Quem sou eu

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Santa Cruz do Capibaribe/ Caruaru, NE/PE, Brazil
Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Eis o Mundo de Fora - Adrienne Myrtes

  • Eis o Mundo de Fora 
     
     
    Eis o Mundo de Fora conta a história de Luis e Irene, os protagonistas deste romance. Nela, ambos dizem muitas coisas, que eles próprios já não suportam ouvir. Trazem notícias da vida e da morte, em um vocabulário contundente e realista. Luís e Irene se confundem com esses extremos da existência: os protagonistas seriam a morte e a vida, e Irene e Luis seriam apenas cantados por elas? O jogo de narrativas e possibilidades da obra permeia o texto. O mais comezinho e cru é o que paradoxalmente assume outra dimensão. Os odores, os resíduos, os pruídos, os líquidos mais humanos acenam como índices de transcendência – que parece não se cumprir, eis a graça.

    Autora: Adrienne Myrtes
    Biografia: Adrienne Myrtes é também artista plástica e publicou o livro de contos A Mulher e o Cavalo e Outros Contos, a novela juvenil A Linda História de Linda em Olinda – este último em parceria com o escritor Marcelino Freire – e participou das antologias Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século (Ateliê Editorial, 2004) e 35 Segredos para Chegar a Lugar Nenhum – Literatura de Baixo-Ajuda, entre outras.


    Em breve lerei. Já estou ansiosa e resolvi também compartilhar com vocês.
    Boa dica para as férias

    fonte:
    http://www.atelie.com.br/shop/detalhe.php?id=589&fb_source=message

Doze autores

Doze autores: especial Dia do Orgulho Gay



Os poetas e escritores presentes nesta lista são talentosos apesar de terem mantido relacionamentos com pessoas do mesmo sexo? Não. São talentosos e mantiveram relacionamentos com pessoas do mesmo sexo, e nos presentearam com obras magníficas em poesia e em prosa. É importante perceber a quebra de paradigmas que seu comportamento e seu posicionamento (quando houve) representaram em determinadas épocas, o que já significou certa luta em prol da causa gay — alguns com maior impacto, outros, mais discretos, com menor. Todos, de alguma maneira, traduziram na escrita os seus sentimentos e sua visão.

.Federico García Lorca

Foi um dos alvos do conservadorismo espanhol, visto que não escondia suas tendências socialistas e homossexuais. Com o argumento de que era “mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver”, teve sua prisão decretada por um deputado enquanto estava em Granada. Sem julgamento, foi executado pelos nacionalistas com um tiro na nuca. Em função da homossexualidade, diz-se que García Lorca foi fuzilado de costas.

Soneto da carta

Amor, que a vida em morte em mim convertes,
espero em vão tua palavra escrita
e, flor a se murchar, meu ser medita
que se vivo sem mim quero perder-te.

É infinito o ar. A pedra inerte
nada sabe da sombra e não a evita.
Íntimo, o coração não necessita
do congelado mel que a lua verte.

Por ti rasguei as veias às dezenas,
tigre e pomba, cobrindo-te a cintura
com luta de mordiscos e açucenas.

Tuas palavras encham-me a loucura
ou deixa-me viver minha serena
e infinda noite da alma, escura, escura.

(Tradução de Afonso Félix de Sousa)

Elizabeth Bishop

Nascida em Worcester, Elizabeth, depois de ganhar algum dinheiro com o reconhecimento pelo seu trabalho, decidiu viajar pela América do Sul. Desembarcou em Santos em 1951. Esperava permanecer no Brasil por poucos dias, mas prolongou a estadia por duas décadas — tudo porque conheceu, aqui, a paisagista e urbanista Lota de Oliveira Soares.

A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.

(Tradução de Paulo Henriques Britto
)


Safo de Lesbos

Devido ao conteúdo erótico, sua poesia sofreu censura pelos monges copistas. Restaram apenas fragmentos. Sua vida pessoal é controversa, embora permaneça “uma referência para lésbicas por seu olhar sensual sobre mulheres, em especial no Fragmento 31, em que se imagina em um triângulo amoroso, observando cheia de desejo a mulher que flerta com um homem”. [Sophie Mayer]

E agora, ó companheira bem amada,
querem levar-te para longe do meu peito,
como fazem também às jovens corças.

Adoro, mais que tudo, a flor da juventude.
Meu coração apaixonou-se pelo sol,
meu coração apaixonou-se pela beleza.

Igual aos deuses me parece
quem a teu lado vai sentar-se,
quem saboreia a tua voz
mais as delícias desse riso.

Quem me derrete o coração
e o faz bater sobre os meus lábios.
Assim que vejo esse teu rosto,
quebra-se logo a minha voz,

seca-me a língua entre os dentes,
corre-me um fogo sob a pele,
ficam-me surdos os ouvidos
e os olhos cegos de repente.

Torna-se líquido o meu corpo:
transpiro e tremo ao mesmo tempo.
Vejo-me verde: mais que a erva.
Só por acaso é que não morro.

Mergulha o teu corpo nesta água clara;
veste-lhe a brancura de açafrão e púrpura;
e o bordado brilho que há na tua túnica
aumente a beleza que me é tão cara…

A morte não é um bem.
Os próprios deuses o sabem.
Eles preferiram viver…

Caio Fernando Abreu

Homossexual assumido, chegou a escrever sobre a temática gay. Descreve as relações entre homens como naturais e espontâneas.

“Sôfrego, torno a anexar a mim esse monólogo rebelde, essa aceitação ingênua de quem não sabe que viver é, constantemente, construir, não derrubar. De quem não sabe que esse prolongado construir implica em erros, e saber viver implica em não valorizar esses erros, ou suavizá-los, distorcê-los ou mesmo eliminá-los para que o restante da construção não seja abalado. Basta uma pausa, um pensamento mais prolongado para que tudo caia por terra. Recomeçar é doloroso. Faz-se necessário investigar novas verdades, adequar novos valores econceitos. Não cabe reconstruir duas vezes a mesma vida numa única existência. Por isso me esquivo, deslizo por entre as chamas do pequeno fogo, porque elas queimam. Queimar também destrói.”

.Jean Cocteau

Ainda que nunca tenha escondido sua homossexualidade, teve rápidos e intensos relacionamentos com mulheres. Publicou um considerável número de ensaios criticando a homofobia.

Arthur Rimbaud

Rimbaud enviou para Paul Verlaine amostras de sua obra. Recebeu, então, um convite para residir na casa do poeta. Este, que era casado, apaixonou-se prontamente pelo adolescente calado, de olhos azuis e cabelo castanho-claro comprido. Enquanto é provável que Verlaine já havia tido um caso homossexual, ainda permanece incerto se o relacionamento com Verlaine foi o primeiro de Rimbaud. Os amantes levaram uma vida ociosa, regada a absinto e haxixe. Escandalizaram o círculo literário parisiense por causa do comportamento ultrajante de Rimbaud, o arquetípico enfant terrible, que durante este período continuou a escrever notáveis versos visionários.

Virginia Woolf

Bissexual. Ainda que fosse casada, é sabido que manteve um romance com Vita Sackville-West, também escritora.

“E Vita vem almoçar amanhã, o que será muito divertido e agradável. Minhas relações com ela me divertem: tão ardente em janeiro – agora, como será? Também gosto da sua presença e beleza. Estarei apaixonada por ela? Mas o que é o amor? O fato de ela estar “apaixonada” por mim (deve ser assim entre aspas) me excita, e lisonjeia, e interessa. O que é esse “amor”? Ah, e depois ela gratifica minha eterna curiosidade: quem ela viu, o que fez – pois não tenho alta opinião sobre a poesia dela.”
(1924? Diário de Virginia)

Marcel Proust

A homossexualidade é tema recorrente em sua obra, principalmente em Sodoma e Gomorra e nos volumes subsequentes. Foi, percebe-se, um dos primeiros romancistas a tratar o tema de forma aberta e detalhada.

