Quem sou eu

Minha foto
Santa Cruz do Capibaribe/ Caruaru, NE/PE, Brazil
Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

SEGUIDORES

quinta-feira, 29 de março de 2012

Maria Gadú volta ao Recife para lançar segundo disco da carreira

Show de 'Mais uma página' será neste sábado (31), no Teatro da UFPE.
Fã assumida de Lenine, a cantora convidou o artista para gravar uma faixa.

Luna Markman Do G1 PE

Maria Gadú (Foto: Divulgação)
"Nesses dois anos, aprendi e desaprendi muita
coisa", comenta Maria Gadú (Foto: Divulgação)

Maria Gadú vem ao Recife, neste sábado (31), focada na divulgação do disco “Mais uma página”, o segundo da carreira. O show ocorre no Teatro da UFPE, às 21h. Mas, se arranjar um tempinho na agenda apertada, vai almoçar no dia seguinte com a família Queiroga, de quem é fã assumida. “Se eu pudesse, tatuava o nome deles”, disse ao G1. De Pernambuco, outro artista que está no coração da cantora paulista é Lenine, que topou cantar uma música no seu novo álbum. “Vai ser uma honra me apresentar na terra dele. Ele é o cara mais f*** do mundo. Além disso, tenho uma galera fã deliciosa aí", revela.

Lenine gravou “Quem?”, composta por Gadú. “Quando eu terminei de escrever, tive a audácia e a cara de pau de convidar ele para cantar. Ele é maravilhoso, fez a canção nascer. Ele não representa apenas Pernambuco, pois não vejo a música dessa forma bairrista. Ele representa a música de uma forma inteira. Cada um contribuiu com a beleza do seu trabalho para o todo”, comentou. A gravação está no set list do show, porém, cantada somente na voz dela.

Além de “Quem?”, o álbum traz mais 13 músicas. Oito são autorais. Outras contaram, pela primeira vez, com a ajuda de parceiros. São eles: Ana Carolina e Chiara Civello (“Reis”), Edu Krieger ("No pé do vento") e o americano Jesse Harris (“Like a rose”). Maycon, tecladista da banda, se junta a Gadú e Jesse na composição de “Long long time”. “É incrível [trabalhar com um parceiro]. Essa experiência foi muito leve. Foram surtos de inspiração que deram na cabeça de duas pessoas. Não houve nada marcado. Com a Ana Carolina mesmo, eu estava na casa dela, conversando e, de repente, vimos que saiu uma música ali”, contou.

O repertório traz as regravações de "Oração ao tempo", de Caetano Veloso, e "Amor de índio", de Beto Guedes e Ronaldo Bastos. Outro amigo que aparece no álbum é Dani Black. Ele mostrou duas composições e a cantora não teve dúvidas: “Linha tênue” e “Axé acapella” entraram no disco. Além de Lenine, outra participação especial é a do português Marco Rodrigues, que gravou “A valsa”, durante turnê da banda em Portugal.

A própria Gadú define este segundo trabalho como um "disco de banda", produzido por Rodrigo Vidal. Ela preparou tudo ao lado de Cesinha (bateria), Fernando Caneca (guitarra e violão tenor), Doga (percussão), Gastão Villeroy (baixo) e Maycon (teclados).

Maria Gadú (Foto: Divulgação)
Maria Gadú com Cesinha, Caneca, Doga, Vileroy e Maycon (Foto: Divulgação)

Com 25 anos e um fôlego juvenil, a artista agora batalha para seguir no caminho revelado em 2009, quando lançou “Maria Gadú” e entrou nas paradas de sucesso com “Shimbalaiê”. Um caminho que parece sem volta. “Nesses dois anos, aprendi e desaprendi muita coisa, porém, continuo um trabalho com as mesmas pessoas, revelando facetas da mesma musicalidade. Mas é claro que a gente nunca dá um passo igual mesmo que seja na mesma direção. Esse disco foi só o congelamento daquele instante musical que a gente estava passando. A cada momento somos diferentes. E agora isso só vai acabar quando eu morrer”, filosofou.

Confira as faixas do CD:
1) No Pé do vento (Edu Krieger / Maria Gadú)
2) Anjo de guarda noturno (Miltinho Edilberto)
3) Taregué (Maria Gadú)
4) Estranho natural (Maria Gadú)
5) Like a rose (Maria Gadú / Jesse Harris)
6) Oração ao tempo (Caetano Veloso)
7) Quem? (Maria Gadú) - Participação especial: Lenine
8) Axé acappella (Dani Black / Luísa Maita)
9) Reis (Maria Gadú / Ana Carolina / Chiara Civello)
10) Linha tênue (Dani Black)
11) Extranjero (Maycon Ananias/ Cassyano Correr)
12) A valsa (Maria Gadú) - Participação especial: Marco Rodrigues
13) Long long time (Maria Gadú / Maycon Ananias / Jesse Harris)
14) Amor de índio (Ronaldo Bastos / Beto Guedes)

Serviço
Maria Gadú - Mais uma página
Teatro da UFPE - Av. dos Reitores, s/n, Cidade Universitária, Recife
Sábado (31), 21h (abertura dos portões às 20h)
Ingressos: R$ 120 (setor plateia inteira) e R$ 60 (setor plateia meia);R$ 100 (setor balcão inteira) e R$ 50 (setor balcão meia), à venda bilheteria do Teatro da UFPE, Esposende dos shoppings Recife e Tacaruna ou através da internet.
Informações: (81) 3207-5757

O PRIMEIRO BEIJO - CLARICE LISPECTOR


O PRIMEIRO BEIJO

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.

E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...

Ele se tornara homem.

(In "Felicidade Clandestina" - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998)

Clarice Lispector

A Secretaria da Mulher de Caruaru realiza mais uma edição do Encontro de Cumadres!






O evento será realizado no Polo Cultural de Caruaru (Estação Ferroviária),
próximo sábado (31),
a partir das 20h
e contará com as atrações:

As Fulô
Afoxé Oyá Alaxé
Rogéria Santtos

Semana Santa em Fazenda Nova com grandes novidades



O efetivo policial será 20% maior em relação a 2011, sendo 370 policiais e 65 bombeiros. Entre as atrações, estão Emílio Santiago, Aviões do Forró, Limão com Mel e a banda baiana Araketu

A Semana Santa em Fazenda Nova, que este ano acontece de 30 de março a 7 de abril, foi lançada na última quarta-feira pela Prefeitura de Brejo da Madre de Deus, durante coletiva realizada na Pousada Rio da Barra. Estiveram presentes ao evento o prefeito Édson Souza, a secretária de Turismo, Alessandra Oliveira; o presidente da Câmara, Wagner Assunção; o presidente da Sociedade Teatral de Fazenda Nova, Robinsom Pacheco, além de vários vereadores e secretários. Este ano, a temporada contará com mais segurança e terá atrações de renome nacional, a exemplo de Araketu e Emílio Santiago.

De acordo com o prefeito Édson Souza, o efetivo policial será 20% maior em relação a 2011, sendo 370 policiais e 65 bombeiros. O local também contará com stands da Delegacia do Turista, Procon, Defensoria, Conselho Tutelar e Juizado da Paixão. Numa parceria entre os governos Municipal e Estadual, também haverá uma área destinada a crianças e portadores de deficiência, bem como uma unidade de pronto-atendimento, com médico e enfermeira. "A cada ano estamos implementando o espaço para oferecer uma grande infraestrutura para atender os milhares de turistas que visitam Fazenda Nova neste período", afirma o prefeito.

Na parte de entretenimento houve algumas mudanças. Na Arena da Paixão, em frente ao teatro, a área da feirinha de artesanato foi ampliada e no palco haverá shows de forró pé-de-serra antes do espetáculo e após, terminando por volta das 21h30. As grandes apresentações acontecerão em um palco montado no centro da vila (ver programação). Outra novidade é que quem for assistir ao drama não mais terá acesso pela lateral. A entrada será pela frente da cidade-teatro. "A nossa expectativa é que este ano a gente possa bater o recorde de público, ultrapassando o número de pessoas do ano passado. Para isso, investimos forte na mídia em quase todo o Nordeste, além de parceria com sites que recebem milhares de visitas em todo o mundo. Também vamos apresentar efeitos especiais que tornarão ainda mais reais as cenas", afirma Robinsom Pacheco.

