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Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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sábado, 4 de agosto de 2012

Polêmica sobre o uso de artigo antes de "Mato Grosso", combatido pelos habitantes do estado, reacende debate sobre normativismo

Artigo de estado


Aldo Bizzocchi


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Universidade Federal de Mato Grosso, em Cuiabá: artigo da discórdia

Em abril de 2011, o jornal mato-grossense Folha do Estado publicou reportagem com o título "Você gosta de Mato Grosso?", cujo mote é a seguinte questão: é correto ou não usar artigo definido antes do nome próprio "Mato Grosso"? É que a presença desse artigo incomoda os mato-grossenses, a ponto de um escritor do estado ter mandado fazer adesivos para carro com os dizeres "Quem fala do Mato Grosso não é de Mato Grosso". Será que o sentimento dos mato-grossenses em relação à língua deve ser levado em consideração em questões como essa?
O jornal ouviu a opinião da coordenadora de ensino de graduação em Letras da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), professora mestre Carolina Akie Ochiai Seixas Lima, que, com base na Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla, afirmou: "Quando se usa a expressão 'do mato grosso', isso se refere à quantidade e tipo de mato, se este é grosso ou fino, e não ao Estado". À pergunta se o correto é "as plantações de soja estão no Mato Grosso" ou "estão em Mato Grosso", a coordenadora argumenta: "o no só é utilizado quando você se insere, está dentro de algo, e não em algum lugar. Dessa forma é possível compreender que a expressão correta é 'As plantações de soja estão em Mato Grosso'".

Essa matéria serve bem para mostrar a diferença de postura entre linguistas e gramáticos. A linguística é uma ciência e, como tal, não faz juízos de valor, apenas se atém aos fatos. Para um astrônomo, não há estrelas boas ou más; para um biólogo, nenhum espécime é certo ou errado; um físico observa, descreve e procura explicar fenômenos físicos: não faz sentido, diante de um fato concreto (como o desvio na órbita de um corpo celeste por efeito da gravidade de outro) julgar se isso é bom ou ruim é simplesmente natural.

CiênciaA função da linguística é analisar, descrever e explicar como as pessoas efetivamente falam e por que o fazem deste e não de outro jeito. Da mesma forma como espécimes biológicos não estão certos nem errados, estão apenas mais ou menos adaptados ao seu habitat, uma determinada expressão linguística pode ser mais ou menos adequada ao meio (isto é, às circunstâncias de comunicação). É como escolher uma roupa: nenhum traje é intrinsecamente correto ou incorreto - depende do lugar aonde vamos.

Por outro lado, a gramática não é uma ciência, é (ou deveria ser) uma tecnologia derivada da linguística, cujo objetivo é normatizar uma das formas de uso da língua, a chamada norma culta, um padrão criado artificialmente para ser usado exclusivamente em situações formais, como textos técnicos, acadêmicos, jurídicos e, na maioria das vezes, também jornalísticos (certos cronistas esportivos e policiais têm a "licença poética" de usar um linguajar mais coloquial visando um público mais específico). Aqui surgem dois problemas: primeiro, a gramática normativa diz respeito à comunicação formal; portanto, quando um gramático exige a obediência cega às regras (que, diga-se de passagem, ele mesmo estabelece) numa conversa de bar, está exorbitando de sua função. Em segundo lugar, não há como negar que a comunicação formal necessite de uma normatização, mas esta deveria se dar segundo critérios científicos e com embasamento em fatos e não em opiniões. O problema é que a maioria dos gramáticos legisla sobre o idioma sem
ter legitimidade para isso. Nem receberam mandato popular nem têm qualificação científica para fazê-lo. Seus critérios são subjetivos e calcados em meia dúzia de escritores do passado escolhidos arbitrariamente (cujos exemplos também são pinçados ao arbítrio do gramático: o que não serve para provar sua tese é simplesmente descartado).

