Quem sou eu

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Santa Cruz do Capibaribe/ Caruaru, NE/PE, Brazil
Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

LONGE, LÁ DE LONGE - CONCEIÇÃO GOMES

E entre nós há uma distância
Tão cheia de protocolos,
Tão cheia de saudades
E palavras ditas, esquecidas e não ditas

Entre nós
Há o cheiro das distâncias
Que de súbito nos assalta
Unindo-nos
Mesmo sem querer

Nos perdemos
Silenciamos
E até os nossos olhares
São para outras distâncias
(Conceição Gomes)

SENTIDO - CONCEIÇÃO GOMES



Jogo no centro
As ideias
As dúvidas
E as mini-certezas

Uso o tabuleiro
E no jogo em que tudo se confunde
Tudo se une e parece sem sentido.

Quanto sentido há no caos,
No óbvio
Mesmo inacessível
(Conceição Gomes)

CORES - CONCEIÇÃO GOMES

Diante da tela em branco,
Da folha em branco,
Da parede em branco
E da janela com as cores do horizonte

Diante de mim,
De ti,
De todos
E de ninguém

Pelo movimento,
Pela pausa
No vento...
A revolução
O argumento

Conceição Gomes.

domingo, 11 de novembro de 2012

INTERROGAÇÕES - Conceição Gomes

 
INTERROGAÇÕES


O que nos une é uma interrogação,
O que poderia e não foi dito,
O que é dito e não faz sentido.
Tudo entre você e eu
É oposto, distante...

O que nos separa é sempre uma interrogação,
...
Um nó na garganta,
A procura do dito nas entrelinhas
E um mergulho no vão da opacidade.

Excesso de interrogações,
Exclamações e reticências.
 
(Conceição Gomes)
 
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Adriana Calcanhotto virou boneca e põe Partimpim para cantar em Tlês

Repertório reúne inéditas da gaúcha e clássicos de Caymmi, Chico, Gonzaguinha e Jorge Ben Jor, entre outros
Portal Uai - Associados
Publicação: 21/10/2012 19:30 Atualização: 21/10/2012 20:41
Cantora Adriana Calcanhotto volta a ser Adriana Partimpim, pela terceira vez. Foto: Catarina Henriques/Divulgação
Cantora Adriana Calcanhotto volta a ser Adriana Partimpim, pela terceira vez. Foto: Catarina Henriques/Divulgação
Enquanto Adriana Calcanhotto segue com a vitoriosa turnê do CD O micróbio do samba, registrada no surpreendente DVD Micróbio vivo, Adriana Partimpim está de volta ao disco com Tlês. Provavelmente o mais denso da série – ainda que o segundo CD inclua O trenzinho do caipira, de Villa-Lobos –, o novo trabalho infantojuvenil da cantora gaúcha prima novamente pela qualidade.

Apenas para ter ideia do repertório, vale ressaltar que ele traz duas pérolas de Dorival Caymmi: Tia Nastácia, da trilha do seriado Sítio do Pica-Pau Amarelo, e Acalanto, com direito a vocalise poderoso de Alice Caymmi, neta do mestre. A filha de Danilo Caymmi, coincidentemente, estreia promissora carreira solo fonográfica.

O repertório não é o único detalhe primoroso do terceiro disco de Partimpim. A banda é destaque à parte: praticamente coautora do projeto, lançado por Adriana Partimpim em 2004, a formação reúne Davi Moraes, Domenico Lancellotti, Alberto Continentino, Berna Ceppas, Moreno Veloso e Pedro Moraes. Agora recebeu o reforço de Rodrigo Amarante (Los Hermanos).

Dá para imaginar a festa em que se transformou o estúdio durante as gravações. Dos instrumentos tradicionais – guitarra, baixo, violão e piano – aos mais contemporâneos, o que inevitavelmente inclui sintetizadores, o disco, com seus arranjos criativos, é um prazer para ouvintes de todas as idades.

Entre as boas canções, destacam-se as de ninar. Há inéditas (Salada russa, de Partimpim com letra de Paula Toller; Por que os peixes falam francês?, de Alberto Continentino e Domenico Lancellotti; e Também vocês, de João Callado e Partimpim) e regravações (Taj Mahal, de Jorge Ben Jor; Lindo lago do amor, de Gonzaguinha; O pato, de Jayme Silva e Nelson Teixeira; Criança crionça, de Cid e Haroldo Campos; Passaredo, de Francis Hime e Chico Buarque; e De onde vem o baião, de Gilberto Gil, entre outras).

A ideia inicial de Partimpim – heterônimo de Adriana Calcanhotto – era gravar um disco de músicas de ninar, com destaque para Acalanto, de Caymmi. “Acontece que fiquei muito acordada, muito animada para brincar, e aí fui gostando daquelas canções que já existiam”, explica Partimpim, bem ao modo das crianças, a quem o trabalho é destinado.

Posteriormente, ela percebeu que a maioria do repertório falava de bichos (menos De onde vem o baião, de Gilberto Gil). Amadurecida, Adriana Partimpim – que agora se tornou boneca, em bela criação de Clara Zuñiga – não tem planos de fazer shows com Tlês. Com certeza, vai deixar a garotada temporariamente triste. Mas a garantia de qualidade musical permanece.

Bairro do Recife ganha megaexposição permanente de artesanato

 Centro de Artesanato de Pernambuco passa a funcionar diariamente, ao lado do Marco Zero, com obras de 500 artistas


Tatiana Meira
Publicação: 25/09/2012 19:55 Atualização: 26/09/2012 15:23
Parte de trás do prédio tem parede de vidro com vista para o mar. Foto: Nando Chiapetta/ DP. D.A.Press
Parte de trás do prédio tem parede de vidro com vista para o mar. Foto: Nando Chiapetta/ DP. D.A.Press

O Centro de Artesanato de Pernambuco finalmente abriu as portas ocupando todo o Armazém 11, ao lado da Praça do Marco Zero, no Bairro do Recife, com números impressionantes.

Foram investidos R$ 6,5 milhões no espaço, que conta em sua área construída de 2 mil e 511 metros quadrados com 16 mil peças de 500 artesãos de Pernambuco. Os produtos comercializados na loja vão desde pequenos suvenires até peças de maior valor agregado, por serem assinadas por mestres como Manoel Eudócio, Thiago Amorim, Ana das Carrancas ou seus familiares, que perpetuam a tradição. Eles trazem etiqueta com nome, e-mail e telefone de cada artesão, na tentativa de aproximá-los do consumidor final, que podem pedir novas encomendas.