ELENCO
Este ano, o Cristo do espetáculo da Paixão volta a ser encenado por um pernambucano. Zé Barbosa tem 32 anos e uma carreira que traz trabalhos no teatro e na TV, desde 2009. Ele ocupava a função de substituto dos atores que interpretavam Jesus. Artistas nacionais, como Larissa Maciel (Maria), Caco Ciocler (Judas) e Ellen Roche (Herodíades), também estão escalados para o espetáculo.

Programação
31 de março - Araketu e Cartas de Amor
1º de abril - Aviões do Forró e Savinho do Acordeon
5 de abril - Limão com Mel e Quenga de Coco
6 de abril - Emílio Santiago, André Rio e Valdir Santos
7 de abril - Luís & Davi e Fábio & Nando

Preços dos ingressos da Paixão
30/03 - sexta-feira - R$ 60,00
31/03 - sábado - R$ 90,00
01/04 - domingo - R$ 70,00
02/04 - segunda - R$ 60,00
03/04 - terça - R$ 60,00
04/04 - quarta - R$ 60,00
05/04 - quinta - R$ 70,00
06/04 - sexta - R$ 90,00
07/04 - sábado - R$ 70,00

- Até 3 anos não pagam ingressos (criança de colo)
- De 4 anos a 11 anos pagam meia entrada. Tem que apresentar RG ou Certidão de Nascimento
- A partir de 12 anos pagam valor normal dos ingressos
- A partir de 60 anos pagam meia entrada. Também é necessário apresentar RG ou passaporte
- Todos os estudante portadores de carteira estudantil válidas pagam meia entrada. Necessário a apresentação da carteira de estudante na portaria do teatro
- Guias de turismo e motoristas dos veículos de turismo têm acesso gratuito, devendo apresentar os seguintes documentos: guias de turismo, crachá do Ministério do Turismo/Embratur e apresentação da licença da viagem do DER ou ANTT e carteira de habilitação, respectivamente.
Abertura dos portões ao público: 16h
Início do espetáculo: 18h
Vendas de ingresso em Caruaru: Arturismo (galeria do Grande Hotel)
Saída: ônibus da Caruaruense saem às 15h da Rodoviária de Caruaru e passa pela loja do Sertanejo
Mais informações: (81) 3732-1129

FONTE: http://www.jornalvanguarda.com.br/v2/?pagina=noticias&id=10512

segunda-feira, 26 de março de 2012

Professor Jorge Rodrigues - Saudades


A cidade de Santa Cruz do Capibaribe perdeu um de seus ilustres filhos.
Professor Jorge Rodrigues
Eu particularmente como ex-aluna e também professora, lamento imensamente.

Como meu professor de Língua Portuguesa na escola Padre Zuzinha, foi um dos responsáveis pela minha formação de leitora mais assídua e mais curiosa. Eu o chamava de "JORGE DO AMOR". E ao saber de seu falecimento foi do que me lembrei rapidamente. Emocionei-me!!!

Sem dúvidas uma pessoa iluminada.

Vai aqui a minha solidariedade aos familiares

sábado, 24 de março de 2012

Elis Regina A grande dama da MPB

Elis Regina

Elis Regina.

Considerada, pela crítica e pelos fãs, como a melhor cantora brasileira de todos os tempos, Elis era dona de uma voz sem igual: afinadíssima, tinha um timbre potente e era capaz de mudar de tom, passar de um agudo para um grave, sem falhas.

Também era uma bela intérprete, com alta dramaticidade. Conseguia, em uma mesma canção, mudanças impressionantes no estado de espírito: ia da melancolia à extrema felicidade num piscar de olhos. Dona de um temperamento forte, às vezes difícil, era ao mesmo tempo uma amiga carinhosa e uma pessoa muito generosa, visto que ajudou a lançar e a revelar vários talentos da música brasileira.

Elis morreu em 1982 de forma fatídica: overdose. Com 36 anos, não teve tempo de dizer adeus aos seus milhares de fãs. Os refletores que sempre brilhavam e despontavam-na como uma deusa dos palcos, enfim, apagaram-se. Metade de sua vida passou dentro dos estúdios, gravando discos o que, indubitavelmente, enriqueceu o acervo musical e cultural do país. Participam deste episódio, os músicos Jair Rodrigues e João Bosco, e a biógrafa Regina Echeverria.

“Numa tarde morna à beira da piscina de sua casa da Cantareira, Elis e eu conversamos longamente sobre a vida e o futuro. Combinamos ali que eu poderia escrever, algum dia, um livro sobre ela. (…) Afinal, resolvi contar a história de uma pessoa controvertida, uma mulher para quem a vida estava dividida em oito ou oitenta, amor ou ódio.” (Regina Echeverria em Furacão Elis)

Programação da Semana Santa de Caruaru 2012 - "Caruaru Parada Obrigatória"





A partir do dia 31 de março, Caruaru começa a viver o clima do evento “Caruaru Parada Obrigatória” realizado no período da Semana Santa. A programação que inclui roteiros culturais pela Feira de Artesanato, museus e ateliês do Alto do Moura, encenações da Paixão de Cristo e shows musicais.

A grade de shows foi montada totalmente com artistas locais, com o objetivo de prestigiá-los tendo Alceu Valença e Junio Barreto como nomes de peso nacional. Dois momentos inéditos estão reservados para a data, um deles será a homenagem aos 40 anos de carreira do pernambucano Alceu Valença e o primeiro grande show do caruaruense Junio Barreto desde que estourou como grande nome da MPB.

O “Caruaru Parada Obrigatória” foi criado desde 2009 com a intenção de movimentar a cena cultural da cidade e atrair os turistas de passagem para Fazenda Nova, para o espetáculo da paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Em sua quarta edição, o evento se consolida como um dos roteiros mais procurados do país neste período. De acordo com a Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru a expectativa é de atrair em torno de 500 visitantes.

Programação nos Polos

A programação segue o modelo criado desde 2009 que inclui apresentações de trios de forró pé de serra, bandas de pífanos, cantores e bandas de forró durante o dia na Feira de Artesanato e no Alto do Moura para recepcionar os turistas que passam pelos dois locais.

Durante a noite, o foco são os shows na Estação Ferroviária, apresentações da Paixão de Cristo tanto no Alto do Moura, quanto na Estação e diversas opções como exposição fotográfica, salão das artes, apresentações de corais. Uma novidade será a inclusão de um Polo no Monte Bom Jesus.

O local irá receber uma ornamentação com obras de arte feita por artesãos locais com mesa, bonecos e utensílios da mesa em tamanhos gigantes para compor a cena da “Santa Ceia” para a “Festa da Partilha dos Pães” realizada pela igreja católica. Os pães decorativos serão fornecidos pela associação de panificadoras da cidade.

Na Feira de Artesanato a programação tem início no próximo sábado, 31, das 11h às 16h e segue até o dia 07, sendo o último dia dedicado ao evento “Moda na Feira”. O desfile será realizado, às 11h, na área do estacionamento com modelos utilizando confecções e acessórios comercializados na própria feira.

No Alto do Moura, bandas de pífanos irão recepcionar os turistas que visitam a Casa-Museu Mestre Vitalino entre os dias 05 e 07 de abril. No mesmo período, a Estação Ferroviária abrigará os shows de artistas locais, conforme programação abaixo.

