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Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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sábado, 17 de março de 2012

“Preguiça e ócio contradizem a lógica do acúmulo”


Escrito por Gianni Paula de Melo

Muito se fala sobre a preguiça, mas, como ocorre a vários verbetes, no uso cotidiano, nunca sabemos se estamos nos referindo ao mesmo conceito, partilhando a mesma ideia. Preguiça é não fazer nada, não produzir? Rende ou não rende frutos? Coincide com ócio? É benéfica ou é “pecado”? Em 2011, no evento Mutações, organizado por Adauto Novaes, a professora de Filosofia da Universidade de São Paulo, Olgária Matos, apresentou uma reflexão sobre o campo conceitual em que se inscreve a preguiça hoje. Olgária, que também assina o prefácio do livro O direito à preguiça, de Paul Lafargue, conversou com a revista Continente sobre a experiência e o uso desacelerado do tempo, e sua aparente incompatibilidade com a sociedade contemporânea.


CONTINENTE Na perspectiva filosófica, como diferenciaríamos preguiça de ócio?
OLGÁRIA MATOS A preguiça – a priguizia latina –, em seu sentido primordial, diz respeito ao tempo lento, contrário à pressa ou a urgências, como se o presente vivido coincidisse consigo mesmo, um tempo em que qualquer alteração significaria uma perda desse estado de plenitude já realizada. É um tempo também dos retardamentos e da não ação, mais próximo da contemplação, que é a forma suprema da atenção. O ócio, a scholé, era uma temporalidade dedicada “àquelas coisas que merecem que se dedique o tempo”. Por uma miraculosa evolução, veio a significar “escola”, o tempo voltado para a formação do espírito, para os “cuidados de si” com vistas à virtude e à felicidade, à busca da harmonia consigo mesmo e da concórdia na cidade. A preguiça como condenável só veio a ser comparada ao seu simétrico oposto, a atividade desmedida, com o advento da “ética protestante e do espírito do capitalismo” que, em sua fase atual, se realizou com a universalização da ética do novo-rico, para a qual “tempo é dinheiro”, entendido como valor supremo. O novo-rico é aquele que conhece o preço de todas as coisas, mas desconhece o seu valor. Preguiça e ócio, bem como seus corolários, que são todos os saberes não vinculados a resultados materiais – as “humanidades” –, são proscritos. Preguiça e ócio contradizem a lógica do acúmulo, acréscimo e reposição do capital e do mercado consumidor, ligados à aceleração e ao não pensamento.


CONTINENTE Em que aspectos a experiência do tédio se aproxima ou se afasta das duas citadas anteriormente?
OLGÁRIA MATOS O tédio – o ennui baudelairiano – é a experiência de um tempo que se arrasta, herdeiro da acídia medieval (a “tristeza do coração” ou o “coração pesado” e “maus pensamentos”), quando o anacoreta solitário, nos desertos de Alexandria, nos quais buscava a ascese até Deus, calcinava ao sol e o dia lhe parecia insuportavelmente longo. O tédio é o desgosto de existir, que traz consigo o sentimento da perda do sentido das coisas e do passado, dos valores estimados que fazem do presente um tempo de planura, prosaico e sem maravilhamento. Mas o tédio baudelairiano é, simultaneamente, um contato com a interioridade de um sujeito e a consciência de um mundo esvaziado de sentido, porém, que exige do spleenático criação contínua. Não por acaso, Baudelaire escreve um livro cujo título é Spleen et idéal. Pelo spleen (palavra inglesa que significa tédio), o sujeito fica prisioneiro do passado, experimentando um luto do impossível, pelo qual ele sonha o futuro, vivendo esse conflito de que nasce a criação.


Leia a matéria na íntegra na edição 135 da Revista Continente.

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