Espaço expositivo tem mais de 16 mil peças. Foto: Annaclarice Almeida/ DP/ D.A.Press
Espaço expositivo tem mais de 16 mil peças. Foto: Annaclarice Almeida/ DP/ D.A.Press

A loja se espalha por mil metros quadrados, com criações em barro, madeira, palha, cestaria, tecidos, escamas, papel-machê, entre outros materiais. O projeto arquitetônico é de Carlos Augusto Lira, que pensou ambientes decorados como sala de estar, de jantar e quarto de casal, agregando a eles uma visão mais contemporânea. Na fachada externa, painéis grafitados por Galo de Souza.

Local é uma grande loja pois todas as peças estão à venda. Fotos: Annaclarice Almeida/ DP/ D.A.Press
Local é uma grande loja pois todas as peças estão à venda. Fotos: Annaclarice Almeida/ DP/ D.A.Press

Além da parte da loja, o visitante do Centro de Artesanato de Pernambuco (Cape) também tem acesso às exposições itinerantes do Espaço Galeria de Arte, coordenado pela Secretaria de Cultura; auditório com 120 lugares; o Centro de Atendimento ao Turista (CAT), com exibição permanente de obras premiadas desde 2007 na Fenearte (Feira Nacional de Negócios do Artesanato) e dois atendentes bilíngues por turno; e o restaurante Bistrô e Boteco, com capacidade para 400 pessoas e horários de funcionamento que se estende até mais tarde.

Espaço inclui restaurante que fica aberto até tarde. Foto: Nando Chiapetta/ DP/ D.A.Press
Espaço inclui restaurante que fica aberto até tarde. Foto: Nando Chiapetta/ DP/ D.A.Press

Ação integrada entre o governo do estado e da AD-Diper, dentro do Programa de Artesanato de Pernambuco, o Cape é a segunda iniciativa do gênero no estado. A primeira existe há nove anos, em Bezerros, no Agreste, com museu e loja abrigando sete mil peças, às margens da BR-232.

Na Galeria de Arte, há obras de quatro artistas plásticos contemporâneos atuantes em Pernambuco: Marcelo Silveira, Joelson, Christina Machado e Derlon.

O coordenador da exposição, Márcio Almeida, ressalta que a ideia é propor um diálogo entre o artesanato e a arte contemporânea e quebrar barreiras entre os dois universos. Os artistas selecionados para Tradição tradução, em cartaz até 25 de novembro, guardam em comum os materiais sobre os quais se debruçam, como couro, madeira e argila.

Espaço fica ao lado da praça do Marco Zero. Foto: Nando Chiapetta/ DP/ D.A.Press
Espaço fica ao lado da praça do Marco Zero. Foto: Nando Chiapetta/ DP/ D.A.Press

ServiçoCentro de Artesanato de Pernambuco – Unidade Recife
Onde: Avenida Alfredo Lisboa, s/n, Armazém 11, Recife Antigo (ao lado do Marco Zero)
Horário de funcionamento: diariamente, das 10h às 20h

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

FLIPORTO - Congresso Literário – Programação


Congresso Literário – Programação
Fliporto 2012 – Congresso Literário – Programação
Dia 15 de novembro
19h
Abertura e recital de Maria Bethânia
Dia 16 de novembro
10h
Painel 1:
Robert Darnton, Cory Doctorow e Silvio Meira, com mediação de Julio Silveira
Informação e autopublicação: do big-bang ao boing-boing.
12h
Painel 2:
Frédéric Martel conversa com Silio Boccanera
Cultura de massa em escala mundial – soft power, media e impacto popular.
Painel 3:
14h30
João Cezar de Castro Rocha e Lawrence de Flores Pereira, com Kathrin Rosenfield
Shakespeare e Sófocles: nossos contemporâneos.
16h15
Painel 4:
Betty Milan
Conferência: Teatro e psicanálise
Em seguida, haverá a apresentação da peça A vida é um teatro, de Betty Milan.
18h30
Painel 5 :
Ariano Suassuna e Almeida Faria, com mediação de Maurício Melo Jr.
Utopia, Messianismo e Sebastianismo.
20h
Painel 6 :
Braz Chediak, Neville de Almeida, Lucélia Santos e Nelson Rodrigues Filho, com mediação de Alexandre Figueirôa.
Nelson Rodrigues no cinema.
Dia 17 de novembro
10h
Painel 7 :
Mia Couto e José Eduardo Agualusa, com mediação de Zuleide Duarte.
Literatura e realidade.
12h
Painel 8 :
Antonio Cicero e João Almino, com mediação de Mona Dorf
Construindo com a palavra: poesia, narrativa e cidades.
14h30
Painel 9 :
Luciana Villas-Boas, Pedro Herz e Rui Couceiro, com mediação de João Cezar de Castro Rocha
Livros e autores: novos cenários e desafios.
16h30
Painel 10:
Ruy Castro e Heloísa Seixas conversam com Geneton Moraes Neto
Segredos e inconfidências d’O Anjo Pornográfico.
18h15
Painel 11:
Manuel Lorente e Ricardo Miño, com Sonia Bartol
Poesia e corpo em voz alta: flamenco falado e cantado (palestra e recital).
20h
Painel 12 :
Edney Silvestre conversa com Claudiney Ferreira
Romance e drama.
Em seguida, haverá a leitura dramática da peça inédita Boa noite a todos, de Edney Silvestre, com Christiane Torloni.
Dia 18 de novembro
10h
Painel 13
Sonia Rodrigues, Maria Lucia Rodrigues e Adriana Armony, com mediação de Rogério Pereira
As mulheres (d)e Nelson Rodrigues.
12h
Painel 14:
José Castello e Antonio Cadengue, com mediação de Luis Augusto Reis
Nelson Rodrigues em cena.
15h
Painel 15:
Barry Miles conversa com Carlos Figueiredo
Com o pé na estrada da contracultura.
16h30
Painel 16:
Humberto Werneck e J. Rentes de Carvalho, com mediação de Silio Boccanera
Palavras: as implicâncias, as preferências e as esquisitices.
18h30
Painel 17:
João Gilberto Noll
Literatura e convulsão
20h
Encerramento
Aula-espetáculo de Ariano Suassuna.
Sessão especial:
Dia 16 de novembro

11h
Ignacio del Valle, Luize Valente e Francisco Azevedo, com mediação de Rui Couceiro
Literatura é documento? Histórias e personagens muito além da história
Auditório da Faculdade de Olinda – FOCCA
Rua do Bonfim, 37 – Carmo – Olinda

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Decisão sobre livro de Monteiro Lobato sai depois do mensalão


Sem nenhum acordo após duas reuniões, Ministro Luiz Fux, do STF, terá de julgar o processo. Entidades já apresentaram pedidos para opinar no processo