Programação – Polo Estação Ferroviária


04/04 – Quarta

20h – Coral da Faculdade ASCES Caruaru

22h – Grupo de Dança do Estúdio de Dança Sinara Kataline

00h – Forro Zuar


05/04 – Quinta

20h – Daniel Finizola

22h – Tony Maciel

00h – Sangue de Barro


06/04 – Sexta

19h – Coral Madrigal

20h – Rogéria

22h – Isabella Morais

00h – Junio Barreto


07/04 – Sábado

20h – Almério

22h – Valdir Santos e Erisson Porto

00h – Alceu Valença

Abertura da 3ª Semana de Fotografia de Caruaru
Dia: Quarta-feira – 04/04
Hora: 20h
Local: Polo da Estação Ferroviária

Stand Promocional da Associação das Comidas Gigantes de Caruaru
Dia: Quarta – 04/04 e sábado – 07/04
Horário: 20h
Local: Polo da Estação Ferroviária

Salão das Artes
Dia: 04/04 (Quarta) a 07/04 (Sábado)
Hora: 20h
Local: Polo da Estação Ferroviária

Feira de Artes da Estação Ferroviária


Comercialização de produtos artesanais
Dia: 04/04 (Quarta) a 07/04 (Sábado)
Horário: 20h
Local: Polo da Estação Ferroviária

Espetáculo Cânticos da Paixão
Dia: 05/04 (Quinta) e 06/04 (Sexta)
Horário: 20h
Local: Pátio da 22ª CSM, Rua Belmiro Pereira, S/N

Programação – Polo da Feira de Artesanato

Palco 1 ( Próximo ao Centro de Informações Turísticas)

31/03- Sábado

11h – Walmir Silva

13h – Renilda Cardoso

01/04 – Domingo

11h – Floro Jr

13h – Domingos Aciolly

02/04 – Segunda

11h – Regis Pietro

13h – Jó Caruaru

03/04 – Terça

11h – Tome Forró

13 – Banda Matutos do Forro

04/04 – Quarta

11h – Jucélio Vilela

13h – Banda Cheiro de Sanfona

05/04 – Quinta

11h – Banda Boneco de Barro

13h – Ivan Show

06/04 – Sexta

11h – Totonho

13h – Banda Fogo e Forro

07/04 – Sábado

11h – Renovação Nordestina

13h – Forro Quentão


Palco 2 (próximo aos restaurantes da Feira de Artesanato)

31/03 – Sábado

11h – Trio Santa Rosa

13h – Banda de Pífanos Alvorada

01/04 – Domingo

11h – Trio Café com Leite

13h – Banda de Pífanos Princesa do Agreste

04/04 – Quarta

10h – Trio Erivaldo Silva

13h – Banda de Pífano Dois Irmãos

05/04 – Quinta

10h – Trio Chamego Bom

13h – Banda de Pífanos Cultural

06/04 – Sexta

10h – Trio Alecrim

13h – Banda de Pífanos Alvorada

07/04 – Sábado

10h – Trio Remelexo


13h – Banda de Pífanos Tradição de Caruaru


Moda na Feira
Dia: sábado ( 07/04)
hora: 11h
local: Estacionamento da Feira de Artesanato

Programação – Polo Alto do Moura


Casa-Museu Mestre Vitalino

Dia: Quinta –feira 05/04
Hora: 13h – Banda de Pífanos Princesa do Agreste

Dia: Sexta-feira 06/04
Hora: 13h – Banda de Pífanos Flor de Taquary

Dia: Sábado 07/04
13h – Banda de Pífanos Tradição

Espetáculo da Paixão de Cristo
Data: Sexta – 06/04 (Sexta) e Sábado 07/04
Horário: 20h
Local: Praça Mestre Vitalino – Alto do Moura

Polo Monte Bom Jesus

Dia: 03/04 – terça -feira
16h – Orquestra de Violinos
16h30 – Coral Madrigal
18h – Festa da Partilha dos Pães
Cenário Gigante – Tema: Ceia Larga
Artista Plástico (Ubiratan Lambert)

Dia: 06/04 – sexta-feira
5h – GEDAC – Grupo de Teatro da Catedral Nossa Senhora das Dores, com á
apresentação da Paixão de Cristo


FONTE: caruaru.pe.gov.br

Dobradinha: Jorge Vercillo e Vanessa da Mata dividem público em Caruaru





Uma dobradinha de dois grandes cantores da MPB da atualidade deve agitar show em Caruaru, no Agreste de Pernambuco. Jorge Vercillo e Vanessa da Mata aportam na cidade no dia 28 de abril trazendo seus novos trabalhos.

Jorge Vercillo apresentará o show ‘Como diria Blavatsky', que reunirá seus maiores sucessos e as músicas novas, a exemplo das intituladas ‘Sensível Demais' e ‘Memória do Prazer'.

Vanessa da Mata também fará uma apresentação baseada no seu último CD, chamado ‘Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias'. No repertório, além das novas canções como ‘O Tal Casal', o público vai conferir os hits ‘Ai Ai Ai', ‘Boa Sorte' e ‘Não Me Deixe Só.

Na noite do dia 27 de abril, os dois também dividirão público no Chevrolet Hall, em Olinda, na região metropolitana de Pernambuco. O local do show em Caruaru e os valores dos ingressos ainda não foram divulgados.

Foto: Internet
Manoel Segundo da redação Caruaru360Graus

http://www.caruaru360graus.com.br/portal/noticias/1870

quinta-feira, 22 de março de 2012

22 de MARÇO Dia Mundial da Água


dia mundial da água
Água: um bem natural que deve ser preservado

História do Dia Mundial da Água

O Dia Mundial da Água foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) no dia 22 de março de 1992. O dia 22 de março, de cada ano, é destinado a discussão sobre os diversos temas relacionadas a este importante bem natural.

Mas porque a ONU se preocupou com a água se sabemos que dois terços do planeta Terra é formado por este precioso líquido? A razão é que pouca quantidade, cerca de 0,008 %, do total da água do nosso planeta é potável (própria para o consumo). E como sabemos, grande parte das fontes desta água (rios, lagos e represas) esta sendo contaminada, poluída e degradada pela ação predatória do homem. Esta situação é preocupante, pois poderá faltar, num futuro próximo, água para o consumo de grande parte da população mundial. Pensando nisso, foi instituído o Dia Mundial da Água, cujo objetivo principal é criar um momento de reflexão, análise, conscientização e elaboração de medidas práticas para resolver tal problema.

No dia 22 de março de 1992, a ONU também divulgou um importante documento: a “Declaração Universal dos Direitos da Água” (leia abaixo). Este texto apresenta uma série de medidas, sugestões e informações que servem para despertar a consciência ecológica da população e dos governantes para a questão da água.

Mas como devemos comemorar esta importante data? Não só neste dia, mas também nos outros 364 dias do ano, precisamos tomar atitudes em nosso dia-a-dia que colaborem para a preservação e economia deste bem natural. Sugestões não faltam: não jogar lixo nos rios e lagos; economizar água nas atividades cotidianas (banho, escovação de dentes, lavagem de louças etc); reutilizar a água em diversas situações; respeitar as regiões de mananciais e divulgar idéias ecológicas para amigos, parentes e outras pessoas.

Declaração Universal dos Direitos da Água

Art. 1º - A água faz parte do patrimônio do planeta.Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.

Art. 2º - A água é a seiva do nosso planeta.Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do Art. 3 º da Declaração dos Direitos do Homem.

Art. 3º - Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.

Art. 4º - O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.

Art. 5º - A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.

Art. 6º - A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.

Art. 7º - A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.

Art. 8º - A utilização da água implica no respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.

Art. 9º - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.

Art. 10º - O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

Tratamento correto do lixo domiciliar pode gerar US$ 10 bilhões por ano ao Brasil

O lixo domiciliar, se tivesse tratamento adequado, poderia gerar recursos da ordem de US$ 10 bilhões ao Brasil por ano, dinheiro suficiente para beneficiar a população brasileira com cestas básicas e um plano habitacional. A estimativa é do economista Sabetai Calderoni, presidente do Instituto Brasil Ambiente e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável. Calderoni acredita que o país vai conseguir captar cerca de 80% desse valor em cinco a dez anos.

Para o economista, o “processo social de amadurecimento” que o país viveu nos últimos anos pode, com a implantação da atual Política Nacional de Resíduos Sólidos, que estabelece, por exemplo, o fim dos lixões e a logística de retorno de embalagens e produtos usados, aumentar ainda mais os ganhos com a reciclagem de lixo no país.

“A gente gasta muito menos energia, por exemplo, quando usa sucata ao em vez de usar a matéria prima virgem. É o caso da latinha de alumínio, em que eu economizo 95% da energia. Da mesma forma, economizo minha matéria prima que é a bauxita (gasta-se 5 toneladas de bauxita para produção de 1 tonelada de alumínio), e ainda economizo água”, disse Calderoni.

Na mesma conta, o economista ainda considera o pagamento feito pelas prefeituras aos aterros, que recebem e enterram os resíduos, além dos gastos com o transporte desse material e a perda dos ganhos que a reciclagem poderia gerar.