Gertrude Stein

Alice B. Toklas era companheira de Gertrude Stein. Entretanto, embora haja muita especulação, qualquer uma delas jamais pronunciou a palavra “lésbica”. Henry James foi quem cunhou a expressão “Boston marriage”, ou “casamento bostoniano”, típica do século XIX norte-americano: “Em sociedade patriarcal, serviu e ainda serve para descrever o lar onde duas amigas vivem como irmãs, compartilhando o mesmo teto sem a companhia, o apoio ou a provedoria masculina. A atual crise econômica global trouxe de volta núcleo familiar semelhante. No novo milênio, são mães solteiras que se reúnem com os filhos numa única casa, ‘with no role for men or romance.’” O cunhador do termo, o próprio James, não mencionou, à maneira da época, a natureza das relações: “(…) não deixou claro se a expressão casamento bostoniano recobria relações onde a intimidade emocional era duplicada pelo contato físico — relações lésbicas. (…) A escrita geralmente ascética ou assexuada de Gertrude Stein também exige que não se confunda o pseudoartista histérico com o verdadeiro artista santo.” Entretanto, é um consenso entre os estudiosos de Stein que havia, sim, uma relação de cunho homossexual entre as duas: Gertrude e Alice eram parceiras.

Allen Ginsberg

Ao ingressar na Universidade de Columbia, fez amizade com um grupo de jovens delinquentes, filósofos de almas selvagens (entre eles Jack Kerouac), obcecados igualmente por drogas, sexo e literatura. Ao mesmo tempo em que ajudava os amigos a desenvolverem os seus talentos literários, Allen experimentava drogas, frequentava bares gays em Greenwich Village e vivia seus affairs homossexuais.

Oscar Wilde

Wilde sempre defendeu “o amor que não ousa dizer o nome”, definição sobre a homossexualidade, como forma de mais perfeita afeição e amor.

Simone de Beauvoir

Era bissexual. Na obra O segundo sexo, fala abertamente da sua sexualidade e das relações que mantinha com as alunas. Ela defendia e participava de triângulos amorosos, inclusive com o filósofo Jean-Paul Sartre, com quem compartilhava amantes.


Fonte: site Livros Abertos

Filmes para assistir nas férias - DRAMA (algumas dicas)