Fonte: iG


O julgamento da ação que contesta o uso da obra Caçadas de Pedrinho , de Monteiro Lobato, nas escolas brasileiras só será realizado quando os ministros terminarem de julgar o mensalão. Isso significa que, pelo menos, até o início do mês que vem, nenhuma decisão será tomada. Por causa da polêmica do tema, o ministro Luiz Fux, relator do processo, deve dividir com os colegas a avaliação do tema. Até lá, no entanto, entidades com diferentes pontos de vista se movimentam para participar do processo de alguma forma. Todas querem opinar sobre o tema.
De acordo com a assessoria de imprensa do Supremo Tribunal Federal (STF), onde o mandado de segurança de nº 30952 será julgado, quatro entidades (além de duas pessoas interessadas) já apresentaram pedidos para atuar como amicus curiae – “amigos da corte” – no julgamento. O ministro Luiz Fux, relator da ação no tribunal, precisa avaliar se as entidades e as pessoas interessadas têm “representatividade adequada para se manifestar” sobre o tema.
Se o ministro concordar, todos terão direito de expor suas ideias sobre o caso antes ou durante o julgamento. Por enquanto, o Instituto Afrobrasileiro de Ensino Superior, o Instituto Nzinga, a Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural (Afrobras) e a Educafro já apresentaram petições. Outras duas pessoas, cujos nomes não foram divulgados pelo STF, também. A família de Lobato já avisou que quer acompanhar de perto a avaliação.
A ação apresentada por Antonio Costa Neto e o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) pede a suspensão da compra das obras ou a formação e capacitação dos educadores para utilizá-las de forma adequada, além da fixação de nota técnica nos livros. O advogado Humberto Adami, representante do Iara, ressalta que o interesse deles não é “censurar ou banir” a obra.
“Reitero não ser nosso desiderato a censura ou banimento de quem quer seja, mas a obediência às regras do Programa Nacional Biblioteca na Escola, que proíbe o financiamento de livros com ‘expressões de preconceito ou estereótipo’. Nosso compromisso é com o respeito e à liberdade às leis do País e o combate ao racismo contra negras e negros”, diz. Para os autores da ação, Caçadas de Pedrinho contém conteúdos racistas.
Na avaliação do Ministério da Educação, a divulgação do parecer elaborado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre a obra e a formação já realizada com os professores nas escolas contemplam esses pedidos.
Embates
Álvaro Gomes, administrador da obra de Monteiro Lobato, afirma que a família pretende acompanhar o julgamento de perto. Os advogados também devem apresentar pedidos de amicus curiae. “Os herdeiros torcem para que o bom senso prevaleça, afinal são várias gerações que leram e ainda leem Lobato e não se tem conhecimento que se tornaram adultos racistas. As manifestações pelo Brasil a favor de Lobato nos levam a crer estarmos certos”, afirma. Ele cita petições públicas que estão no ar em favor das obras.
Para o Frei David Santos, diretor-executivo da Educafro, esse não é um debate “de entidades”. “Esse não é um processo pessoal. Quem ganha com esse debate é a sociedade e decidimos participar para evidenciar isso. Nós entendemos que um documento apenas orientador como propõe o MEC tem pouca chance de ser levado a sério”, afirma.
Ele lembra que, em 1986, uma cartilha chamada O Sonho de Talita, das autoras Manoelita Bueno e Maria do Carmo Guimarães, também foi questionada por conta de seu conteúdo. “O equívoco da obra foi reconhecido e queremos o mesmo”, diz.
Negociações
Durante as reuniões de conciliação, os autores da ação apresentaram uma proposta que deixava de pedir a proibição do uso da obra, mas exigiam que o livro servisse para promover uma educação antirracista. A grande divergência entre os argumentos do MEC e dos críticos para se alcançar esse objetivo está, principalmente, na preparação dos professores.
Propostas: Autores de ação contra Lobato querem educação étnico-racial para professores
Entre os pedidos apresentados pelos autores da ação, estão a criação de disciplinas que correspondam a, pelo menos, 15% dos currículos na formação inicial dos profissionais de educação (seja em cursos técnicos, de graduação, pós, especialização ou de extensão); a inclusão do tema nos projetos político-pedagógicos das próprias universidades e dos cursos antes de liberar autorizações, credenciamentos, recredenciamentos e renovações de curso.
Além disso, querem que a disciplina sirva como critério de pontuação no Sinaes, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. É essa análise que garante às instituições a atividade de cursos e câmpus. As universidades precisam renovar as autorizações de funcionamento de tempos em tempos. Neto acredita que as instituições só obedeceriam a determinação de criar a disciplina caso ela recebesse pontos na avaliação.
O início da polêmica
Em outubro de 2010, o uso do livro de Monteiro Lobato se tornou o centro de uma polêmica sobre as obras literárias que poderiam fazer parte do cotidiano das crianças brasileiras. O Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou um parecer recomendando que os professores tivessem preparo para explicar aos alunos o contexto histórico em que foi produzido, por considerarem que há trechos racistas na história.
A primeira recomendação dos conselheiros (parecer nº 15/2010) era para não distribuir o livro nas escolas. Escritores, professores e fãs saíram em defesa de Monteiro Lobato . Com a polêmica acirrada em torno do tema, o ministro da Educação à época, Fernando Haddad, não aprovou o parecer e o devolveu ao CNE , que então mudou o documento, recomendando que uma nota explicativa – sobre o conteúdo racista de trechos da obra – fizesse parte dos livros.
Negrinha
No dia 25 de setembro, o mesmo grupo apresentou mais um questionamento referente a outra obra de Monteiro Lobato. Antonio Gomes da Costa Neto pediu à Controladoria Geral da União (CGU) que investigue a aquisição de do livro Negrinha pelo PNBE em 2009. De acordo com levantamento feito por ele, 11.093 exemplares de Negrinha foram destinados a colégios de ensino médio e, segundo ele, mais uma vez, a legislação antirracista não foi respeitada. Ele também pede a suspensão da distribuição dos livros "até que se promova a devida formação inicial e continuada dos profissionais de educação".

Professores da rede pública podem estudar inglês grátis nos EUA


Oportunidade oferecida pela Capes, órgão ligado ao MEC, oferece ao todo 540 vagas

Fonte: G1


Estão abertas até o dia 15 de outubro as inscrições para o Programa de Aperfeiçoamento para Professores de Língua Inglesa nos Estados Unidos. A oportunidade oferecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), oferece ao todo 540 vagas para Professores de inglês que atuam na rede pública estudar o idioma por seis meses no exterior. Cada estado tem reserva de, pelo menos, vinte vagas.
Os Professores podem passar seis semanas em uma universidades sediada nos Estados Unidos e participar de atividades acadêmicas e culturais que incentivam o exercício do idioma e favorecem a fluência oral e escrita.
Para se candidatar é preciso ser brasileiro ou ter visto de permanente no país, possuir bacharelado ou licenciatura em Língua Inglesa, ser Professor da rede pública e não estar em estágio probatório.
Os aprovados pelo programa receberão de graça alojamento, alimentação, deslocamento, seguro saúde e passagens aéreas, isenção de taxas Escolares e ainda materiais didáticos usados no curso. Além de uma ajuda de custo no valor de U$ 500,00 (quinhentos dólares).

domingo, 7 de outubro de 2012

Suelen e o novo feminismo


Escrito por Carol Almeida   
Seg, 01 de Outubro de 2012 13:08

Reprodução

Suelen estava decidida. E por onde passava arrastava uma pequena multidão de machos determinados a dissuadi-la dessa ideia absurda de ser senhora do próprio corpo. Suelen queria posar nua. E não entendam errado, pois os homens que a cercavam a queriam nua também. Mas só, e somente só, se essa decisão fosse deles. Afinal de contas, alfinetaria ironicamente Simone de Beauvoir, “é claro que nenhuma mulher pode pretender sem má-fé situar-se além de seu sexo”.