Tanto o lixo domiciliar, quanto o entulho, produzido pelaconstrução civil, por exemplo, poderiam ser tratados pela sistemática das centrais de reciclagem, modelo proposto por Calderoni para aumentar a lucratividade com a reciclagem de lixo no país.

Para contornar custos das prefeituras com a implantação dessas unidades, a solução apontada pelo economista é a parceria com empresas. “Se fosse apenas um custo proibitivo e não valesse a pena, os empresários não teriam interesse em participar”, declarou.

Mais de 150 municípios já implantaram centrais que, segundo ele, derruba, na prática, argumentos que colocam o investimento necessário para a reciclagem como o empecilho. “Caro é pegar matéria-prima, chamar de lixo, pagar caro para transportar o lixo e gastar dinheiro para alguém receber e enterrar. É não entender que o que você está chamando de lixo é um conjunto de matéria-prima preciosa”, disse Calderoni.

Restos do Carnaval (Conto da obra Felicidade clandestina), de Clarice Lispector

Restos do carnaval, de Clarice Lispector




Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartasfeiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa ia se aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.

No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança- e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.

E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.

Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça – eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável – e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.

Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.

Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga – talvez atendendo a meu apelo mudo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel – resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.

Até os preparativos já me deixavam tonta de . Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas – à idéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos
nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha – mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quanto ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho, que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.

Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.

Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge – minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa – mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil – fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.

Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.

Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos, já lisos, de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.

publicado no Felicidade Clandestina, Ed. Rocco


: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/coletaneas/restos-carnaval-544941.shtml

Análise:
Em “Restos do Carnaval” o procedimento narrativo é o mesmo que em "Felicidade Clandestina": a escritora adulta rememora um episódio da sua infância passada nas ruas e praças de Recife, que encontravam “sua razão de ser” no Carnaval. O episódio tem uma carga emocional muito forte, porque expressa o conflito vivido pela menina pequena, cercada pela alegria da festa alheia, a festa de rua, a festa de todos, a festa em si mesma, e o peso de um drama familiar, nota destoante de uma tragédia íntima, ameaçadora e terrível para qualquer criança: a doença da mãe, que piora nesta data, e que depois viria a falecer. O contraste é gritante, e aparece até no título: “restos”. Restos de um carnaval que, por qualquer motivo, a escritora relembra como “as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete”, e que vem a se tornar alegoria de outras situações semelhantes na vida, quando a própria vida em festa parece rir, cruelmente, do seu luto pessoal.

A história, porém, não ocorre numa quarta-feira. O carnaval está apenas começando. A atenção da família se concentrava na doença da mãe; por isso, se permitia pouca participação da menina na folia: ficava até onze horas da noite, ao pé da escada do sobrado onde morava, olhando os outros se divertirem. Passava o carnaval inteiro economizando o lança-perfume e o saco de confetes que ganhava. Ela não se fantasiava; porém, cheia de felicidade, se assustava com os mascarados e até conversava com alguns deles.

Aos oito anos, houve um carnaval diferente. A mãe de uma amiguinha fantasiou a filha de rosa, usando papel crepom; com as sobras, fez a mesma fantasia para ela. Os cabelos ficariam enrolados e lhe passariam baton e rouge.

Desde cedo, ela viveu a expectativa do momento de vestir a fantasia; a euforia era tanta que até superou o orgulho ferido de ganhar um presente porque sobrou papel.

Toda a dor que a autora adulta revela pela consciência do contraste irônico da situação, para ela imperdoável (“Muitas coisas que me aconteceram tão piores que esta, eu já perdoei. No entanto esta não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso”), inexiste na atitude da criança descrita. Completamente alheia, ou alheando-se inconscientemente do seu drama pessoal, a menina não pensa na mãe a sofrer. Não pensa na morte que se aproxima, e a agitação da família em torno da mãe doente é ignorada em função da fantasia. A fantasia real, a roupa de papel crepom cor-de-rosa, que pretendia imitar as pétalas de uma flor; e a fantasia abstrata, a realização de um sonho: “pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma”, que revela o desejo de fuga daquela situação angustiante demais para ser apreendida pela criança, e talvez da própria vida real, sentida em seu limite e estreiteza.

O clímax do conto acontece em meio à agitação da menina que, preparada para a festa, é enviada depressa à farmácia para comprar remédio para a mãe, que sofre uma súbita piora.

Ela vai, correndo, mas acompanhada de muda revolta e indignação pela coincidência da tragédia que se atravessa no caminho da sua alegria, sentimentos que perduram para além da infância, sobrevivendo no espírito da mulher adulta que relembra o fato. Nenhuma palavra de simpatia, preocupação ou dor é proferida com relação à mãe, nem mesmo pela adulta que a rememora. Clarice menciona apenas a lembrança de algum remorso da menina pela sua “fome de êxtase”, que ameaçava voltar em meio à festa da qual se sentia impedida de participar. De maneira algo egoísta, o que dói é a quebra da magia da criança, que começava a se acreditar uma Rosa, satisfazendo seu “sonho intenso de ser uma moça”. O que dói é a súbita deserotização da menina, que finalmente teria realizado o seu sonho de transformação em mulher, com a inesperada roupa que completaria a pintura forte nos lábios, o ruge nas faces e os cabelos frisados pela irmã, a seu pedido, nos outros Carnavais. O que dói, e o que a faz relembrar este episódio, é o desencanto vivido: “não era mais uma Rosa, era um palhaço pensativo de lábios encarnados”.

Mais tarde, acalmada a crise da mãe, ela saiu com a fantasia completa, contudo o encantamento já não existia mais. Como poderia ela se divertir, se a mãe estava mal?

O “final feliz” surge como um anti-clímax, aí colocado para impedir, talvez, que a condenação da mãe doente pela criança frustrada em seus desejos apareça como o único desfecho cruel dessa história. Daí a menção ao menino de doze anos, que cobre de confete os cabelos “já lisos” da menina, fazendo-a sentir-se, por um instante neste dia horrível, uma “mulherzinha” de oito anos: uma Rosa.

FONTE:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/r/restos_do_carnaval_conto_clarice

quarta-feira, 21 de março de 2012

Simpósio Hipertexto e Tecnologias inscreve para apresentação de trabalhos


A quarta edição do Simpósio Hipertexto e Tecnologias na Educação, que terá como principal tema “Comunidades e Aprendizagem em Rede”, inscreve para apresentação de trabalhos. O evento, que é bienal, acontecerá entre os dias 3 e 15 de novembro deste ano no Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), será composto por conferências, mesas-redondas e as sessões de comunicação e pôsteres digitais. Também estão programados lançamentos de livros e atividades multiculturais.

Entre os objetivos do simpósio está a apresentação de pesquisas empreendidas em diferentes áreas do conhecimento científico, sendo eixo central dos debates a relação entre Hipertexto e Educação. As inscrições para apresentação de trabalhos podem ser realizada no site hipertexto2012.com.br.

O simpósio é promovido pelo Núcleo de Estudos em Hipertexto e Tecnologias na Educação da UFPE (Nehte) e o Grupo Ciências Cognitivas e Tecnologia Educacional (CCTE/UFPE).

Confira a programação provisória:

13/11/2012
16h às 18h – Entrega de material no hall do Centro de Convenções da UFPE
19h – Cerimônia de Abertura – Mesa com autoridades acadêmicas
19h30 – Conferência de Abertura – João Mattar (Universidade Anhembi Morumbi)
20h30 – Coquetel e lançamento de livros

14/11/2012
8h30 – 10h30 – Sessões de Comunicação
10h30 – 11h – Intervalo para café e visita à feira de livros
11h – 12h15 – Conferência – Profa. Dra. Lúcia Santaella (PUC/SP)
12h15 – 13h30 – Almoço
13h30 – 15h30 – Mesas-redondas
16h – 16h30 – Intervalo para café e visita à feira de livros
16h30 – 17h45 – Prof. Dr. Imad Saleh (Paris 8/França)
18h – 19h30 – Oficinas

15/11/2012

8h30 – 10h30 – Sessões de Comunicação Mini-curso
10h30 – 11h – Intervalo para café e visita à feira de livros
11h – 12h15 – Conferência – Prof. Dr. Philipe Bootz (Paris 8/França)
12h15 – 13h30 – Almoço
13h30 – 15h30 – Mesas-redondas
16h – 16h30 – Intervalo para café e visita à feira de livros
16h30 – 17h45 – Conferência – Prof. Dr. Romero Tori (USP)
18h – 19h30 – Oficinas

Outras informações: simposiohipertexto@gmail.com ou www.hipertexto2012.com.br


sábado, 17 de março de 2012

OLIMPÍADA DA LÍNGUA PORTUGUESA - 2012


Nossa Olimpíada vai começar!