Melancolia
Melancolia - De Lars von Trier. 2011 (Califórnia).
Com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg. O dinamarquês Lars von Trier volta ao seu território habitual, dissecando os alicerces de uma família. No centro da história está a relação difícil de duas irmãs, a emocional Justine (Kirsten Dunst, prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes deste ano) e a racional Claire (Charlotte Gainsbourg) - que não tardarão a trocar de papéis, em plena festa de casamento da primeira, à medida que se torna claro que nada restará na Terra depois do choque contra o planeta Melancolia.
>Um sonho de amor
Um sonho de amor - De Luca Guadagnino. 2009 (Paris).
Com Tilda Swinton, Alba Rohrwacher. Indicado ao Oscar de figurino, o drama revela a impressionante segurança do diretor italiano Luca Guadagnino (de 100 Escovadas Antes de Dormir, 2005), amparado numa trama familiar que homenageia Luchino Visconti, inclusive por se ambientar em Milão, terra natal do diretor de O Leopardo (1963). Nada melhor, porém, do que a magnética atriz londrina Tilda Swinton no papel da matriarca Emma Recchi, que tudo arrisca na paixão por um jovem amigo de seu filho caçula.
A árvore da vida
A árvore da vida
De Terrence Malick. 2011 (Imagem). Com Sean Penn, Brad Pitt. A Palma de Ouro obtida no Festival de Cannes neste ano não impediu que o trabalho do bissexto diretor norte-americano dividisse as opiniões. Há quem ame e quem deteste este longa, que se apóia numa narrativa nada linear para navegar nas memórias familiares de Jack, imbuídas da extrema divisão de valores incutidos por uma mãe mais espiritual e um pai violento e pragmático. De quebra, em belas imagens, o cineasta insere uma discussão sobre a origem da vida e a existência de Deus
Jean de Florette/ A vingança de Manon
Jaen de Florette/ A vingaça de Manon
De Claude Berri. 1986 (Versátil). Com Gérard Depardieu, Yves Montand. Baseado na obra do escritor Marcel Pagnol, o diretor Claude Berri desdobrou em dois filmes um drama de fortes tintas sociais. Jean de Florette introduz a história de Jean, homem da cidade que herda uma propriedade na Provença. Muda-se para lá com a família, dedicando-se à agricultura. Ele se arruína porque os vizinhos bloquearam a nascente oculta nas terras dele. Anos mais tarde, sua filha dá o troco em A Vingança de Manon.
O mágico
O mágico
De Sylvain Chomet. 2010 (PlayArte). Partindo de um roteiro do diretor francês Jacques Tati (1907-1982), o cineasta também francês Sylvain Chomet criou uma animação que colecionou prêmios e foi indicado ao Oscar de 2011. Diretor de As Bicicletas de Belleville (2003), Chomet permitiu-se mudanças na história original, transferindo o cenário de Praga para Paris, Londres e Edimburgo. É por essas cidades que viaja o protagonista, um mágico desastrado, calcado na imagem e semelhança do Tati da vida real, acompanhado por um coelho mal-humorado.
Um caminho para dois
Um caminho para dois
De Stanley Donen. 1967 (Versátil). Com Audrey Hepburn, Albert Finney. Diretor do clássico Cantando na Chuva (1952), Stanley Donen eleva o patamar das histórias românticas nessa crônica múltipla de um amor, cujo roteiro original, do norte-americano Frederic Raphael, foi indicado ao Oscar. Mark (Albert Finney) se apaixona por Joanna (Audrey Hepburn), integrante de um coro feminino em viagem pela Europa. Indo e vindo nessa narrativa de mais de uma década da vida a dois, o filme detalha essa atração e alguns percalços.
O vencedor
O vencedor
De David O. Russell. 2010 (Imagem). Mark Wahlberg, Christian Bale, Melissa Leo, Amy Adams. Os atores Christian Bale e Melissa Leo levaram merecidos Oscar de coadjuvantes nesse saga familiar, baseada em personagens reais. Micky (Mark Wahlberg) é o irmão caçula de um clã irlandês, em que um irmão mais velho, Dicky (Christian Bale), já brilhou nos ringues, mas queimou sua chance de um grande título. Com o peso da expectativa e a marcação da mãe (Melissa Leo), Micky oscila, mas ganha força com uma namorada valente (Amy Adams).
London River - Destinos Cruzados
London River - Destinos Cruzados
De Rachid Bouchareb. 2009 (Califórnia). Com Brenda Blethyn, Sotigui Kouyaté. A atriz inglesa Brenda Blethyn e o ator malinês Sotigui Kouyaté formam a dupla improvável que se encontra na Londres de 2005, abalada pelos atentados terroristas. De culturas diferentes, eles têm em comum o desaparecimento de seus respectivos filhos. O diretor francês é um exímio intérprete de assuntos polêmicos, como visto no seu recente drama Fora da Lei (2010), em que aborda questões da comunidade argelina na França.
Minha terra, África
Minha terra, África
De Claire Denis. 2009 (Imovision).Com Isabelle Huppert, Christopher Lambert. Os efeitos do colonialismo em um país africano são o pano de fundo desse drama denso, em que a diretora francesa Claire Denis coloca em primeiro plano seu conhecimento direto da África, onde passou parte de sua adolescência. A também francesa Isabelle Huppert está à vontade na pele da protagonista, Maria Vidal, a administradora de uma fazenda pertencente a uma família europeia que é confrontada pelas ameaças crescentes de uma guerra civil.
Whity
Whity
De Rainer Werner Fassbinder. 1971 (Lume). Com Günther Kaufmann, Hanna Schygulla. Filme menos conhecido do celebrado diretor alemão, cujo nome é mais associado à minissérie Berlim Alexanderplatz (1980) e a dramas como O Casamento de Maria Braun (1979). Nesa obra, ambientada nos EUA, em 1878, ele subverte o clima de faroeste para retratar o clã disfuncional dos Nicholson. O protagonista é seu mordomo, o mulato conhecido como Whity (Günter Kaufmann). Tentando cumprir todas as ordens, ele se vê diante de uma escolha criminosa.
A vida durante a guerra
A vida durante a guerra
De Todd Solondz. 2009 (Imagem). Com Dylan Riley Snyder, Shirley Henderson. Um dos nomes consagrados do circuito independente dos EUA, o diretor Todd Solondz retorna ao melhor de seu estilo, revisitando personagens do premiado Felicidade (1998). O protagonista é um menino de 11 anos, Timmy (Dylan Riley Snyder), que se mostra sempre capaz de fazer as perguntas mais inquietantes. Questões como pedofilia, terrorismo e paranoia emergem do relacionamento dos personagens, seguindo uma sagaz construção dramatúrgica.
Vincere
Vincere
De Marco Bellocchio. 2009 (Imovision). Com Giovanna Mezzogiorno, Filippo Timi. Remanescente de uma das mais brilhantes gerações do cinema italiano, ao lado de Federico Fellini e Ettore Scola, Marco Bellocchio retorna à política, tema que abordou no premiado filme Bom Dia, Noite (2003). Mergulha no passado e na figura carismática de um Benito Mussollini ainda jovem. O enredo procura as pistas de Ida Dalser, amante e mãe de um filho do futuro ditador, que, por sua recusa em permanecer na sombra, foi condenada a desaparecer da história oficial
Salmo vermelho
Salmo vermelho
De Miklós Jancsó. 1972 (Lume). Com József Madaras, Tibor Orbán. Ganhador do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes de 1972, o filme do diretor húngaro impressiona pela maestria visual, pelo vulto da produção (que se valeu do trabalho de cerca de 1,5 mil atores) e um peculiar uso da música para definir os personagens dessa curiosa parábola política, ambientada em 1890. O enredo gira em torno dos diversos momentos de uma revolta camponesa, desvelando, pouco a pouco, o funcionamento dos mecanismos do poder e da opressão.
Os primos
Os primos
De Claude Chabrol. 1959 (Lume). Com Gérard Blain, Jean-Claude Brialy. O segundo filme do diretor francês - falecido no ano passado - é um dos mais típicos representantes da renovação introduzida pela Nouvelle Vague no cinema francês. A história de dois primos, o interiorano Charles e o descolado parisiense Paul, transforma-se num retrato de geração ao traduzir os sentimentos conflitantes dos dois. A inocência de Charles, confrontada com a displicência de Paul, sustenta a tensão dramática, contando com o cinismo de Chabrol na condução da trama.
Biutiful
Biutiful
De Alejandro González Iñárritu. 2010. (Paris). Com Javier Bardem, Maricel Álvarez. O ator espanhol Javier Bardem cravou a sua terceira indicação ao Oscar pela interpretação de Uxbal, um agenciador de imigrantes clandestinos em Barcelona, atormentado por problemas de saúde e conflitos familiares. Quem equilibra essa mistura, plena de sentimentos e profundamente enraizada na realidade contemporânea, é o diretor e roteirista mexicano Alejandro Iñárritu, em seu primeiro filme sem o parceiro habitual, o conterrâneo Guillermo Arriaga (Babel, 2006).
Reencontrando a Felicidade
Reencontrando a Felicidade
De John Cameron Mitchell. 2010 (Paris). Com Nicole Kidman, Aaron Eckhart. Este drama familiar rendeu à norte-americana Nicole Kidman sua terceira indicação ao Oscar de melhor atriz (já vencedora do prêmio em 2002 por As Horas). Com notável sobriedade, ela interpreta Becca, cuja vida mergulhou num profundo impasse depois da morte do filho pequeno por um descuido, pelo qual ela e o marido sentem-se culpados. A originalidade da história está nos desdobramentos do inusitado relacionamento entre Becca e o rapaz envolvido no acidente com seu filho.
A Rainha Margot
A Rainha Margot
De Patrice Chéreau. 1994 (Versátil). Com Isabelle Adjani, Daniel Auteuil. Ator e diretor tão bem-sucedido no teatro quanto no cinema, o francês Patrice Chéreau imprime energia única neste vibrante drama histórico, baseado no livro de Alexandre Dumas e vencedor dos prêmios do júri e de melhor atriz em Cannes. Nesta versão do diretor, em DVD duplo com 11 minutos a mais do que a original, ressurge a potência do drama da princesa Margot. Irmã do rei católico Carlos IX, ela é forçada a um casamento de conveniência com o nobre protestante Henrique de Navarra.
A minha versão do amor
A minha versão do amor
De Richard J. Lewis. 2010 (Califórnia). Com Paul Giamatti, Dustin Hoffman. Paul Giamatti levou um merecido Globo de Ouro por sua interpretação de Barney Panofsky - o protagonista dúbio desta comédia dramática. Produtor de TV, boêmio e mulherengo, Barney vive o turbilhão dos anos 60 e se apaixona pela mulher de sua vida, Miriam, bem no dia em que se casa com outra. Equilibrando ternura e humor - não raro, bem negro -, sustenta-se um filme bem agradável, valorizado com a participação de Dustin Hoffman, na pele do pai policial e cafona do protagonista.
O Concerto
O Concerto
De Radu Mihaileanu. 2009 (Paris). Com Aleksey Guskov, Mélanie Laurent, Dmitri Nazarov. A história reúne comédia e drama na mesma tomada para contar a aventura de um maestro russo, caído em desgraça no governo de Leonid Brezhnev. Por se recusar a demitir os músicos judeus, ele foi rebaixado a faxineiro no mesmo prédio da orquestra Bolshoi que regia antes. Um acidente do destino oferece-lhe a oportunidade de uma revanche, liderando um concerto em Paris - onde espera acertar contas de uma história sentimental, ligada a uma jovem violinista.
Poesia
Poesia
De Lee Chang-dong. 2010 (Imovision). Com Jeong-hie Yun, Hira Kim, Nae-sang Ahn. Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes de 2010, o drama é um primor de delicadeza na sua narrativa. A avó Mija tenta lidar com uma realidade que lhe escapa não só pela dificuldade de enfrentar o envolvimento do neto no suicídio de uma garota, como também pelos primeiros sinais do mal de Alzheimer. Matricula-se num curso de poesia, o que a leva a uma nova percepção. Simples na superfície, a história amplia seu alcance no desempenho sutil da protagonista.
A montanha dos 7 abutres
A montanha dos 7 abutres
De Billy Wilder. 1951 (Paramount). Com Kirk Douglas, Jan Sterling. Só agora lançado em DVD este que é um dos dramas mais envolventes sobre os pecados do sensacionalismo na imprensa. Chuck Tatum, um repórter demitido de um grande jornal, se frustra num pequeno emprego até o dia em que lhe cai no colo a cobertura de um acidente numa mina, onde um homem ficou preso. Colocando em primeiro plano sua agenda pessoal de vingança contra os antigos patrões, o jornalista manipula a mulher da vítima e as autoridades, preparando uma tragédia.
Bonequinha de luxo
Bonequinha de luxo
De Blake Edwards. 1961 (Paramount). Com Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal. Audrey Hepburn, a mais pop das divas de Hollywood - e a que mais tem a dizer aos dias atuais - incorpora aqui sua personagem mais marcante, a Holly Golightly, criada por Truman Capote. Essa sonhadora, que oscila entre a ingenuidade e a amoralidade, na busca de um casamento rico entre as vitrines luxuosas de Nova York, valeu-lhe uma indicação ao Oscar. Entre os extras desta edição, making of, cópia do script, fotos e carta do diretor.
Cisne negro
Cisne negro
De Darren Aronofsky. 2010 (Fox). Com Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel. Natalie Portman, vencedora do Oscar de melhor atriz de 2010, é a principal razão para ver este drama sobre os delírios de uma bailarina, Nina, em sua procura da perfeição. Mas não é a única. O diretor e corroteirista, Darren Aronofsky (Leão de Ouro em Veneza de 2008 com o drama O Lutador), humaniza a trajetória da personagem, contrapondo-a a uma rival, a colega Lily (Mila Kunis, indicada ao Oscar de coadjuvante). O conflito compensa os clichês do roteiro previsível.
O leopardo
O leopardo
De Luchino Visconti. (1963) (Versátil).Com Burt Lancaster, Claudia Cardinale. Vencedora da Palma de Ouro em Cannes, esta desconcertante adaptação do romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa é relançada em edição dupla, com diversos extras, numa versão remasterizada. A história mostra a passagem do poder, no século 19, das mãos da nobreza arruinada, simbolizada pelo príncipe de Salina (Burt Lancaster), para a de uma burguesia rica, ainda que sem refinamento, encarnada pelo ex-camponês Don Calogero Sedara (Paolo Stoppa).
O discurso do rei
O discurso do rei
De Tom Hooper. 2010 (Paris).Com Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush. Assentada a poeira da vitória em quatro modalidades do Oscar - melhor filme, diretor, ator (Colin Firth) e roteiro original -, o filme pode agora ser reavaliado. Ficam mais distantes as acusações de pouca fidelidade histórica e saltam à vista as maiores qualidades da produção e a fluência da narrativa. Agrada ainda mais o jogo da atuação entre o inglês Colin Firth, no papel do rei George VI, e o australiano Geoffrey Rush, no papel do seu nada ortodoxo terapeuta de fala.
Dois irmãos
Dois irmãos
De Daniel Burman. 2010 (Imovision). Com Graciela Borges e Antonio Gasalla. Contando com a entrega e o empenho de seus dois refinados protagonistas, Susana (Graciela Borges) e Marcos (Antonio Gasalla), o experiente diretor argentino constrói uma inspirada espiral de situações cômicas, baseadas no amor e ódio insuperáveis entre dois irmãos solteirões. Depois da perplexidade que enfrenta diante da morte da mãe, com quem vivia, Marcos se dispõe a ousar novos rumos. Isso incomoda Susana, acostumada a manipular o irmão em proveito próprio.
Abutres
Abutres
De Pablo Trapero. 2010 (Paris). Com Ricardo Darín, Martina Gusman. Cheio de adrenalina e impressionantes acidentes de automóvel, esse drama argentino une a denúncia social ao romance desesperado. A paramédica Luján (Martina Gusman) trabalha num pronto-socorro. Ela conhece Sosa (Ricardo Darín, de O Segredo de Seus Olhos, 2009), um advogado que perdeu sua licença e agora vive de esquemas fraudulentos de seguros. Darín abandona sua imagem de galã, compondo o personagem mais ambíguo e contraditório de sua carreira.
Neste mundo e no outro
Neste mundo e no outro
De Michael Powell e Emeric Pressburger. 1946 (Versátil).Com David Niven, Kim Hunter. Conhecidos pelo apuro visual de suas produções, os diretores britânicos superam-se nesse trabalho. Misturando romance, comédia e suspense, acompanham-se as peripécias de um piloto britânico, cujo avião é atingido na Segunda Guerra Mundial. Ele devia ter morrido, mas quando um emissário vem buscá-lo, ele se rebela e ganha a chance de brigar por sua vida num tribunal celeste. Um ponto alto está no visual do paraíso, concebido pelo desenhista de produção Alfred Junge.
Namorados para sempre - De Derek Cianfrance. 2010 (Paris).
A atriz norte-americana Michelle Williams conquistou a segunda indicação ao Oscar neste drama romântico.