A personagem descrita acima é criação da novela Avenida Brasil, e ainda que Suelen, vivida pela atriz Isis Valverde, não tenha logrado realizar seu “sonho” de posar nua e finalmente se tornar alguém “famosa”, o recado estava dado. Seria ela, e mais ninguém, quem poderia escolher o que fazer com todas aquelas (suas) curvas tão bem-afamadas no fictício Bairro do Divino. Ou, nas palavras da banda matriz do movimento underground feminista riot grrrls, Bikini Kill: “Aquela garota se acha a rainha da vizinhança. E eu tenho uma novidade para você: ela É”. Seria Suelen, então, uma autêntica rebel girl? Seria uma nova feminista?

No que os coerentes de plantão virão todos prosas com o argumento de que, “Péra lá, se Suelen quer posar nua para uma revista masculina, não estaria ela obedecendo aos padrões milenares da coisificação da mulher em um objeto de consumo?”. A pergunta que vem com resposta embutida elimina o elemento mais essencial da equação sobre a qual o movimento feminista vem se debruçando há mais de 100 anos: as relações de poder.

Vamos tentar “desenhar” e voltar um pouco na história, com dois eventos que surgiram bem antes das calças da Gang, dos tops de oncinha e do expostopiercing no umbigo. Eventos que nasceram estritamente técnicos e, com suas aplicações entre as organizações sociais, foram adquirindo rapidamente contextos políticos. Falamos da Revolução Industrial do século 18 e da pílula anticoncepcional de 1960.

A primeira colocou a mulher para fora da esfera privada do domicílio, quando exigiu que ela também fizesse parte da força de trabalho ativa para a produção de bens em massa. Uma vez circulando pela esfera pública, elas passaram a se organizar politicamente e a história nos conta que daí veio o sufrágio universal e outras graduais conquistas.

A segunda foi mais além e deu à mulher o controle sobre aquilo que, historicamente, constituía sua função social: a maternidade. Foi como se, muitos anos após ter descoberto a fechadura, ela finalmente recebesse sua primeira chave. O controle sobre o próprio corpo implicava um deslocamento completo do lugar estritamente passivo que ela vinha ocupando desde a longínqua fundação do pecado original: a propriedade privada.

Em ambas as situações, a soberania masculina perdeu o equilíbrio, posto que toda a organização social que ela conhecia era permeada pelo autoritarismo de quem detinha o controle sobre todas as esferas de relações interpessoais da mulher. E não é de se estranhar que, a partir de certo momento, os homens tenham usado essa liberação sexual feminina como uma jogada muito bem calculada (por eles mesmos, claro), para que se pudesse usar a figura “feminina” como adereços e objeto de consumo em revistas, peças publicitárias, filmes e assim por diante.

E, sim, as propagandas de cerveja, os salões de automóveis e o “jornalismo” de celebridades estão aí para provar que se faz uso constante e intenso da mulher como objeto de consumo. Mas é necessário esclarecer que quem cria essa mensagem é o patriarcado e a ele interessa, sobretudo, que a mulher não tenha autonomia de colocar um botox ou de sair com a barriguinha de fora, se não for para ser avaliada como uma peça de carne no açougue. Nessa perspectiva de mercado “masculino”, ela não pode simplesmente desejar ser mais bonita e agradar ao outro, se não for antes julgada por isso. Se a mulher não for ré, a brincadeira do lado de lá perde a graça.

De onde voltamos à querida Suelen, a personagem que não pede desculpas por ser sexy. Representação simbólica do chamado “biscate”, ela passeia pelo Divino com o bumbum, o nariz e o moral empinados. E a exposição desse orgulho perturba muitos homens, que, doravante, podem se sentir no direito de usá-la como objeto e, desse modo, agredi-la. Não acontece com a personagem da novela, mas acontece (e com mais frequência do que imaginamos)na vida real, em que os estupradores, fichados ou ideológicos depositam a culpa de seus crimes nessa imagem bíblica da mulher que corrompe o homem.

Caso você não saiba, foi daí que surgiu a Marcha das Vadias, movimento que começou no Canadá e hoje encontra manifestações em vários cantos do globo, em que mulheres vão às ruas questionar o até então inquestionável “direito natural” dos homens em fazer suas próprias leituras do desejo sexual das mulheres. Portanto, sejamos claros, medir o tamanho da saia ou do decote équerer controlar a sexualidade. É se colocar naquele confortável lugar de domínio.

A boa notícia, e sinal dos tempos, é que, do mesmo modo que as revistas femininas e as princesas Disney perpetuam esse lugar passivo da mulher que só existe para agradar o outro (e nunca a si mesma), cresce também, ainda que timidamente, o número de homens feministas que, ao lado de suas companheiras ou amigas, estão cada vez mais presentes em movimentos como a citada Marcha das Vadias. Pessoas que entendem que o problema não está no corpo, mas no uso político dele, na legitimação de uma milenar relação de poder.

Quando Suelen desfila altiva na novela das nove, ela não pede passagem ao patriarcado. E para quem se achar no direito de bloquear esse caminho, tudo que podemos concluir é que “perdeu, playboy”. Pois então, como diria o poeta, vai Suelen, ser periguete na vida.

Livros não são para dar lição, mas para imaginar

 
Escrito por Isabelle Câmara   
Seg, 01 de Outubro de 2012 19:38

Reprodução
Quando as páginasde um livro infantil se abrem, abrem-se as possibilidades de criação de um novo mundo, cheio de aventuras, mistérios, fantasias, imaginação e descobertas. Também, abrem-se as chances de surgimento de um autor, aquele que, em contato com a obra, toma consciência do mundo concreto que o cerca e pode escrever sobre seu próprio conhecimento, de maneira receptiva, dialógica e criadora; significando, transformando e ampliando sua experiência de vida.

De acordo com instituições ligadas à educação, a leitura na infância desenvolve o repertório pessoal e profissional, aguça o senso crítico, amplia o conhecimento geral, aumenta o vocabulário, estimula a criatividade, emociona e causa impacto, muda a vida e facilita a escrita.