Um dos maiores projetos educacionais do país a trabalhar com ensino de leitura e escrita em escolas públicas, a Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro chega à sua terceira edição em 2012. O lançamento nacional vai acontecer em São Paulo no dia 19 de março, onde também acontece a primeira reunião técnica com representantes do MEC, Fundação Itaú Social, Cenpec, Undime e Consed. Ainda ocorrerão lançamentos regionais e outras seis reuniões como essa nas cidades de Goiânia (30/03), Curitiba (03/04), Belo Horizonte (10/04), Fortaleza (13/04), Salvador (18/04) e Belém (24/04).

A Olimpíada está dividida em sete polos. O primeiro reúne os Estados da região Norte do país: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins; outro polo engloba os Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal. A região Nordeste está dividida em dois polos: Ceará, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte formam o primeiro; Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe, o segundo. O Sudeste também se divide em dois: um polo abriga só os estudantes e professores do Estado de São Paulo e o outro reúne Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Por fim, o sétimo polo é formado pelos Estados do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

Adesão, inscrições e seleção de textos serão feitas pela internet

Com metodologia de trabalho articulada aos conteúdos previstos nos programas oficiais, o projeto é mais que um concurso de textos, já que realiza ações de formação de professores para atividades com gêneros de escrita. Uma das principais novidades para este ano é que todo o processo de inscrição, envio e seleção de textos, em todas as etapas, será feito pela página da Comunidade Virtual Escrevendo o Futuro. Mesmo professores que participaram de edições anteriores e que já estejam cadastrados na CV deverão fazer sua inscrição. Ela começa no 19 de março e prossegue até 25 de maio. Mas para que o professor possa participar do concurso, mesmo que tenha se inscrito, é preciso antes que a secretaria estadual ou municipal de Educação – dependendo da rede à qual esteja vinculado - faça a adesão ao projeto. Isso também deverá ser feito no mesmo período de inscrição.

Qualquer professor de língua portuguesa que esteja lecionando em escola pública brasileira em 2012 – seja ela mantida pelo governo federal, estadual ou municipal - pode participar. Ao realizar a inscrição aqui na CV, o professor estará automaticamente cadastrado na Comunidade Virtual, tendo acesso às coleções didáticas da Olimpíada – livros de orientação, coletâneas de textos e CDs - desenvolvidas especialmente para o projeto. Ele também poderá participar de cursos de formação on line via internet, além de começar a receber a revista Na Ponta do Lápis, uma publicação periódica com artigos, entrevistas, textos literários, análise de produção de alunos e relatos de prática docente.

A Olimpíada trabalha com um gênero específico e apropriado para cada série: Poema com 5º e 6º anos (ou 4ª e 5ª séries) do Ensino Fundamental; Memórias com 7º e 8º anos (ou 6ª e 7ª séries) do Ensino Fundamental; Crônica com 9º- ano (8ª série) do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio; Artigo de opinião com 2º e 3º anos do Ensino Médio. Em 2010, o projeto superou a marca de 7 milhões de alunos da educação básica e de 239 mil professores participantes em mais de 60 mil escolas públicas.

Veja o cronograma da Olimpíada 2012

19/3 - Lançamento nacional em São Paulo
19/3 a 24/4 - Lançamentos regionais: Belém, Goiânia, Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza e Salvador
19/3 a 25/5 - Inscrição do professor e adesão das secretarias de Educação
19/3 a 3/9 - Oficinas nas escolas
3/9 a 5/9 - Comissão Julgadora Escolar
Setembro - Comissão Julgadora Municipal
Setembro / Outubro - Comissão Julgadora Estadual
Novembro - Encontros regionais
Dezembro - Comissão Julgadora Nacional e Encontro Nacional

FONTE: http://escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&view=article&id=25917:nossa-olimpiada-vai-comecar&catid=178:2012&Itemid=815

LIXO - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO



De repente me deu uma saudade de minha adolescência, da primeira vez que li esse autor maravilhoso. Um dos textos sem dúvida que mais gostei e continuo gostando é esse. Então partilho com vocês.

Um ótimo fim de semana

LIXO

(LUIS FERNANDO VERÍSSIMO)

Encontram-se na área de serviço. Cada um com o seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.

- Bom dia.

- Bom dia.

- A senhora é do 610.

- E o senhor do 612.

- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...

- Pois é ... - Desculpe a minha indiscrição, mastenho visto o seu lixo ...

- O meu quê?

- O seu lixo.

- Ah...

- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena.

- Na verdade sou só eu.

- Humm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.

- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar .

- Entendo.

- A senhora também .

- Me chama de você.

- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim.

- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas como moro sozinha, às vezes sobra.

- A senhora... Você não tem família?

- Tenho, mas não aqui.

- No Espírito Santo.

- Como é que você sabe?

- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.

- É. Mamãe escreve todas as semanas.

- Ela é professora?

- Isso é incrível! Como você adivinhou?

- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.

- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.

- Pois é ...

- No outro dia, tinha um envelope de telegrama amassado.

- É.

- Más notícias?

- Meu pai. Morreu.

- Sinto muito.

- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.

- Foi por isso que você recomeçou a fumar?

- Como é que você sabe?

- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.

- É verdade. Mas consegui parar outra vez.

- Eu, graças a Deus, nunca fumei.

- Eu sei, mas tenho visto uns vidrinhos de comprimidos no seu lixo...

- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.

- Você brigou com o namorado, certo?

- Isso você também descobriu no lixo?

- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.

- É, chorei bastante, mas já passou.

- Mas hoje ainda tem uns lencinhos.

- É que estou com um pouco de coriza.

- Ah.

- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.

- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.

- Namorada?

- Não.

- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.

- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.

- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.

- Você está analisando o meu lixo!

- Não posso negar que o seu lixo me interessou.

- Engraçado. Quando examinei o seu lixo,decidi que gostaria de conhecê-la . Acho que foi a poesia.

- Não! Você viu meus poemas?

- Vi e gostei muito.

- Mas são muito ruins!

- Se você achasse eles ruins mesmos, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.

- Se eu soubesse que você ia ler ...

- Só não fiquei com ele porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?

- Acho que não. Lixo é domínio público.

- Você tem razão. Através dos lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos
outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?

- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...

- Ontem, no seu lixo.

- O quê?

- Me enganei, ou eram cascas de camarão?

- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.

- Eu adoro camarão.

- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode... Jantar juntos?

- É. Não quero dar trabalho.

- Trabalho nenhum.

- Vai sujar a sua cozinha.

- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.

- No seu lixo ou no meu...

CLARICE LISPECTOR - UMA ESCRITORA CADA VEZ MAIS POPULAR

ASSISTA AO VÍDEO

http://g1.globo.com/globo-news/literatura/videos/t/todos-os-videos/v/clarice-lispector-e-uma-escritora-cada-vez-mais-popular/1726358/

SITE DA GLOBO NEWS

Pernambuco será sede do congresso nacional de EAD



Da redação do jornalextra.com.br

Pernambuco vai sediar o mais importante congresso de Ensino a Distância (EAD) em educação superior do país. O IX Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância acontece da próxima segunda (19) até a quinta-feira (22), em município ainda a ser definido, com o tema “Educação a distância: semeando cidadania

O encontro é realizado anualmente pela UniRede – Universidade Virtual Pública do Brasil, uma rede de instituições públicas do ensino superior voltadas para a EAD. A edição local será promovida em parceria com a UFPE, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE).

O evento é voltado para quem pesquisa, estuda e trabalha com o assunto, ou seja, não apenas para professores, mas também para funcionários (como webdesigners) e estudantes. O foco é promover um evento científico com troca de experiências.