As lágrimas amargas de petra von kant - De Rainer W. Fassbinder. 1972 (Cult Classic) Este melodrama disseca a paixão da estilista Petra por uma jovem.

Um momento, uma vida - De Sydney Pollack. 1977 (Lume) Al Pacino interpreta o corredor Bobby Deerfield e vive um romance com uma mulher misteriosa e doente.

As lágrimas amargas de petra von kant - De Rainer W. Fassbinder. 1972 (Cult Classic) Este melodrama disseca a paixão da estilista Petra por uma jovem.

Estamos juntos - De Toni Venturi. 2011 (Imagem) O drama do diretor paulistano Toni Venturi faz justiça ao talento da atriz Leandra Leal, como uma médica diante da própria doença.

Minhas Tardes Com Margueritte - De Jean Becker. 2010 (Imovision). Sucesso cult nos cinemas, equilibra-se na delicada amizade entre um homem rude e uma doce velhinha.

Vips - De Toniko Melo. 2010 (Universal). Com sua interpretação magistral, o ator Wagner Moura revela novas camadas da personalidade intrigante de um estelionatário.

Tetro - De Francis Ford Coppola. 2009 (Imovision). O diretor de O Poderoso Chefão (1972) renova sua perícia narrativa ao contar a história de dois irmãos distantes.

Incêndios - De Denis Villeneuve. 2010 (Imovision). A sobriedade da direção e o talento da atriz belga Lubna Azabal dão consistência ao drama canadense, indicado ao Oscar de 2011.

A Viagem - De Michel Deville. 1980 (Lume). A condição feminina entra em foco neste delicado road movie de duas amigas de infância (Dominique Sanda e Geraldine Chaplin).

Malu de bicicleta - De Flávio Ramos Tambellini. 2010 (Paris). Os altos e baixos do amor numa comédia romântica em que o encanto de Fernanda de Freitas supera o azedume de Marcelo Serrado.

Boneca de carne - De Elia Kazan. 1956 (Lume). Tensão sob medida nessa história de dois rivais (Karl Malden e Eli Wallach) e uma jovem (Carroll Baker), roteirizada por Tennessee Williams.

Umberto D - De Vittorio De Sica. 1952 (Versátil). Indicado ao Oscar de roteiro (de Cesare Zavattini), traduz com maestria o drama de um aposentado (Carlo Battisti) acossado pela pobreza.

O reencontro - De Lawrence Kasdan. 1983 (Lume). Os norte-americanos Kevin Kline, Glenn Close e William Hurt estão neste que foi um dos mais emblemáticos filmes dos anos 80 sobre o amadurecimento.

Sentimento de culpa - De Nicole Holofcener. 2010 (Sony). Uma rica comerciante que quer ajudar a todos sustenta nessa trama a fina ironia sobre o politicamente correto.

Homens em fúria - De John Curran. 2010 (Swen). Os atores norte-americanos Robert De Niro e Edward Norton sustentam um duelo de interpretações impregnado de ambiguidade moral.

Wall Street - O dinheiro nunca dorme - De Oliver Stone. 2010 (Fox). Duas décadas depois do primeiro filme, aparecem os novos vilões da atualidade, no auge da crise financeira mundial.

Antes que o mundo acabe - De Ana Luiza Azevedo. 2009 (Imagem). Humor na medida certa e elenco afinado no retrato de família que marca a estreia da curta-metragista gaúcha em longa-metragem.

Cabeça a prêmio - De Marco Ricca. 2009 (Europa). O romance policial do paulista Marçal Aquino ganha uma versão à altura na tela, em que o diretor Marco Ricca extrai interpretações pulsantes de seus atores.

Pecado de carne - De Haim Tabakman. 2009 (Paris). Contando com o ótimo desempenho do ator israelense Zohar Strauss, esse drama fala sobre a intolerância numa comunidade ortodoxa de Israel.

A classe operária vai ao paraíso - De Elio Petri. 1971 (Versátil). Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o filme tem no ator italiano Gian Maria Volonté o intérprete ideal das contradições do personagem.

