Curando o que não é doença
15 de
novembro de 2011 Matheus Araújo
No exército do Senhor tem aumentado o número de
soldados da divisão de “psicólogos ungidos”. Chove na horta da ignorância uma
manada de insensatos entre livros, programas de televisão, blogs e perfis de
twitter distribuindo a “cura” para a homossexualidade por meio da mágica
divina. Muito cômico. E seria puramente isto se não fosse pela seriedade
do assunto.
Esses indivíduos dão reforço a teses tolas que
sustentam que a homossexualidade é uma doença, um transtorno mental e
espiritual, perfeitamente tratável a partir da lavagem cerebral religiosa. Não
se escusam de usar a Bíblia para tentar nos mostrar o quanto deus repudia a
prática homossexual, escolha abominável diante de seus olhos.
Primeiro havemos de notar a tolice religiosa por
trás disso. A base prima dessas afirmações é a Bíblia, e a condenação à
homossexualidade reside no versículo 22 do capítulo 18 do livro de Levíticos.
Um livro inspirado em uma tradição religiosa antiga estupidamente
preconceituosa e violenta. E o ponto mais interessante é o critério da
conveniência, usado na seleção desse versículo. O livro do Levíticos faz parte,
junto com o livro do Êxodo, dos Números e do Deuteronômio, de uma parte da
Bíblia exacerbadamente preenchida de leis insanas e maus conselhos. Entre tais
absurdos estão a aplicação da pena de morte por apedrejamento para adúlteros e
pessoas que forem flagradas trabalhando aos sábados, além da liberação da venda
de filhas como escravas. Tais trechos não costumam ser citados pelos cristãos,
pois já não lhes convém. Mas a maioria jamais hesita em citar as partes desses
livros horríveis que dão sustentação a seus preconceitos, adicionando a estas
algumas palavras do machista Paulo de Tarso, cujas idéias se encontram no Novo
Testamento.
Obviamente um livro arcaico, violento e discriminatório
não é boa base para qualquer julgamento. Mas o Cristianismo dá o empurrão
necessário para a disseminação dessas idéias, carimbando-as com o selo de
autoridade divina e manipulando as mentes dos fiéis ao comando de seus líderes.
Estabelecidas estas idéias preconceituosas
arcaicas, surgem então os heróis do Cristo, sempre atentos as necessidades
espirituais dos pecadores. Uma gama enorme de psicólogos ungidos e outros
pseudo-cientistas trazem a nós uma variedade de práticas espirituais curativas
que visam corrigir a conduta demoníaca dos homossexuais. Pregam que a
homossexualidade é uma escolha influenciada pelo Diabo, seguindo os mesmos
parâmetros medievais que um dia já conceberam a ideia de que o
canhotismo fosse uma escolha e parte de um comportamento satânico.
Estes indivíduos não passam de religiosos fanáticos
tentando cientifizar e racionalizar seus preconceitos e crenças estúpidas.
Aproveitam-se da ingenuidade e do medo em que mergulham alguns homossexuais que
tentam de toda maneira mudar aquilo que são por serem tão agredidos e
rejeitados pela sociedade. Estes curandeiros do Espírito Santo são meros
vigaristas enganando os incautos.
A homossexualidade é uma condição, não uma opção.
E, embora possa ter causa essencial em fatos sociais, na maioria das vezes tem
causas biológicas, sendo parte naturalmente integrante da psique de alguns
seres humanos. Tanto é natural que é registrado em 450 espécies de animais,
como macacos e pinguins. Não tem nada a ver com influências espirituais
malignas, sendo assim considerado apenas pelos supersticiosos e insensatos. É
algo perfeitamente natural a ser aceito por essa sociedade da era informacional
que ainda tem deficiência em perceber quão nociva é a manutenção de
preconceitos e crendices da Idade do Bronze em pleno século XXI.
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