“Preguiça e ócio contradizem a lógica do acúmulo”


Escrito por Gianni Paula de Melo

Muito se fala sobre a preguiça, mas, como ocorre a vários verbetes, no uso cotidiano, nunca sabemos se estamos nos referindo ao mesmo conceito, partilhando a mesma ideia. Preguiça é não fazer nada, não produzir? Rende ou não rende frutos? Coincide com ócio? É benéfica ou é “pecado”? Em 2011, no evento Mutações, organizado por Adauto Novaes, a professora de Filosofia da Universidade de São Paulo, Olgária Matos, apresentou uma reflexão sobre o campo conceitual em que se inscreve a preguiça hoje. Olgária, que também assina o prefácio do livro O direito à preguiça, de Paul Lafargue, conversou com a revista Continente sobre a experiência e o uso desacelerado do tempo, e sua aparente incompatibilidade com a sociedade contemporânea.


CONTINENTE Na perspectiva filosófica, como diferenciaríamos preguiça de ócio?
OLGÁRIA MATOS A preguiça – a priguizia latina –, em seu sentido primordial, diz respeito ao tempo lento, contrário à pressa ou a urgências, como se o presente vivido coincidisse consigo mesmo, um tempo em que qualquer alteração significaria uma perda desse estado de plenitude já realizada. É um tempo também dos retardamentos e da não ação, mais próximo da contemplação, que é a forma suprema da atenção. O ócio, a scholé, era uma temporalidade dedicada “àquelas coisas que merecem que se dedique o tempo”. Por uma miraculosa evolução, veio a significar “escola”, o tempo voltado para a formação do espírito, para os “cuidados de si” com vistas à virtude e à felicidade, à busca da harmonia consigo mesmo e da concórdia na cidade. A preguiça como condenável só veio a ser comparada ao seu simétrico oposto, a atividade desmedida, com o advento da “ética protestante e do espírito do capitalismo” que, em sua fase atual, se realizou com a universalização da ética do novo-rico, para a qual “tempo é dinheiro”, entendido como valor supremo. O novo-rico é aquele que conhece o preço de todas as coisas, mas desconhece o seu valor. Preguiça e ócio, bem como seus corolários, que são todos os saberes não vinculados a resultados materiais – as “humanidades” –, são proscritos. Preguiça e ócio contradizem a lógica do acúmulo, acréscimo e reposição do capital e do mercado consumidor, ligados à aceleração e ao não pensamento.


CONTINENTE Em que aspectos a experiência do tédio se aproxima ou se afasta das duas citadas anteriormente?
OLGÁRIA MATOS O tédio – o ennui baudelairiano – é a experiência de um tempo que se arrasta, herdeiro da acídia medieval (a “tristeza do coração” ou o “coração pesado” e “maus pensamentos”), quando o anacoreta solitário, nos desertos de Alexandria, nos quais buscava a ascese até Deus, calcinava ao sol e o dia lhe parecia insuportavelmente longo. O tédio é o desgosto de existir, que traz consigo o sentimento da perda do sentido das coisas e do passado, dos valores estimados que fazem do presente um tempo de planura, prosaico e sem maravilhamento. Mas o tédio baudelairiano é, simultaneamente, um contato com a interioridade de um sujeito e a consciência de um mundo esvaziado de sentido, porém, que exige do spleenático criação contínua. Não por acaso, Baudelaire escreve um livro cujo título é Spleen et idéal. Pelo spleen (palavra inglesa que significa tédio), o sujeito fica prisioneiro do passado, experimentando um luto do impossível, pelo qual ele sonha o futuro, vivendo esse conflito de que nasce a criação.


Leia a matéria na íntegra na edição 135 da Revista Continente.

O que aprendemos com nossos primos e avós (Dica de Livro)

O que aprendemos com nossos primos e avós

Escrito por Pedro Paz

alt

O percurso natural da vida possibilita que nos emocionemos com a memória de tempos longínquos. Difícil mesmo é avançar em épocas cuja cognição se mostra incapaz de entendê-las. Durante a infância, nossas principais experiências são vivenciadas na companhia de familiares: primos, por comumente serem da mesma geração, e avós, pelo ócio simbólico da idade. Ao simpatizar-se pelo “limiar de excitação” entre a literatura para crianças e adultos, a escritora mineira Bruna Piantini lançou o seu terceiro livro, o infanto-juvenil O siri e a sombrinha, baseado nas suas lembranças pueris. Nele, a autora explora uma história de amor entre uma simpática guarda-chuva e um crustáceo, por meio de uma narrativa característica do gênero literário realismo mágico.


Apesar de ser uma escritora iniciante, Bruna parece se destacar não só pelas escolhas estéticas dos seus trabalhos, mas também por estudar a ciência do literato e se preocupar com os seus leitores. Em O siri e asombrinha, a autora mostra que entende do gênero com que se comprometeu na medida que a presença sensorial infantil é colocada em prática, como parte da percepção da realidade das personagens. Da mesma forma que a narrativa é marcada pela não-linearidade do cotidiano, transformado numa vivência que inclui experiências forado comum. As ilustrações de Rita Brás, por meio de colagens, representam bem esta ficção dividida em oito partes, num intervalo de tempo entre duas sexta-feiras. No posfacio, há breves explicações sobre os nomes citados durante obra, entre eles o compositor Georges Bizet ou o livro raro Le Petit Prince.


A ideia da história foi impulsionada a partir de uma viagem de Bruna à Bahia, que lhe proporcionou a maioria dos elementos que compõem o enredo do livro. Ele começou a ser escrito no início de 2008, mas só foi lançado três anos depois, por causa da escolha minuciosa da ilustração, projeto gráfico, site e divulgação do produto final. O siri e a sombrinha é subsidiado pela Lei Rouanet. Bruna Piantini assina também o livro-objeto Bastão (Boca de Lobo), é poeta convidada da antologia O Achamento de Portugal e autora do livro de poesias "breus" (Anome Livros). Possui poemas traduzidos para o espanhol e o mandarim, vídeo-poemas publicados na internet e participação em revistas, jornais e sites literários.

alt

Do site da Revista Continente Multicultural

sexta-feira, 16 de março de 2012

Viva Elis - Homenagem à Elis Regina

Viva Elis


ÚNICOS CINCO SHOWS DO “VIVA ELIS”
Todos os shows são gratuitos / Confirmados pelo site oficial maria.rita.com

  • 24 de março – Porto Alegre

Local: Anfiteatro Pôr-do-Sol – Av. Edwaldo Pereira Paiva, s/n. Parque Maurício Sirotsky Sobrinho – Praia de Belas – 16h

  • 01 de Abril – Recife

Local: Parque Dona Lindu – Praia de Boa Viagem (acesso principal) – Boa Viagem – 16h

  • 08 de Abril – Belo Horizonte

Local: Parque das Mangabeiras – Rua Caraça, 900 (acesso principal) – Mangabeiras – 16h

  • 22 de Abril – São Paulo

Local: Auditório do Ibirapuera – Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n. – Moema – 11h

  • 29 de Abril – Rio de Janeiro

Local: Aterro do Flamengo – R. Buarque de Macedo, s/n. – Flamengo – 16h

Banda:

Thiago Costa (piano e teclado)

Sylvinho Mazzucca (baixo acústico e elétrico)

Davi Moraes (guitarra)

Cuca Teixeira (bateria)

Com o objetivo de promover a cultura brasileira e em sinergia com alguns dos principais valores da marca, como tradição, família e feminilidade, a NIVEA anuncia patrocínio ao projeto Viva Elis em 2012.

Homenagem especial à Elis Regina, a iniciativa envolve auxílio à exposição multimídia itinerante pelo País, também com documentário sobre a vida e a obra da diva da MPB, bem como o apoio à produção de livro baseado em sua trajetória. Além disso, o projeto inclui a realização de cinco shows estrelados por Maria Rita, filha de Elis Regina, que estará interpretando pela primeira e única vez em sua carreira, sucessos consagrados na voz de sua mãe. Tanto os shows quanto a exposição serão gratuitos, promovidos em locais públicos. A turnê pas sará por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre ao longo de 2012, quando se completam três décadas da morte de Elis. Segundo Tatiana Ponce, diretora de Marketing da BDF NIVEA Brasil, Viva Elis reforça a conexão das consumidoras brasileiras com um dos mais fortes pilares da marca: feminilidade repassada de geração para geração.“Estamos orgulhosos de associar a marca NIVEA ao talento de duas grandes estrelas da música brasileira. Elis é atemporal, um clássico da MPB e Maria Rita também é símbolo de juventude, talento e beleza“, completa.