O refúgio - De François Ozon. 2009 (Imovision). O diretor francês, um dos melhores da nova geração, consegue compor um retrato alternativo da família por meio de temas polêmicos, como o uso de drogas.

A Informante - De Larysa Kondracki. 2010 (Swen). A atriz inglesa Rachel Weisz estrela este drama contundente sobre a exploração feminina na Bósnia pós-guerra dos anos 90.

Caminho da Liberdade - De Peter Weir. 2010 (Califórnia). Baseado em história real, filme recupera a memória da fuga a pé de prisioneiros de uma cadeia siberiana até a Índia.

Bróder - De Jeferson de. 2009 (Sony). O diretor paulista explora a questão social e racial com um drama sólido, filmado no Capão Redondo paulistano e premiado em vários festivais.

A História de Adèle H. - De François Truffaut. 1975 (Versátil). A atriz francesa Isabelle Adjani brilha como a filha do escritor Victor Hugo, enlouquecendo por uma paixão.

Hotel Atlântico - De Suzana Amaral. 2009 (Lume). A veterana diretora paulistana atinge excelência pelo despojamento da narrativa da jornada pelo país de um ator desempregado.

Lenny - De Bob Fosse. 1974 (Versátil). A biografia recupera a trajetória do comediante Lenny Bruce (1925-1966), um rebelde que chegou a ser condenado por obscenidade em 1964.

Conduzindo Miss Daisy - De Bruce Beresford. 1989 (Versátil). Jessica Tandy e Morgan Freeman desmontam clichês sobre racismo neste filme vencedor de quatro Oscar.

Corações perdidos - De Jake Scott. 2010 (Imagem). Os atores James Gandolfini e Kirsten Stewart apostaram e venceram nesta investida por uma mudança de imagem.

Mulheres apaixonadas - De Ken Russell. 1969 (Versátil). Glenda Jackson venceu o Oscar de melhor atriz com esta versão de O Amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence.

Inverno da alma - De Debra Granik. 2010 (Califórnia). A tensão criativa da história e o talento da atriz norte-americana Jennifer Lawrence transformam em programa obrigatório este drama intimista.

Baleias de agosto - De Lindsay Anderson. 1987 (Lume). O encontro luminoso entre Lillian Gish e Bette Davis, interpretando velhas irmãs viúvas testemunhando a passagem do tempo em sua casa de verão.

Tetro - De Francis Ford Coppola. 2009 (Imovision). O premiado diretor de O Poderoso Chefão (1972) revisita a fotografia em preto-e-branco para narrar a história de dois irmãos separados há anos.

A grande guerra - De Mario Monicelli. 1959 (Versátil). Os italianos Alberto Sordi e Vittorio Gassman dão um show de interpretação neste drama pacifista, que venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza.

A rede social - De David Fincher. 2010 (Sony). A cinebiografia do Facebook salva-se pela oportunidade do tema e pelo desempenho do ótimo protagonista, o ator norte-americano Jesse Eisenberg.

FONTE:
http://revistaescola.abril.com.br/ferias/filmes.shtml

Febre do Rato - "O cinema é uma arte de transformação", diz Cláudio Assis sobre seu novo longa

Febre do Rato


por Anna Carolina Lementy
Conteúdo do site da Assinatura-colherada
Foto Divulgação
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Nanda Costa é Eneida e Irandhyr Santos é Zizo em Febre do Rato, todo filmado em preto e branco
Inspiradas pelos versos fortes de um poeta que propõe a real independência, um grupo de pessoas tira a roupa no meio da rua, num claro dia de sol, em meio às comemorações do 7 de Setembro. A polícia chega (no filme e na realidade), o movimento é reprimido com violência. A manifestação e a verdade do corpo nu são, enfim, sufocados. Assim é uma das cenas mais simbólicas de "Febre do Rato", o novo longa metragem de Cláudio Assis, dos pesados Amarelo Manga e Baixio das Bestas. De fato, a polícia coibiu as filmagens, apesar da autorização dada pela prefeitura, e esse episódio fala muito sobre o cinema de Assis, revelador da violência e da opressão.
Nesta terceira experiência, filmada toda em preto e branco, o que interessa é mostrar o contraste entre o progresso de Recife, cheia de condomínios (mas com uma ordem social excludente e conservadora), e a transgressão política e sexual proposta por Zizo (Irandhir Santos), um poeta anarquista que parece vir de outro tempo, menos conformado.
Zizo passa os dias a gritar sua poesia em um megafone, a bordo de um carro capega que dirige pelos múltiplos cenários de Recife – vale dizer que todos os poemas que aparecem no filme são originais, escritos pelo roteirista Hilton Lacerda. Numa casa caótica, Zizo edita e imprime fanzines de protesto (intitulados Febre do Rato, uma expressão popular típica do nordeste usada para dizer que alguém está fora de controle).
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Num tanque destinado a prazeres sem fim, Zizo faz sexo com mulheres mais velhas. Pelos bares da cidade, ele se embriaga e fala de mudança na companhia de amigos como coveiro Pazinho, homem de poucas palavras interpretado por Matheus Nachtergaele.
Num segundo momento do filme, vê-se Zizo completamente entregue a um amor não correspondido pela colegial Eneida (Nanda Costa, numa atuação surpreendente). Ela se entrega a todo mundo, menos a ele. Eis aí a fonte de sua ira e de uma paixão ainda mais incontrolável. Diante da impossibilidade dessa relação, pouco a poesia pode fazer.
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Tramas paralelas mostram a juventude da cidade vivendo o amor livre. Conta-se a bonita história de Pazinho e o travesti Vanessa (Tânia Granussi), passional, cheia de idas e vindas. São evidências de que o cinema de Cláudio Assis se apoia na liberdade, em todas as suas matizes. Confira a entrevista que fizemos com o diretor:
Qual foi a mensagem que você tentou passar com o filme?
Eu acredito no cinema que faz pensar. Você sai do filme, senta numa mesa de bar, numa calçada com seu namorado ou a sua namorada e fica pensando no que você viu. Não vou ter a oportunidade de fazer muitos filmes, e quando fizer ninguém vai ter a obrigação de gostar, mas vão saber que ali tem uma atitude e um respeito com o que está sendo feito.
Recife está efervescente, muita coisa boa tem saído de lá, na música e no próprio cinema. No seu filme, nota-se uma crítica às pessoas que ficam nos grandes condomínios e não veem isso acontecer...
Não temos que criar 13 Torres Gêmeas, um paredão de concreto. A cidade não é isso, a gente tem que respeitar a cultura do lugar.
Nesse ponto, você parece bastante o Zizo...
Aquela história que está ali é algo que eu e o Hilton Lacerda estamos perseguindo desde "Amarelo Manga", então o Zizo tem muito da gente. Eu quase fiz o papel do poeta, mas não dava, não dava, seria um pouco demais. E eu sou um pouco desengonçado. Mas o Beto Brant achava que eu tinha de fazer o Zizo (Cláudio Assis atuou em "Crime Delicado", de Brant, e era ator de teatro em Caruaru, onde nasceu). Aí veio o Irandhir Santos, que é um ator sensacional, o Matheus (Nachtergaele), que é uma pessoa generosa, grande, e está tudo certo.
Por que um filme em preto e branco?
Eu acho que a poesia e a palavra tinham que aparecer. E o próprio preto e branco na fotografia maravilhosa de Walter Carvalho é uma poesia também. Ver um filme em preto e branco é muito bom.
Você fala bastante de protesto e de mudança no filme. Você acha que a juventude brasileira está muito quieta?
Eu acho. Os movimentos sociais estão meio parados. A juventude ficou... sabe? O mundo está sendo feito pra você achar que está tudo certo. Você vai ser aquilo, as pessoas não lutam para mudar o estado das coisas, não existe mais o movimento de transformar. Eu sinto falta. É o umbigo miúdo, as pessoas querem para si, não para a coletividade. O que estamos buscando (no nosso cinema) é que a juventude tenha oportunidade e faça o filme que ela quer fazer, e não fique fadada a fazer filme de amor, ver novela das oito.
Você não tem um pouco de medo de que vejam o personagem central do filme como um bêbado que só pensa em sexo, que não é pra ser levado a sério?
O mundo é dos caretas. Quem vai falar esse tipo de coisa é só quem não tem coragem. Eu não tenho rabo preso. Faço o cinema que estou acreditando. Quero que meu filho tenha orgulho de mim e não diga que sou um vendido. Tenho um compromisso com o cinema que a gente quer fazer, com a arte. O cinema é uma arte de transformação.
Acha que existem coisas boas sendo feitas no cinema nacional?
Sim, mas tem que perder essa coisa de Hollywood. Não tem um filme voltado pras conquistas do nosso povo, da nossa cultura, e temos que apostar nisso. Os americanos vendem ideologia com o cinema deles e a gente não vai fazer esse tipo de filme. Se fizermos filme de verdade, não por decreto, aí vai ser legal. Com as fórmulas que já existem, estamos fadados ao fracasso.




