palavras
amigas presentes
das minhas vidas
dos meus eus
reflexos de mim.
MINHA ESCOLA ASCENSO FERREIRA
A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!
À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... — A minha adorável vida de criança:
Pinhões... Papagaios... Carreiras ao sol...
Vôos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...
— O meu engenho de barro de fazer mel!
Do outro lado, aquela tortura:
"As armas e os barões assinalados!"
— Quantas orações?
— Qual é o maior rio da China?
— A 2 + 2 A B = quanto?
— Que é curvilíneo, convexo?
— Menino, venha dar sua lição de retórica!
— "Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!"
— Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
— Agora, a de francês:
— "Quand le christianisme avait apparu sur la terre..."
— Basta
— Hoje temos sabatina...
— O argumento é a bolo!
— Qual é a distância da Terra ao Sol?
— ?!!
— Não sabe? Passe a mão à palmatória!
— Bem, amanhã quero isso de cor...
Felizmente, à boca da noite,
eu tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d'Água...
E me ensinava a tomar a bênção à lua nova.
VAIDADE
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo…
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho… E não sou nada!…
FLORBELA ESPANCA
FARSA
Sou uma farsante,
Uma impostora!
Caminho pela multidão
E todos são convencidos
Que estão diante de uma realidade.
Sim, sou uma farsante
E não me escondo de ninguém
Caminho tranquilamente pela multidão
Sem sequer olhar para trás
Denunciando uma possível
Desconfiança.
Não me esquivo,
Sou altiva
E não há quem me convença
Do contrário.
Se alguém me acusa
Finjo que não é comigo
E num emaranhado
Deixo as acusações
Há uma multiplicidade
Em mim:
Máscaras inconstantes
E imutáveis
Só uma coisa não finjo:
Sou uma farsante
Uma impostora.
(Conceição Gomes – 24/04/2011)
UTILIDADE PÚBLICA
A palavra é minha força!
Cantada,
Falada,
Escrita,
Ouvida,
Silenciada,
Imaginada.
A palavra me representa,
Apresenta-me.
É minha expressão,
Meu grito,
Minha indignação
Nem sempre ouvida,
Nem sempre aceita,
Nem sempre entendida,
Mas é a minha palavra.
A palavra é minha vida!
E entre mil delas, perdida
Encontro-me com voz ativa
Para dizer quem sou
E a que vim.
A palavra não cala,
E se cala,
Se preciso for,
É para dizer
Que entre as lacunas do silêncio
Cabem palavras mil
E mil palavras
Que digam,
Incitam...
A palavra é minha alma!
E muitas vezes
Mesmo em silêncio
Contemplando o de dentro e o de fora
Das palavras,
Elas saltitam,
Convidam.
São a senha, o código, o segredo
Para o além mar
Num mar de palavras
Em que sempre estou a mergulhar.
Conceição Gomes (11/05/2011)
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