Tributo – A participação de Maria Rita é um dos destaques do projeto Viva Elis. Oito anos depois de surgir no cenário musical com a “bênção e o desafio“ de ser filha do mito, Maria Rita vai cantar os sucessos da mãe pela primeira vez ao vivo, em shows inteiramente dedicados ao talento de Elis como uma espécie de tributo. As canções do repertório serão escolhidas pela própria Maria Rita. “Nunca foi segredo o meu desejo de cantar canções já interpretadas por minha mãe, mas sempre comentei que isso aconteceria em um momento de real homenagem a ela“, afirma a cantora.

Viva Elis itinerante – O músico e produtor João Marcello Bôscoli, irmão de Maria Rita, lidera a organização da exposição multimídia itinerante em homenagem à cantora, apresentando sua trajetória artística – desde o início até a consagração – e seus memoráveis shows, por meio de fotografias, vídeos (depoimentos, trechos de shows e entrevistas), músicas e documentos. Um documentário especial fará parte da exposição.”É com muita alegria que recebemos o apoio de NIVEA nessa iniciativa de celebrar e perpetuar a obra da Elis. O curioso é lembrar que foi a própria quem me apresentou a marca”, conta João Marcello.


http://altashoras.globo.com/Altashoras/foto/0,,61838537,00.jpg


Prestes a interpretar o carnavalesco Joãosinho Trinta, Matheus Nachtergaele confessa ser leitor da Bíblia

“Não sou um grande ator”

Prestes a interpretar o carnavalesco Joãosinho Trinta, Matheus Nachtergaele confessa ser leitor da Bíblia

Marília Kodic
fotos Paula Prado

Um rouco e soluçante Matheus Nachtergaele, 43, encontrou a reportagem da CULT, em São Paulo, para falar dos papéis de Joãosinho Trinta e Zé do Caixão, que viverá nas telas neste ano. Mas avisou: “Cada vez mais acho que não tenho tanto a dizer. Isso deveria estar dito nos personagens. Dizer simplesmente me parece cada vez mais inútil e constrangedor”.

Nas três horas de conversa que comprovaram o contrário, Matheus, cativo do público por seus personagens socialmente marginalizados (contabiliza 25 papéis apenas no cinema, sem contar o teatro e a televisão), falou de seu interesse por Dostoiévski, Guimarães Rosa, Aluísio Azevedo, Ingmar Bergman, Elia Kazan e a Bíblia.

Além disso, falou do começo da carreira, quando foi rejeitado por Antunes Filho – “Ele tinha dito que eu não era ator, e eu tinha acreditado nisso” –, e elogiou o bom momento que vive o cinema nacional. Mas com um apelo: “Espero que não se abandonem as tentativas de risco”.

E, de forma surpreendente para a reportagem, diz não se considerar bom ator.

CULT – Você está prestes a encarnar Joãosinho Trinta e Zé do Caixão nos cinemas – duas figuras ligadas historicamente à ruptura da vida cotidiana, uma por meio do Carnaval, outra pela morte. Como relaciona os dois personagens?

Matheus Nachtergaele –
Percebo que os dois alegorizam alguma coisa. São figuras da arte como popularidade, duas figuras que estiveram na contramão do que se imagina que é direito, entre aspas, e que conseguiram, sem recursos, fazer arte no Brasil fora do esquema armado e esperado.

São inusitados, corajosos, obsessivos, batalhadores, guerreiros. E o dinheiro não é exatamente o que os move – ou seja, estão livres.

Tenho a maior honra de haverem pensado em mim para esses projetos. É muito interessante homenagear alguém que se admira.

Em que fase de produção se encontram os dois projetos?

O Zé do Caixão ainda está em captação. O Joãosinho Trinta é um projeto antigo, de quatro anos, sobre o qual a gente fala há muito tempo. Começo a filmar neste mês. Com a morte do João [em dezembro passado], esse projeto, de alguma forma, mudou sua face para mim. Pessoalmente, deixou de ser uma homenagem em vida para ser uma homenagem a um grande homem que se foi.

Será uma cinebiografia?

O filme vai abordar o primeiro Carnaval que ele fez como carnavalesco. Ele começou fazendo adereços para o [Teatro] Municipal [do Rio de Janeiro] e, de lá, foi levado para o Salgueiro. Em certo momento, assinou o Carnaval e ganhou. Será filmado no Maranhão, Rio de Janeiro e em Paulínia, onde serão os estúdios.

Como foi a experiência de dirigir
seu primeiro longa-metragem, A Festa da Menina Morta, em 2008?

Demorei dez anos para escrever o filme. Tive a honra de ser ator num momento em que o cinema brasileiro se refazia. Fiz muitos filmes em pouco tempo e, aos poucos, isso foi me dando o desejo de fazer um também. Fazer filme é um parto muito grande. Cada detalhe, o que é dito, o quadro do fotógrafo, o figurino, a escolha dos atores, a ambiência… O filme é uma espécie de recorte do que eu sou e do que penso sobre a vida.

Ele estreou na mostra paralela do
Festival de Cannes e participou de muitos outros ao redor do mundo. Como foi a recepção no Brasil?

Uma reclamação: acho que o Brasil olha pouco para esse tipo de trajetória. Houve certo silêncio. Não sei muito bem por quê. Não é um filme fácil. É sobre a superação do luto, sobre uma Amazônia perdida, que nós esquecemos. Então é um filme difícil, de certa forma. É engraçado, o Claudio Assis me falou uma vez que os grandes filmes no Brasil não são vistos. Acho que tem a ver com divulgação e grana.

Pensa em repetir a experiência de diretor?

Estou escrevendo um filme agora, mas vai demorar anos. Me perguntam às vezes: “Quando? Quando?”. Eu digo: “Não sei, não posso saber”. É absolutamente difícil e complicado, se você quiser ser honesto. Não é bem um trabalho. É como se fosse um chamamento. Você é inserido num contexto, é sugado, depois vomitado. É como se fosse uma vocação acontecendo.

Você tem em mente um projeto sobre a reserva indígena de Dourados (MS), que tem o maior índice de suicídio per capita do mundo. A morte é um tema que o fascina?

Eu tenho interesse nesse assunto. O que acontece em Dourados é uma questão que o Brasil não sabe, não vê, não pensa.

O que faz esses índios cometerem suicídio?

O maior índice acontece entre 11 e 16 anos. Acho que se desesperam pelo fato de se saberem não inseridos. Na juventude, talvez isso tenha uma carga grande de desolação, desilusão, e, no ímpeto, se matam. Se você é índio, não tem direitos como cidadão brasileiro.

Você mora numa reserva mínima, numa terra que já foi sua reduzida a alguns hectares, ao lado de uma cidade grande, onde tem carro, moto, Xuxa, McDonald’s, tênis… E você não é parte disso.

Em uma entrevista em 2009, disse não ter celular, nem usar a internet… Ainda é assim? Você tem aversão a tecnologia?

Não. Eu tenho aversão a aceleração. Acho que a gente está andando devagar e as tecnologias, muito rápido. Uma das coisas que mais me irritam é o celular. Tenho um agora. Tive por muitos anos, depois fiquei seis anos sem. Foi ótimo. Era uma opção de vida. Eu não queria ser acessado a todo momento.

Hoje em dia as pessoas te mandam um e-mail e dali a meia hora perguntam: “Você recebeu?”. Não. Eu não sou desse tipo. Não tenho nada contra, entendo que a vida esteja assim.

Você cresceu com seu pai. Como foi sua infância?

Minha mãe morreu muito cedo, eu tinha 3 meses. A infância é algo muito angustiante – parece uma preparação do que será. Mas tive uma infância bem privilegiada. Eu cresci no mato, com cavalo, boi, sítio, avós, panqueca, pinha, ajudar a avó a fazer pão, tirar leite de vaca.

Sua família o apoiou em sua decisão de tornar-se ator?

Quando você anuncia para a família, ela entra sempre em surto. É um pacotão de horrores. Imaginam desgraças terríveis: falta de grana, drogas, loucura, instabilidade. Mas nunca deixaram de assistir a nada do que fiz, nenhum deles.