Mas a consciência acerca da importância da leitura na infância é recente. Até bem pouco tempo, a literatura infantil era tida como subliteratura, vista pelos adultos como um brinquedo – ainda que, ao longo da história, os brinquedos tenham ocupado lugares mais nobres nas famílias e nas sociedades – ou entretenimento. A valorização do gênero como formador de consciências é recente, embora Carl Jung defenda, há mais de 60 anos, que os contos de fadas se constituíram, através dos séculos, como instrumentos para a expressão do pensamento mítico, perpetuando-se no tempo por desempenharem uma função psíquica importante no processo de individuação.

Somente no século 21, a literatura infantil ganhou a primeira fila nas grandes editoras do país e vem sendo incentivada, por meio de concursos, selos e grandes compras governamentais, para usos em sala de aula. Seguindo essa tendência, a Companhia Editora de Pernambuco – Cepe criou o Concurso Cepe de Literatura Infantil e Juvenil, de âmbito nacional. No primeiro certame, realizado em 2010, foram inscritas 435 obras, das quais 12 foram publicadas. No segundo, realizado em 2011, foram 333 obras concorrentes, das quais seis foram selecionadas.

Leia a matéria na íntegra na edição 142 da Revista Continente.

sábado, 22 de setembro de 2012

Nélida Piñon é nova Embaixadora Ibero-Americana da Cultura

RIO - A escritora carioca Nélida Piñon, que acaba de lançar o "Livro das Horas" (editora Record), com suas memórias, será nomeada na sexta-feira Embaixadora Ibero-Americana da Cultura, durante homenagem na província de Cádiz, na Andaluzia, sul da Espanha. A cerimônia dedicada à escritora, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), acontece por ocasião da XXII Cimeira Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, nos dias 16 e 17 de novembro, e da celebração do Bicentenário da Constituição de Cádiz.
O convite partiu de Enrique Iglesias, à frente da Secretaria-Geral Ibero-Americana, órgão sediado em Madri que tem como filosofia aumentar a cooperação entre as nações ibéricas e as latino-americanas. Para o secretário-geral, que foi presidente por 17 anos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a homenagem é um reconhecimento do talento e da trajetória de Nélida, hoje com 75 anos.
- É uma distinção ao Brasil - define Nélida a homenagem, cuja notícia a surpreendeu há alguns dias. - É um título muito respeitado, escolhido de forma muito especial para quem tem biografia, acervos de histórias e vivência cultural grande em relação ao continente e à península.
A escritora, cujo pai é galego e a mãe é filha de imigrantes da Galícia, contava na quarta-feira por telefone, de Madri, que preparou para a cerimônia um discurso de 15 minutos chamado "Elogio à América".
- No discurso eu falo, sobretudo, de onde nós viemos, de como estamos enlaçados, quer culturalmente, quer pelas misturas étnicas - revela a escritora, completando que a mestiçagem do povo americano traz a marca de todas as civilizações.
O convite da organização da cúpula ibero-americana coincide com uma viagem já marcada para a Espanha, onde a autora promoverá uma série de palestras em Madri e Bilbao organizadas pelo centro cultural Residencia de Estudiantes e pela Fundação Cultural Hispano-Brasileira. Ela retornará ao Brasil somente em outubro.
Diretora de Cultura da Secretaria-Geral Ibero-Americana, Leonor Esguerra Portocarrero explica que o título de embaixadora é para toda a vida:
- A nomeação é para sempre e o que se espera é a promoção de valores latino-americanos, porque eles próprios são um trunfo para a nossa identidade.
Os valores estão definidos na Carta Cultural aprovada pelos chefes de estado ibero-americanos. O documento reconhece a cultura latino-americana como rica, diversa e plural, representando a expressão dos povos, e fala de solidariedade e cooperação, igualdade e reconhecimento dos direitos culturais.
A cerimônia de nomeação contará com a presença de Iglesias, assim como de representantes do governo espanhol. A XXII Cimeira Ibero-Americana deverá reunir, em Cádiz, chefes de 22 países de língua portuguesa ou espanhola.

FONTE: http://br.noticias.yahoo.com/n%C3%A9lida-pi%C3%B1on-%C3%A9-nova-embaixadora-ibero-americana-cultura-020202741.html

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Inglês fotografa salas de aula em 19 países


Das meninas iemenitas de segunda série, com roupas verdes e cabeça coberta até a classe só para meninos no Peru, todos vestidos com um uniforme que lembra o dos militares. Dos rapazes e moças ingleses de ensino médio usando gravata, passando pelos nigerianos de área rural que assistem aula em uma sala com mobiliário doado e até os adolescentes de uma escola pública de Belo Horizonte. Nada escapou às lentes de Julian Germain. Desde 2004, o inglês percorreu 19 países, dentre eles o Brasil, fotografando salas de aula. O resultado desse projeto se transformou em um apanhado de 87 imagens de escolas de todo o mundo, publicadas no livro classroom portraits (ou Retratos da Sala de Aula, em livre tradução), da Prestel, lançado nesta semana.
Em todas as salas de aula que visitou, disse Germain ao Porvir, ele se apresentava, contava do projeto e pedia licença para assistir a aula sentado em um canto. Quando o professor terminava, o fotógrafo posicionava seus equipamentos e tirava o retrato. O procedimento durava, no máximo, 15 minutos. Ele conta que sua preocupação era registrar uma atividade cotidiana. Por isso, pedia que o professor não apagasse o quadro nem que os alunos tirassem seus pertences de lugar. Outra cuidado que tinha era registrar tanto escolas rurais quanto urbanas e atividades de todas as disciplinas.
copyright © Julian Germain, 2012

Escola Estadual Nossa Senhora do Belo Ramo, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Series 6, Matemática. 17 de novembro de 2005. Do classroom portraits 2004-2012, Julian Germain, copyright © Julian Germain, 2012.