GramáticaNo caso em questão, apoia-se a professora da UFMT em Cegalla (um gramático tradicional e não científico) para afirmar que o correto é "de Mato Grosso, em Mato Grosso", e não "do Mato Grosso, no Mato Grosso", pois "do/no mato grosso" se referiria a uma floresta densa e não ao estado brasileiro. Ora, por esse raciocínio, deveríamos dizer "de/em Rio Grande do Sul", "de/em Rio de Janeiro", pois estamos nos referindo a Estados e não a rios! Aí está a típica posição de um gramático leigo em assuntos de ciência da linguagem, o qual baseia seu veredicto em opiniões e não fatos. Uma ciência verdadeira se constrói com fatos observáveis e mensuráveis e não com opiniões, crenças ou ideologias, por mais respeitável que seja quem as emite.

Em resumo, "Mato Grosso" é um desses nomes próprios que admitem ambas as formas, não porque os gramáticos assim o querem, mas porque os falantes assim falam.

Quanto à preferência que os mato-grossenses têm por esta ou aquela forma, é apenas isso: preferência. O que conta para a descrição de um idioma é como as pessoas efetivamente falam e não como algumas pessoas gostariam que as outras falassem. Se a maioria dos brasileiros diz "do/no Mato Grosso" (e isso pode ser verificado estatisticamente), a posição dos próprios mato-grossenses a respeito é minoritária, mesmo que sejam eles os moradores do local. Se quero me referir aos bairros paulistanos de Pinheiros e do Alto de Pinheiros, não preciso consultar os próprios moradores desses bairros para saber como eles desejam que eu diga, basta que eu use uma das duas formas correntes em São Paulo.

FonéticaIsso me lembra a famosa questão sobre a pronúncia de "Roraima": deve-se dizer "Rorâima" ou "Roráima"? Gramáticos sem formação científica que pontificam nos meios de comunicação alegam que deve ser "Roráima" porque é assim que os próprios roraimenses falam. Ora, em português não há oposição fonológica entre "á" e "â", principalmente quando o a vem seguido de fonema nasal, como m ou n. É por essa razão que posso dizer "bânâna" ou "bánâna", "Jáime" ou "Jâime", "páineira" mas "pâina", "plâino" mas "apláinar".

São respostas desse tipo que fazem os gramáticos "tradicionalistas" perderem a credibilidade, pois seu método de análise e julgamento é questionável: criam as próprias regras, em geral com base em critérios pessoais e idiossincráticos; tomam a exceção como regra; fundam essas regras em usos de escritores do passado, especialmente lusitanos, como se a língua de ontem fosse melhor que a de hoje, os portugueses fossem mais sábios que os brasileiros, e o discurso literário (que, por sua própria natureza poética, é mais desvio do que norma) fosse melhor que o jornalístico, o publicitário, o técnico, o coloquial etc. Em igual posição ficam os professores de português que embasam seus argumentos exclusivamente nesses gramáticos e dão as costas para a ciência. Por fim, iniciativas como a do escritor que distribui adesivos podem ser consideradas bairristas e preconceituosas.

Portanto, se os mato-grossenses se sentem melhor dizendo "de/em Mato Grosso", é justo e legítimo que continuem a fazê-lo. Mas daí a dizerem que aqueles que não o fazem estão errados e devem ser repreendidos ou reprimidos por isso vai grande distância.

Quando o artigo tanto faz
Muitos nomes geográficos admitem formas precedidas ou não por artigo definido
- "Saudade de Minas Gerais" x "Saudade das Minas Gerais";


- "O poeta de Alagoas" x "O poeta das Alagoas";

- "O prefeito de Recife" x "O prefeito do Recife";

- Em Portugal, pode-se dizer "na África", "na França" ou "em África", "em França" (os portugueses preferem esse segundo uso);

- Em Belo Horizonte, nomes de bairros como Santo Antônio ou Lourdes se usam tanto precedidos de artigo como não: "Moro em/no Santo Antônio", "Estou vindo de/do Lourdes", e assim por diante;

- Em São Paulo, os bairros de Pinheiros e Perdizes devem seus nomes a dois largos, que admitem ambas as formas: Largo de/dos Pinheiros, Largo de/das Perdizes.

FONTE:

http://revistalingua.uol.com.br/textos/81/artigo-de-estado-262412-1.asp

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