Antes de se tornar ator, nos anos 1980, você foi para a Bélgica ficar com seus avós. Por que decidiu sair do país?

Eu fazia artes plásticas na Faap [Fundação Armado Álvares Penteado], e uma amiga minha me convidou para ser par dela num teste para o Antunes Filho, no CPT [Centro de Pesquisa Teatral]. Eu não queria ser ator, não pensava nisso. Eu queria fazer desenho animado, estava bem envolvido nisso.

Só que eu passei [no teste do CPT]. Abandonei a Faap e fiquei envolvidíssimo. O Antunes estava montando uma peça com Os Sete Gatinhos e A Falecida. Então comecei no teatro com Nelson Rodrigues, de cara com Antunes.

Mas não fiz. Ele me tirou. Disse que eu não era ator, que tinha que repensar minha vida e provavelmente eu não seria um ator. Fui para a Europa, bem deprimido. Botei meu coração naquilo.

O que foi fazer em Bruxelas?

Pensei em estudar teatro. Mas conheci um belga que tocava músicas brasileiras e gostava de Ivan Lins. Eu entendo muito de Ivan Lins, então a gente começou a cantar música brasileira na noite. E aí eu vi que estava de novo no palco.

Mas foi um momento terrível esse na Europa. Porque o Antunes tinha dito que eu não era ator, e eu tinha acreditado nisso. Mesmo. Mas acho que ele fez a coisa mais certa. Me botou na berlinda. Acho que fez de propósito. Hoje em dia, penso assim. Deu um não, pra ver se eu tinha um sim. Eu tinha.

Você tende a interpretar personagens socialmente marginalizados. É uma escolha sua?

Não, é uma coisa que acontece comigo. Fico pensando… O Cintura Fina, o primeiro travesti que foi para a rua em Belo Horizonte. O João Grilo, o amarelinho safado que sobrevive aos poderes. O Carreirinha, o peão alcoólatra que tem que se salvar. Acho que todo bom personagem está de algum modo sob pressão, psicológica ou social. Está aflito, tentando viver. Todo bom personagem está à beira de algum abismo, em algum conflito muito grave.

E, por algum motivo, fiquei incumbido de representar esses personagens. Os que sofrem a pressão do capitalismo, do que se entende como mainstream. A maior parte do povo brasileiro vive sob essa pressão.


Você se identifica com esse tipo?

Todos os personagens são você mesmo. É um pouco reducionista, mas, se não for você, não dá pra fazer. Eles vão se sobrepondo e fazendo o húmus, criando camadas em cima de você, e, embaixo, vai se formando uma terra fértil.

Como vê a atual produção cinematográfica
do país?

Acho que está lindo. Estamos bem. No que se chamou de retomada, tínhamos muitos experimentos, diversas faces. Agora percebo que a gente vive uma fase de afirmação do nosso cinema.

Com isso se abandona um pouco o que se poderia desejar como melhor cinema brasileiro, mas, ao mesmo tempo, se conquista um público, se ganha uma indústria, o cinema passa a ser um lugar possível, algo que nunca foi para o Brasil e que está sendo hoje em dia.

Os filmes são de grande qualidade, realmente conseguem angariar o público. Agora as pessoas gostam de ver filme brasileiro. E isso é importantíssimo, porque o cinema é um dos melhores lugares para um povo se ver. A boa dramaturgia serve pra você pensar sobre você. Ou rindo ou chorando.

Só espero que não se abandonem as tentativas de risco.

O que quer dizer com tentativas
de risco?

É como estou te dizendo, o nosso cinema está se afirmando. Mas o nosso cinema de arte não pode ser esquecido, quero dizer, o cinema realmente pessoal.

Acho que o filme de arte é um olhar realmente pessoal sobre a vida, uma maneira de dizer “Assim vejo a vida”. A gente sempre fez isso no Brasil.

O que acha das telenovelas? O modelo
está desgastado?

Não. Ele permanece vivo e vívido e, no Brasil especificamente, é parte do cotidiano das pessoas. Talvez para algumas pessoas – ou, pior, para muitas – seja a única maneira de absorver cultura. Fico irritado quando a novela não consegue dar às pessoas aquilo que merecem – na verdade, ela é uma responsabilidade.

Alguns críticos defendem que, hoje em dia, é nas séries de TV que se encontra a verdadeira inovação da linguagem
audiovisual, não mais no cinema. O que acha disso?

Não assisto a séries, então é uma pergunta que eu não tenho como te responder.

Não! Peraí… Vou pensar sobre isso. Assisti àquela saga Crepúsculo, do vampiro. Mas não acho que substitui o cinema.

Acho que obviamente o cinema sofre com esse caos. Ir a uma sala de cinema hoje em dia se tornou dificultoso. O próprio encanto, de alguma forma, foi perdido. Mas, quando você realmente escolhe um filme, entra numa sala de cinema e assiste [a ele], acontece alguma coisa sem nome, que é esse milagre chamado cinema.

O que acha das pessoas que baixam
filmes piratas pela internet?

Isso acontece e não me incomoda. Mas a verdade é que nada substitui estar numa sala de cinema, com aquela tela grande, com pessoas do seu lado, todos viajando na mesma onda. A grande viagem é essa.

Que personagens admira?

Sou muito fã da [atriz] Vivien Leigh, acho Um Bonde Chamado Desejo maravilhoso. É uma peça do Tennessee Williams que deve ter sido encenada não sei quantos milhões de vezes, mas ela fica registrada e marcada no peito quando o Elia Kazan a filma.

Sou fã de algumas pessoas. Marguerite Duras, uma escritora francesa. Grande Othelo. Gosto muito de ler Dostoiévski, gosto de Guimarães Rosa, de verdade, leio e releio. Gosto muito de Aluísio Azevedo, O Cortiço é um dos meus livros favoritos. Aliás, daria um filmaço…

Você também é fã assumido de Bergman. O que o atrai nele?

Gosto mesmo. Ele é um conhecedor profundo da dramaturgia mundial, um cara muito culto. E, nos filmes, consegue utilizar isso para falar do mundo que vê, sempre com um corte profundamente subjetivo e honesto. Faz isso de maneira gloriosa. E consegue falar de amor sem ser piegas.

Está lendo algo no momento?

Não posso mentir, né? Já li bastante, hoje em dia leio menos. Na verdade, você pode achar estranho… Estou lendo o Gênesis, essa é a verdade. Eu leio a Bíblia como um livro.

Você é católico?

Não. Acreditar em Deus é matar Deus. Você não tem que acreditar no que existe. O que é é. Ponto. Durante muitos anos eu me chamei de ateu, agora tomo cuidado com isso. Acredito no milagre, mas sem um Deus específico. É como se ele percorresse tudo, o tempo todo. Na maravilha e no terror.

O que faz em seu tempo livre, se é que o tem?

Tenho muito tempo livre. As pessoas ficam imaginando que a gente trabalha sem parar… A gente não trabalha sem parar! Eu não. Consegui esse espaço, de passar algum tempo ruminando, como uma vaca. Passo muito tempo ocioso.

Atualmente tenho gostado de me retirar. De ficar em lugares com poucas pessoas, onde a natureza ainda possa se expor de alguma forma. Eu sou caminho de formiga, gosto de ir aos mesmos lugares. Minha casa, minha roça, em Minas. E escrever. Roteiro, memória, poesia. Canções.

Teremos acesso a esse material algum dia?

Sou vergonhoso! Aliás, não gosto de dar entrevistas.

Não costumar dar muitas…

Cada vez menos. Cada vez mais acho que não tenho tanto a dizer. O que tenho a dizer deveria estar dito nos personagens, no corpo, na carne deles. Nas interjeições, nos projetos escolhidos. Tudo isso é um discurso. Dizer simplesmente me parece cada vez mais inútil e constrangedor.

Eu mesmo sou só isso, qualquer um procurando entender a vida e espantado com o que ela é.

Tem algum projeto?

Tenho. Talvez não interesse a ninguém, mas aconteceu comigo uma coisa interessante: eu, muito rápido, fui elevado à categoria de grande ator. Não sou um grande ator. Durante muito tempo, fiquei focado no meu trabalho. Esqueci das pessoas. Quero aprender a amar.

FONTE

http://revistacult.uol.com.br/home/2012/03/nao-sou-um-grande-ator/