Fora esses critérios, não havia nenhum outro grande pré-requisito. “Eu não sou cientista, eu não sou sociólogo. Eu sou um artista. Eu não quero assumir a responsabilidade de dizer que isso é um fato. Eu prefiro dizer que, quando eu fui naquele dia naquele lugar, isso foi o que eu vi”, diz ele. Assim, as escolas e as classes fotografadas não foram escolhidas segundo um mapeamento rígido. Em alguns casos, a viagem foi financiada por uma instituição que lhe abria portas de certos países, especialmente no Oriente Médio. Em outros, ele viajou por conta própria ou para desenvolver um projeto paralelo e aproveitou para fotografar escolas. Nesses casos, era fundamental conhecer alguém cujo filho estudava na escola ou até conhecer alguém, que conhece alguém que pudesse intermediar sua entrada.
Em instituições no Reino Unido, onde educação é um direito adquirido, 47% das crianças disseram achar que a escola era chata. No entanto, em países muito pobres, como Iêmen e Bangladesh, o fotógrafo percebeu que os alunos tinham outra perspectiva.
Foi o que aconteceu com as fotografias de Minas Gerais. Ele veio ao país para desenvolver um outro projeto e alguns conhecidos facilitaram a sua entrada nas três escolas que fotografou. Uma das fotos, a tirada na escola estadual Nossa Senhora do Belo Ramo, em Belo Horizonte, foi parar na capa do livro. “Foi uma opção muito simples de fazer”, diz ele. Segundo o fotógrafo, o fato de o país ser multicultural e conseguir reunir, em uma só imagem, características do mundo todo, facilitou a escolha. “Se eu pusesse uma foto da Nigéria na capa, as pessoa poderiam ter a impressão de que o livro era sobre pobreza ou educação rural. Nós decidimos que essa imagem em particular [a da capa] era interessante porque ela tem um toque levemente global, com crianças negras, hispânicas”, disse ele. Outro fator determinante, acrescentou, é que o menino no centro captura o olhar das pessoas e as convida a entrar na imagem.
Além das fotos, Germain levou também um questionário para cada um dos países. As perguntas não eram as mesmas –nem poderiam ser, frisa o fotógrafo – e foram feitas para ajudar a complementar as informações que as imagens traziam. Ele dá um exemplo: uma pergunta recorrente que fez foi se a criança ou o adolescente acreditava em Deus. No Oriente Médio, no entanto, não fazia sentido fazer esse tipo de questionamento porque não havia a possibilidade de as pessoas não crerem em Deus. Assim como não fazia sentido, complementa, perguntar se um aluno da Etiópia tinha iPhone. “Era muito melhor perguntar se ele tinha acesso à eletricidade em casa”, afirma.
copyright © Julian Germain, 2012

Escola Primária Al Ishraq, AkamatAl Me’gab, Distrito de Manakha, Iêmen. Alunos do 1 ao 6 ano, aula de revisão. 15 de maio de 2007. Do classroom portraits 2004-2012 de Julian Germain, copyright © Julian Germain, 2012.

Apesar de evitar comparações, “para não fazer julgamento de valor”, Germain aponta outra disparidade que lhe chamou a atenção: a relação dos alunos com a escola. Em instituições no Reino Unido, onde educação é um direito adquirido, 47% das crianças disseram achar que a escola era chata, enquanto 16% disseram considerá-la necessária. No entanto, em países muito pobres, como Iêmen e Bangladesh, o fotógrafo percebeu que os alunos tinham outra perspectiva.
“Fotografias sempre se referem ao passado, mas esse livro traz também implícito o sentimento de futuro porque são todas as crianças e adolescentes com uma vida inteira pela frente.”
Germain conta que, em uma das cidades que visitou, resolveu tentar procurar o caminho de uma escola iemenita um dia antes do marcado para a fotografia. Mas, como não encontrava, resolveu pedir ajuda a um menino que jogava futebol na rua. O garoto guiou o inglês por entre ruelas, subidas e descidas e, nesse percurso, Germain resolveu perguntar se ele gostava da escola. “Ele me disse: ‘claro que sim’ e me olhou como se eu tivesse feito a pergunta mais estúpida que se possa imaginar”, disse. “Pelos nossos padrões, esse menino não estava recebendo uma educação boa, mas ele sabia que ele dependia disso para melhorar de vida.”
copyright © Julian Germain, 2012.

Gambela Elementary School, Gambela, Distrito Welisso, Etiópia. Primeiro ano, aula de música. 9 de outubro de 2009. Do classroom portraits 2004-2012, de Julian Germain, copyright © Julian Germain, 2012.

Depois de tantos países percorridos, tantas escolas visitadas, tantas fotografias tiradas, Germain conta que ficou com um sentimento paradoxal. Por um lado, constatou que as escolas são muito parecidas em todo o mundo. “Esse sistema educacional, com um professor na frente, as crianças diante dele e o quadro negro foi inventado nos tempos medievais. Você reconhece uma escola em qualquer lugar que você vá”. Por outro lado, apesar de ainda estarem muito marcadas pelo passado, as imagens passam uma esperança. “Fotografias sempre se referem ao passado, mas esse livro traz também implícito o sentimento de futuro porque são todas as crianças e adolescentes com uma vida inteira pela frente.”
Em todas, os alunos olham para a fotografia, como se conversassem com o observador. “Foi proposital”, diz o inglês. “É muito desafiador ter crianças e jovens do mundo inteiro olhando para mim. Esse olhar meio que diz para nós, adultos, que o mundo no qual eles estão entrando é nossa responsabilidade.”
Serviço:
classroom portraits 2004-2012, de Julian Germain, prefácio de Leonid Ilyushin, professor de pedagogia da Universidade do Estado de St. Petersburg, publicado pela editora Prestel na segunda-feira, 17 de setembro. Preço sugerido de £40 (e cerca de R$ 170 em livrarias brasileiras), 30.5 x 22.5cm 208 pp, 110 col. illus. (ISBN 978-3-7913-4748-6).
*Este post foi alterado às 19h48 de 19 de setembro 2012.

FONTE:
http://porvir.org/porpensar/ingles-fotografa-salas-de-aula-em-19-paises/20120918

sábado, 15 de setembro de 2012

O GATO PRETO – EDGAR ALLAN POE



O GATO PRETO – EDGAR ALLAN POE

Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã morro e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e destruíram.
No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror - mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotesco. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum - uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.

Desde a infância, tornaram-se patentes a docilidade e o sentido humano de meu caráter. A ternura de meu coração era tão evidente, que me tomava alvo dos gracejos de meus companheiros. Gostava, especialmente, de animais, e meus pais me permitiam possuir grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e jamais me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer ou os acariciava. Com os anos, aumentou esta peculiaridade de meu caráter e, quando me tomei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer. Aos que já sentiram afeto por um cão fiel e sagaz, não preciso dar-me ao trabalho de explicar a natureza ou a intensidade da satisfação que se pode ter com isso. Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões freqüentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.

Casei cedo, e tive a sorte de encontrar em minha mulher disposição semelhante à minha. Notando o meu amor pelos animais domésticos, não perdia a oportunidade de arranjar as espécies mais agradáveis de bichos. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um cão, coelhos, um macaquinho e um gato.

Este último era um animal extraordinariamente grande e belo, todo negro e de espantosa sagacidade. Ao referir-se à sua inteligência, minha mulher, que, no íntimo de seu coração, era um tanto supersticiosa, fazia freqüentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas. Não que ela se referisse seriamente a isso: menciono o fato apenas porque aconteceu lembrar-me disso neste momento.

Pluto - assim se chamava o gato - era o meu preferido, com o qual eu mais me distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia sempre pela casa. Tinha dificuldade, mesmo, em impedir que me acompanhasse pela rua.