ci-colherada-febre-rato-3FONTE:http://bravonline.abril.com.br/materia/febre-do-rato

Gil, o tropicalista


Compositor baiano que completou 70 anos nesta terça-feira (26) foi um dos bastiões do movimento responsável por modernizar a música brasileira
por Rafael Nardini
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“Existem muitas maneiras de fazer música. Eu prefiro todas”, disse certa vez Gilberto Gil. Nem sempre foi assim. Houve o tempo em que o compositor baiano, que completa 70 primaveras nesta terça-feira (26), foi um dos bastiões da Tropicália, movimento modernizante da música brasileira que deixava a passeata contra a guitarra elétrica de lado e caía de cabeça na psicodelia vinda do exterior sem medo de parecer burguês para a esquerda mais anacrônica e fechada. Admirador de João Gilberto, Orlando Silva e Luiz Gonzaga, Gil abriu espaço para o rock paulistano de Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias, aos arranjos do maestro Rogério Duprat e foi enfrentar de peito aberto as vaias dos puristas ao lado de um Caetano Veloso indignado, que respondia aos berros que ninguém entendia nada! Nada!
A coragem era de veterano, mas a carreira ainda não vai havia deslanchado completamente. Filho de família baiana bem estabelecida, Gil se formou administrador de empresas e até meados dos anos 60 tinha mulher e emprego fixo. Vida que só largaria de lado definitivamente após boa repercussão das canções Louvação e Eu Vim da Bahia no programa “O Fino da Bossa”, capitaneado por Jair Rodrigues e Elis Regina. As cores tropicalistas viriam à baila com Domingo no Parque (veja o vídeo abaixo), segunda colocada no 3° Festival da Record, em 67.
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Antecipando-se ao clássico Tropicália ou Panis et Circensis, Gil lança seu segundo álbum em maio de 68 (capa ao lado), ainda com os ecos de Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, nos ouvidos. O receituário de todo o movimento está ali. Os Mutantes, convidados de honra para o disco, não se fizeram de rogados. Prontos para experimentações (quase) sem limites para um disco – que, sim, era de – MPB, exploram as guitarras sem dó. Que digam os riffs de Coragem para Suportar, o solo que abre a regravação de Procissão e o o rock sessentista na urbana Domingou. Gil mostrava o caminho. Daí em diante era só seguir em frente: a pedra fundamental tropicalista estava pronta e tabelada, era somente requentar, como ele próprio cantaria em Parque Industrial, do amigo Tom Zé.
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Em julho daquele ano, Panis et circensis, Lindonéia e Batmakumba (todas em parceria com Caetano), Miserere Nobis (composta com Capinan) e Geléia Geral (com Torquato Neto) seriam imortalizadas ao lado de Gal Costa, Nara Leão e todos os outros registrados da capa do álbum (imagem ao lado). Preocupação com temáticas sociais, quebra de barreiras comportamentais (o temido sexo livre), visual espalhafatoso pouco usual e o inconformismo juvenil foram suficientes para tirar os militares da cadeira. A resposta viria naquele mesmo ano com o AI5 (Ato Institucional nº 5, mais restritivo passo no período antidemocrático no país) e a prisão de Gil e Caetano em dezembro daquele mesmo ano. Mas a estética de vanguarda proposta na música renderia influências ao Cinema Novo de Glauber Rocha e ao teatro anárquico de José Celso Martinez Corrêa. Mostraria também, mesmo com a possibilidade de isentá-los quase 45 anos depois, que os universitários “linha dura” que resistiram às canções tropicalistas perderam uma boa chance de abrir a cabeça. E era a hora certa para isso.



FONTE:
http://bravonline.abril.com.br/materia/gil-o-tropicalista

Livros para ler nas férias



Veja 89 resenhas de livros lançados em 2011.
Escolha o seu!

Lúcio Cardoso –Poesia Completa
Lúcio Cardoso –Poesia Completa
Edusp, 1 120 págs., R$ 120

Autor: O mineiro Lúcio Cardoso (1912-1968) nasceu em Curvelo. Entre suas obras, estão Crônica da Casa Assassinada, A Luz no Subsolo e Dias Perdidos.

Tema: A produção poética de Lúcio Cardoso. Além dos livros publicados em vida, em coletâneas - Poesias (1941) e Novas Poesias (1944) -, esta edição traz poemas inéditos e póstumos, poesias dedicadas, composições publicadas em periódicos e prosa poética.

Por que ler: Pelo contato com uma vertente menos estudada e difundida da obra de Cardoso, mais reconhecido como romancista. E pela organização e edição do volume, com o devido apoio de notas.

Preste atenção: No esclarecedor prefácio do editor, Ésio Macedo Ribeiro, que detalha o percurso da criação poética de Cardoso. E nos detalhes dos fac-símiles reproduzidos no segundo apêndice.

Trecho: "O telefone que só toca/ quando já se desistiu de esperá-lo;/ O som que corta o silêncio/ depois do desespero;// A carta que só chega/ quando já se escreveu reclamando;/ as letras que penetram o vazio/ depois da angústia". (O Atrasado, pág. 773).
E o cérebro criou o homem
E o cérebro criou o homem
Companhia das Letras, 440 págs., R$ 49

Autor: O neurocientista português António R. Damásio nasceu em 1944. Professor da Universidade do Sul da Califórnia, é autor de Em Busca de Espinosa e O Mistério da Consciência, entre outras obras.

Tema: Um estudo sobre o cérebro e sua constituição indissociável da mente. Divide-se em quatro partes para tratar de questões biológicas e outras a serem revistas, neurologia, emoções e sentimentos, construção da consciência, e natureza e cultura.

Por que ler: Pela fascinante proposta de Damásio. Disciplinas como arqueologia, biologia evolutiva, psicologia e neurologia se entrecruzam para explicar razão e emoção, as noções de eu e outro.

Preste atenção: Em como Damásio, diante de um objeto de tamanha complexidade, mantém a clareza sem perder o rigor de tratamento exigido. E no belo capítulo Uma Arquitetura para a Memória. Trecho:"Ninguém pode provar a contento que seres não humanos e sem linguagem têm consciência, central ou de outro tipo, embora racionalmente possamos fazer uma triangulação dos dados (...) e concluir que é grande a possibilidade que eles a possuam". (pág. 214).
18 Crônicas e mais algumas
18 Crônicas e mais algumas
Boitempo, 160 págs., R$ 30

Autor: A jornalista e psicanalista Maria Rita Kehl nasceu em Campinas, em 1951. Escreveu também, entre outros livros, O Tempo e o Cão, Sobre Ética e Psicanálise, Ressentimento e A Fratria Órfã.