Nossa amizade durou, desse modo, vários anos, durante os quais não só o meu caráter como o meu temperamento - enrubesço ao confessá-lo - sofreram, devido ao demônio da intemperança, uma modificação radical para pior. Tomava-me, dia a dia, mais taciturno, mais irritadiço, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Sofria ao empregar linguagem desabrida ao dirigir-me à minha mulher. No fim, cheguei mesmo a tratá-la com violência. Meus animais, certamente, sentiam a mudança operada em meu caráter. Não apenas não lhes dava atenção alguma, como, ainda, os maltratava. Quanto a Pluto, porém, ainda despertava em mim consideração suficiente que me impedia de maltratá-lo, ao passo que não sentia escrúpulo algum em maltratar os coelhos, o macaco e mesmo o cão, quando, por acaso ou afeto, cruzavam em meu caminho. Meu mal, porém, ia tomando conta de mim - que outro mal pode se comparar ao álcool? - e, no fim, até Pluto, que começava agora a envelhecer e, por conseguinte, se tomara um tanto rabugento, até mesmo Pluto começou a sentir os efeitos de meu mau humor.

Certa noite, ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser.Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Enrubesço, estremeço, abraso-me de vergonha, ao referir-me, aqui, a essa abominável atrocidade.

Quando, com a chegada da manhã, voltei à razão - dissipados já os vapores de minha orgia noturna - , experimentei, pelo crime que praticara, um sentimento que era um misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e equívoco, pois minha alma permaneceu impassível. Mergulhei novamente em excessos, afogando logo no vinho a lembrança do que acontecera.

Entrementes, o gato se restabeleceu, lentamente. A órbita do olho perdido apresentava, é certo, um aspecto horrendo, mas não parecia mais sofrer qualquer dor. Passeava pela casa como de costume, mas, como bem se poderia esperar, fugia, tomado de extremo terror, à minha aproximação. Restava-me ainda o bastante de meu antigo coração para que, a princípio, sofresse com aquela evidente aversão por parte de um animal que, antes, me amara tanto. Mas esse sentimento logo se transformou em irritação. E, então, como para perder-me final e irremissivelmente, surgiu o espírito da perversidade. Desse espírito, a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante mesmo quando estamos no melhor do nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal? Esse espírito de perversidade, digo eu, foi a causa de minha queda final. O vivo e insondável desejo da alma de atormentar-se a si mesma, de violentar sua própria natureza, de fazer o mal pelo próprio mal, foi o que me levou a continuar e, afinal, a levar a cabo o suplício que infligira ao inofensivo animal. Uma manhã, a sangue frio, meti-lhe um nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado - um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal, afastando-a, se é que isso era possível, da misericórdia infinita de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente terrível.

Na noite do dia em que foi cometida essa ação tão cruel, fui despertado pelo grito de "fogo!". As cortinas de minha cama estavam em chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo, e, desde então, me entreguei ao desespero.

Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito - entre o desastre e a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo - coisa que atribuí ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade, uma parte dela, As palavras "estranho!", "singular!", bem como outras expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em tomo do pescoço do animal.

Logo que vi tal aparição - pois não poderia considerar aquilo como sendo outra coisa - , o assombro e terror que se me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em meu auxílio. O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto à casa. Aos gritos de alarma, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão. Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando-o, através de uma janela aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a intenção de despertar-me. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da carcaça, produzira a imagem tal qual eu agora a via.

Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares que então freqüentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.

Uma noite, em que me achava sentado, meio aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente, por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto. Fazia já alguns minutos que olhava fixamente o alto do barril, e o que então me surpreendeu foi não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a mão. Era um gato preto, enorme - tão grande quanto Pluto - e que, sob todos os aspectos, salvo um, se assemelhava a ele. Pluto não tinha um único pêlo branco em todo o corpo - e o bichano que ali estava possuía uma mancha larga e branca, embora de forma indefinida, a cobrir-lhe quase toda a região do peito.

Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava. Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou interesse algum pelo felino. Não o conhecia; jamais o vira antes.

Continuei a acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal demonstrou disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse - detendo-me, de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa, tomando-se, logo, um dos bichanos preferidos de minha mulher.

De minha parte, passei a sentir logo aversão por ele. Acontecia, pois, justamente o contrário do que eu esperava. Mas a verdade é que - não sei como nem por quê - seu evidente amor por mim me desgostava e aborrecia. Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha, bem como a lembrança da crueldade que praticara, impediam-me de maltratá-lo fisicamente. Durante algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer violência; mas, aos poucos - muito gradativamente - , passei a sentir por ele inenarrável horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma peste.

Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa, que, como Pluto, também havia sido privado de um dos olhos. Tal circunstância, porém, apenas contribuiu para que minha mulher sentisse por ele maior carinho, pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de muitos de meus prazeres mais simples e puros.

No entanto, a preferência que o animal demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que sentia por ele. Seguia-me os passos com uma pertinácia que dificilmente poderia fazer com que o leitor compreendesse. Sempre que me sentava, enrodilhava-se embaixo de minha cadeira, ou me saltava ao colo, cobrindo-me com suas odiosas carícias. Se me levantava para andar, metia-se-me entre as pemas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo - apresso-me a confessá-lo - , pelo pavor extremo que o animal me despertava.

Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me envergonha confessar - sim, mesmo nesta cela de criminoso - , quase me envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar. Minha mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a que já me referi, e que constituía a única diferença visível entre aquele estranho animal e o outro, que eu enforcara. O leitor, decerto, se lembrará de que aquele sinal, embora grande, tinha, a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira quase imperceptível - que a minha imaginação, durante muito tempo, lutou por rejeitar como fantasiosa -, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos. Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer... E, sobretudo por isso, eu o encarava como a um monstro de horror e repugnância, do qual eu, se tivesse coragem, me teria livrado. Era agora, confesso, a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a imagem da forca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte!

Na verdade, naquele momento eu era um miserável - um ser que ia além da própria miséria da humanidade. Era uma besta-fera, cujo irmão fora por mim desdenhosamente destruído... uma besta-fera que se engendrara em mim, homem feito à imagem do Deus Altíssimo. Oh, grande e insuportável infortúnio! Ai de mim! Nem de dia, nem de noite, conheceria jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava a sós um único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado do indescritível terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme peso - encarnação de um pesadelo que não podia afastar de mim - pousado eternamente sobre o meu coração!

Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se em meus únicos companheiros - os mais sombrios e os mais perversos dos pensamentos. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as coisas e por toda a humanidade - e enquanto eu, agora, me entregava cegamente a súbitos, freqüentes e irreprimíveis acessos de cólera, minha mulher - pobre dela! - não se queixava nunca convertendo-se na mais paciente e sofredora das vítimas.

Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar, O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.

Realizado o terrível assassínio, procurei, movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos.

Ocorreram-me vários planos. Pensei, por um instante, em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois, cavar uma fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal. Mudei de idéia e decidi metê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.

Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.

E não me enganei em meus cálculos. Por meio de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e tendo depositado o corpo, com cuidado, de encontro à parede interior. Segurei-o nessa posição, até poder recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam anteriormente. Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em tomo, disse, de mim para comigo: "Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão".

O passo seguinte foi procurar o animal que havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo. Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante a violência de minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito. Impossível descrever ou imaginar o profundo e abençoado alívio que me causava a ausência de tão detestável felino. Não apareceu também durante a noite - e, assim, pela primeira vez, desde sua entrada em casa, consegui dormir tranqüila e profundamente. Sim, dormi mesmo com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.

Transcorreram o segundo e o terceiro dia - e o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O monstro, aterrorizado fugira para sempre de casa. Não tomaria a vê-lo! Minha felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava. Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria em minha casa, mas, naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a minha felicidade futura.

No quarto dia após o assassinato, uma caravana policial chegou, inesperadamente, a casa, e realizou, de novo, rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobriria jamais o lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os policiais pediram-me que os acompanhasse em sua busca. Não deixaram de esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo o porão, de ponta a ponta. Com os braços cruzados sobre o peito, caminhava, calmamente, de um lado para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair. O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tomar duplamente evidente a minha inocência.

- Senhores - disse, por fim, quando os policiais já subiam a escada - , é para mim motivo de grande satisfação haver desfeito qualquer suspeita. Desejo a todos os senhores ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída... (Quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade.) Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes - os senhores já se vão? - , estas paredes são de grande solidez.

Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa de meu coração.

Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano. Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia, e dos demônios exultantes com a sua condenação.

Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto, aos olhos dos presentes.

Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco.

Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!


Qual a diferença entre CD, DVD e MP3?



por Fernando Tió Neto
Primeiro, vamos explicar a diferença entre CD e DVD. A distinção principal é a capacidade de armazenamento, que é sete vezes maior no DVD que no CD. Tanto no CD quanto no DVD, os dados de som e imagem ficam armazenados em uma longa linha espiral, que recobre toda a superfície de alumínio. A diferença é a espessura da linha. No CD, ela mede 1 600 nanômetros, algo como uma vez e meia o diâmetro de um fio de cabelo. No DVD, a linha tem 740 nanômetros, pouco mais que a metade do diâmetro do mesmo fiozinho. Como a linha do DVD é mais fina, cabem mais voltas da linha no disco - e, por conseqüência, mais dados. Mas essa evolução não pára com o DVD convencional. Em 2003, chegou ao mercado o blu-ray, um novo formato de DVD ainda mais preciso. Para ler as informações gravadas na espiral, o leitor óptico do blu-ray utiliza um laser azul, mais fininho que o tradicional laser vermelho dos CDs e DVDs. Resultado: maior capacidade de armazenamento. Falta falar das modalidades regraváveis de CD e DVD, os CD-RW e DVD-RW. Eles têm uma camada extra em relação aos convencionais: uma película de tinta especial, onde as informações ficam gravadas. Nos regraváveis, onde há dados, a tinta fica opaca. Onde não tem nada, ela é brilhante. A vantagem é que esse tipo de gravação não é permanente - por meio de uma "raspagem" a laser, um gravador de CDs ou de DVDs consegue deixar toda a tinta brilhante de novo, pronta para ser regravada. Por último, é a vez do MP3, que não é um tipo de disco, mas um formato de compressão que diminui o tamanho dos arquivos de música no CD ou no computador. Só para comparar, em um CD normal cabem 80 minutos de música no formato ".wav", o mais tradicional. Em MP3, esse mesmo CD pode armazenar até 12 horas de som!

Esquadrão da imagem e do som Destrinchamos os pontos fortes e fracos das oito mídias mais avançadas da atualidade
O QUE É - Disco de alumínio recoberto com acrílico, capaz de armazenar dados na forma de músicas, vídeos e programas
CAPACIDADE - 700 megabytes (80 minutos de música em formato ".wav" ou 12 horas em MP3)
VANTAGEM - Funciona em aparelhos de som, computadores, DVD players, discmen...
DESVANTAGEM - Capacidade de armazenamento pequena comparada à do DVD
CD-R
O QUE É - CD virgem utilizado para gravar o que o usuário quiser por meio de um aparelho gravador de CDs. O "R" significa recordable, ou gravável
CAPACIDADE - A mesma de um CD
VANTAGEM - Preço baixo e possibilidade de escolher sua própria lista de músicas
DESVANTAGEM - Só pode ser gravado uma vez
CD-RW
O QUE É CD - virgem usado em múltiplas regravações por meio de um aparelho gravador de CDs. O "RW" é de rewritable, regravável
CAPACIDADE - A mesma de um CD
VANTAGEM - Capacidade de reutilização. Pode ser gravado mais de uma vez
DESVANTAGEM - Versatilidade reduzida. Nem todos os CD players de carros estão adaptados para ler seus arquivos
DVD
O QUE É - Disco de alumínio recoberto com acrílico, capaz de armazenar sons e imagens
VANTAGEM - Capacidade de armazenamento sete vezes superior à de um CD
DESVANTAGEM - Preço relativamente elevado. Um DVD custa, em média, quatro vezes mais que um CD
CAPACIDADE - 4,7 gigabytes (suficiente para um filme de três horas ou 4 700 horas de música em MP3)
VCD
O QUE É - Sigla de video compact disc, um formato de compressão que permite a um CD armazenar mais arquivos do que normalmente guardaria
CAPACIDADE - Um filme de até duas horas e meia
VANTAGEM - Espreme dentro de um CD um arquivo de vídeo que só poderia ser armazenado em um DVD
DESVANTAGEM - A qualidade da imagem fica prejudicada. Dá para o gasto se for exibida em micros, mas não em televisores
O QUE É - Formato de compressão que permite reduzir o tamanho de arquivos de áudio. Exige computador ou MP3 player para tocar as músicas
CAPACIDADE - Um MP3 player guarda até 4 mil minutos de áudio
VANTAGEM - Ocupa pouco espaço e tem qualidade boa
DESVANTAGEM - Os MP3 players ainda são caros: os mais simples custam 500 reais
CD-ROM
O QUE É - CD multimídia produzido para computadores. "ROM" significa read only memory, ou "memória apenas para leitura"
CAPACIDADE - A mesma de um CD
VANTAGEM - Pode armazenar programas, imagens e sons
DESVANTAGEM - Arquivos multimídia com imagem só funcionam em computadores
BLU-RAY
O QUE É - Novo formato de DVD mais preciso que o convencional. Exige DVD player específico para ler o disco
CAPACIDADE - 27 gigabytes (13 horas de filmes)
VANTAGEM - Melhora a qualidade do som e vídeo e aumenta a capacidade de armazenamento do disco
DESVANTAGEM - Preço alto. Os primeiros aparelhos não saem por menos de 9 000 reais