Tema: Reunião de crônicas e artigos publicados na imprensa sobre um amplo leque de assuntos, como a condição da mulher hoje ante temas como sexo, aborto e família, a pobreza e a miséria, a religião, drogas, futebol, corrupção, política e violência urbana.

Por que ler: Pela força da argumentação com que a autora defende suas crenças e provocações. A visão ampla dos problemas cotidianos que a psicanálise lhe permite é outra qualidade.

Preste atenção: Em Dois Pesos... (pág. 70), que foi publicado em 2 de outubro de 2010 em O Estado de S.Paulo e cessou a sua coluna: ataca o descrédito dado ao voto dos beneficiados com o Bolsa-Família.

Trecho: "Eis a face cruel da criminalização do aborto: trata-se de fazer do filho o castigo da mãe pecadora. Cai a máscara que escondia a repulsa ao sexo: não se está brigando em defesa da vida, ou da criança". (pág. 69).
Uma providência especial
Uma providência especial
Alfaguara, 304 págs., R$ 39,90

Autor: O romancista e contista norte-americano Richard Yates (1926-1992) escreveu alguns dos discursos de Robert Kennedy como senador. Entre seus livros, estão Foi Apenas um Sonho.

Tema: Aos 18 anos, o norte-americano Robert Prentice desembarca na Europa para lutar na Segunda Guerra. Seu problema maior está na relação com os próprios companheiros. Já sua mãe, Alice, almeja o sucesso como artista e tem de lidar com desilusões no amor e na profissão.

Por que ler: Neste segundo romance do autor, publicado em 1969, em plena efervescência político-cultural norte-americana, o enredo retrata com concisão um país desencantado.

Preste atenção: Nas lembranças de Robert sobre sua infância com a mãe. Nas agruras dela para educar o filho. E em como, nos capítulos finais, o escritor impõe um ritmo mais intenso à sua narrativa.

Trecho: "Nunca, nem em seus desejos mais ardentes, teria imaginado que um homem como Sterling Nelson poderia existir para ela. (...) ela passara a aceitar a probabilidade de que o restante de sua vida seria passado no (...) `estado de abençoada solteirice¿". (pág. 127).
Da arte das armadilhas
Da arte das armadilhas
Companhia das Letras, 88 págs., R$ 33

Autor: A mineira Ana Martins Marques nasceu em Belo Horizonte, em 1977. Mestre em literatura brasileira pela Universidade Federal de Minas Gerais, é também autora de A Vida Submarina.

Tema: Antologia de poemas dividido em três segmentos: a introdução entre a casa /e o acaso, Interiores e Da Arte das Armadilhas. Na primeira parte, o discurso poético volta-se para flashes do cotidiano. Na segunda, há uma acentuação de preocupações metafísicas.

Por que ler: Pelo trabalho meticuloso com a forma do livro, virtude que pode passar despercebida pela apenas aparente simplicidade dos poemas. Este é o segundo livro de uma promissora poeta.

Preste atenção: Na segunda parte da coletânea, sobretudo nos títulos de cada poema e suas referências literárias (epígrafes inclusive). Na força imagética de Poema de Amor e na charada do poema-título.

Trecho: "Depois de um tempo/ todas as coisas ficam marcadas/ como se estivessem/ impregnadas de veneno// Há um tempo em que os lugares/ são limpos e novos/ abertos como clareiras/ mas já não é este o tempo". (pág. 60).
Nova Antologia do conto russo
Nova Antologia do conto russo
Editora 34, 648 págs., R$ 74

Autor: O organizador, Bruno Barretto Gomide, é professor de literatura russa na Universidade de São Paulo. É autor de Da Estepe à Caatinga: O Romance Russo no Brasil (1887-1936), entre outros.

Tema: Seleção de 40 autores e contos russos desde o final do século 18 até 1995: Gógol, Lérmontov, Dostoiévski, Turguêniev, Tchékhov, Tolstói, Górki, Pasternak, Sorókin e Dovlátov, entre outros. As traduções são inéditas - exceto pelo texto de Riémizov.

Por que ler: Pela abrangência da antologia, que traça um largo panorama de um gênero de escritores magistrais na Rússia. E pelos cuidados da edição, como textos de apresentação para cada conto.

Preste atenção: Nos evidentes chamarizes da coletânea, como A Carruagem, de Gógol, Polzunkov, da obra inicial de Dostoiévski, Depois do Baile, de Tostói e Vendetta, de Górki.

Trecho: "Permitia com prazer que rissem dele alto e do modo mais indecoroso, na cara; porém, ao mesmo tempo - e quanto a isso posso jurar - o seu coração apertava e sangrava ao pensar que os espectadores pudessem ser tão cruéis". (Polzunkov,pág. 143).
Poemas
Poemas
Companhia das Letras, 168 págs., R$ 39,50

Autor: A polonesa Wisawa Szymborska nasceu em 1923, na cidade de Bnin. Ganhadora do Prêmio Nobel de 1996, publicou também Por Isso Vivemos e Perguntas Feitas a Mim Mesma, entre outros livros.

Tema: Seleção de 44 poemas das coletâneas Chamando por Yeti, Sal, Muito Divertido, Todo Caso, Um Grande Número, Gente na Ponte, Fim e Começo e Instante. São composições que lançam geralmente dúvidas de caráter filosófico, questionamentos sobre o real.

Por que ler: Esta é a primeira edição brasileira de poemas de Szymborska reunidos em um volume. O prefácio de Regina Przybycien, que assina a tradução, elucida a importância da autora.

Preste atenção: Na presença de personagens e temas da Antiguidade clássica e da Bíblia, nas citações às ciências naturais - como a biologia - e na crítica aos eventos bárbaros da história contemporânea.

Trecho: "Despreparada para a honra de viver,/ mal posso manter o ritmo que a peça impõe./ Improviso embora me repugne a improvisação./ Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas./ Meu jeito de ser cheira a província". (pág. 63).
Pasenow ou o Romantismo: 1888
Pasenow ou o Romantismo: 1888
Benvirá, 280 págs., R$ 39,90

Autor: O austríaco Hermann Broch (1886-1951) escreveu, entre outras obras, Demeter ou o Encantamento, A Morte de Virgílio, Os Inocentes, Esch ou A Anarquia e Huguenau ou a Objetividade.

Tema: Volume primeiro da trilogia Os Sonâmbulos. Na Prússia, o tenente Joachim von Pasenow encontra-se atormentado pela decadência dos valores sociais em que acreditava. A adesão à suposta ordem e ao rigor da vida militar serve como refúgio da vida civil.

Por que ler: Grande nome da literatura em língua alemã da primeira metade do século 20, Hermann Broch constrói uma obra monumental para espelhar um mundo nostálgico a outro em declínio.

Preste atenção: Em como o escritor se alinha a outros contemporâneos ao adotar o monólogo interior e o fluxo de consciência. E em como o protagonista se encontra sufocado pelo racionalismo.

Trecho: "A admiração humilhada de Joachim von Pasenow cresceu, e também a desconfiança de que aquele Bertrand queria ofuscá-lo com discursos pouco transparentes e empolados e seduzi-lo a algum lugar para em seguida rebaixá-lo". (pág. 39).
Minha vida
Minha vida
Editora 34, 160 págs., R$ 35

Autor: Anton Tchekhov (1860-1904) é um dos mais importantes nomes da literatura russa. Além dos contos, em sua obra destacam-se as peças Tio Vânia, A Gaivota e As Três Irmãs.

Tema: Apesar do título, não é um volume autobiográfico. Quem conta sua história é Missail Póloznev, que, depois de não se firmar em nove empregos burocráticos, torna-se pintor de paredes - para o desgosto do pai, arquiteto municipal.

Por que ler: Pelo retrato de uma sociedade que aprisiona o indivíduo a uma convenção que não corresponde a suas verdadeiras aspirações. E pelo exímio perfil psicológico do protagonista.

Preste atenção: Na descrição impecável e da desonestidade vista por toda parte, prática de pessoas que "afundavam sem esperança no lodo de uma existência vil e pequeno-burguesa".

Trecho: "Nas lojas, a nós, trabalhadores, empurravam carne podre, farinha estragada e chá usado; na igreja, a polícia nos empurrava; nos hospitais, enfermeiros e ajudantes nos arrancavam mais dinheiro (...). O mais importante (...) era a completa ausência de justiça". (pág. 56).
O anão e a ninfeta
O anão e a ninfeta
Record, 160 págs., R$ 34,90

Autor: O escritor paranaense Dalton Trevisan nasceu em 1925, em Curitiba. Entre seus livros estão O Vampiro de Curitiba, Novelas Nada Exemplares e Pão e Sangue.

Tema: Reunião de 40 contos inéditos, cujos títulos já ilustram a carga dramática e o teor das composições, como Sou Tua!, Corações Floridos, Três Gotas de Sangue e Anjo Bastardo.

Por que ler: O interesse de um público fiel por Dalton Trevisan permanece: sua literatura continua a apoiar-se nos casos de paixão proibida e de desvios de conduta.

Preste atenção: No estilo de Trevisan, que combina frases curtas, telegráficas, o discurso indireto livre e a linguagem coloquial e chula.

Trecho: "Estende as cartas, que leio devagar, duas vezes cada uma. Drama de amor, nada mais. Uma é da mãe. Ela e o pai, voltando da novena, vislumbram a Ceci, no escuro da varanda, aos beijos com um rapaz". (pág. 53).
Sonetos da Portuguesa
Sonetos da Portuguesa
Rocco, 128 págs., R$ 19,50

Autor: A inglesa Elizabeth Barrett Browning (1806-1861) deixou uma vasta produção poética. Entre suas obras estão The Battle of Marathon e Aurora Leigh.

Tema: Quarenta e quatro sonetos inspirados na paixão da autora pelo poeta Robert Browning. Os poemas foram escritos quando os dois trocaram correspondência, contato que culminou em casamento.

Por que ler: Para descobrir uma aclamada produção do romantismo. A confissão amorosa transforma-se em matéria de pequenas obras-primas.

Preste atenção: Nas três fases identificadas pelo tradutor: "recusa inicial da amada", "contágio do amor que se propaga" e "coroamento glorioso do encontro".

Trecho: "Não celebrei em mármore o primeiro/ Encontro nosso. Durar não poderia/ Um amor que a custo se equilibraria/ Entre pena e pesar. Tive um ligeiro/ Tremor diante da luz que parecia/ Dourar a trilha". (pág. 77).
Esse Inferno Vai Acabar
Esse Inferno Vai Acabar
Arquipélago Editorial, 192 págs., R$ 34

Autor: O mineiro Humberto Werneck nasceu em Belo Horizonte, em 1945. Jornalista de larga experiência e escritor, é autor de, entre outros, O Santo Sujo - A Vida de Jayme Ovalle.

Tema: Reunião de crônicas publicadas nos jornais O Brasil Econômico e O Estado de S.Paulo entre 2008 e 2011. O humor domina as histórias: destacam-se A Solange e Seu Brechó Verbal, Filosofia de Borracharia e Ah, Aquelas Clínicas de Envelhecimento Precoce...

Por que ler: Habilidoso narrador dos causos do dia a dia, Werneck não só sabe escolher seus temas e personagens como também impõe um ritmo ideal para aproveitar-se o pleno prazer do texto.

Preste atenção: Em Do Caderno de um Repórter, seleção de momentos curiosos do autor com entrevistados como Drummond, João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Moraes e Nelson Rodrigues. Trecho: "O próprio Nelson me abriu a porta, arrastando um desses chinelos de velho (...). ‘Você esteve com Otto?’, indagou, antes mesmo de dizer boa tarde, e completou, numa ansiedade de adolescente: ‘O que ele disse de mim’". (pág. 103)
Minha Irmã, Meu Amor
Minha Irmã, Meu Amor
Alfaguara, 624 págs., R$ 67,90

Autor: Joyce Carol Oates nasceu em 1938, em Nova York. É autora de romances, contos, ensaios e peças de teatro. Entre suas obras, estão A Falta que Você me Faz e As Cataratas.

Tema: O assassinato de uma menina de 6 anos, uma estrela da patinação no gelo, e a crise de sua família. A história é contada por Skyler, o irmão que sofreu os danos maiores: acusações, perseguição e distanciamento de casa. A autora inspirou-se em fatos reais.

Por que ler: Pela tematização da fama, que a autora já havia feito em Blonde, sobre a vida de Marilyn Monroe. Neste novo romance, insiste na crítica ao papel da mídia e ao frenesi da audiência.

Preste atenção: Na função das notas de rodapé, elaboradas pelo narrador. Skyler transforma esses adendos numa poderosa ferramenta de persuasão e o jogo literário ganha mais complexidade.

Trecho: "Que sensação de vazio no estômago quando Skyler percebeu que aquele era o verdadeiro mundo dos adultos, mais verdadeiro do que os brinquedinhos na gaveta de cuecas do papai em casa! Telas de computador, colunas de números, símbolos". (pág. 313)
Meus Prêmios
Meus Prêmios
Companhia das Letras, 112 págs., R$ 33

Autor: O poeta, contista, romancista e dramaturgo Thomas Bernhard (1931-1989) nasceu na Holanda e morreu na Áustria. Entre suas obras, estão O Imitador de Vozes, O Náufrago e Extinção.

Tema: A relação do autor com prêmios literários. Em nove narrativas sobre as premiações recebidas, três discursos e uma carta sobre o desligamento da Academia de Língua e Literatura de Darmstadt, revela-se o descrédito a esse tipo de homenagem.

Por que ler: Pelo modo como Bernhard se expõe nos nove primeiros relatos, retratado em seu desprezo sarcástico ante o outro e as meras formalidades vazias e protocolares.

Preste atenção: Na tia que acompanha o escritor nas cerimônias e na descrição hilária das autoridades que o recebem. E na citação a outras obras suas, como Frost e O Sobrinho de Wittgenstein.

Trecho: "Sabiam muito bem onde cutucar para me enfurecer. Encontravam-me pela manhã e me cumprimentavam pelo prêmio, dizendo que já estava mais do que na hora de, finalmente, eu receber (...). As pessoas chamam de honra o que, na verdade, é infâmia". (pág. 56)
Uma fração do todo
Uma fração do todo
Record, 658 págs., R$ 65,90

Autor: O escritor australiano Steve Toltz nasceu em Sydney, em 1972. Com este primeiro romance, foi finalista do Man Booker Prize de 2008.

Tema: As peripécias, os conflitos e as reviravoltas no convívio entre Jasper Dean e seu pai, Martin, que o educou de modo esdrúxulo. Trata-se de uma história familiar mirabolante, que é rememorada - e continuada pelo filho.

Por que ler: Pelo vigor da narração, que se constrói com a sequência ininterrupta de pequenas histórias, combinadas com notável eficiência e capazes de surpreender pelas situações inusitadas e cômicas.

Preste atenção: Em como Martin, o pai, avaliava a escola de educação infantil do filho, se há um tom sarcástico ao tratar dos antepassados judeus e na trajetória patética da loucura de Martin.

Trecho: "Uma semana depois, bateram à porta. Fui até a cozinha, fiz umas torradas e comecei a tremer. Não sei como, mas eu sabia que o universo tinha vomitado algo especial para mim; eu simplesmente sabia. As batidas na porta persistiram". (pág. 304)
História do cabelo
História do cabelo
Cosac Naify, 168 págs., R$ 45

Autor: O argentino Alan Pauls nasceu em 1959, em Buenos Aires. É crítico, professor de teoria literária e jornalista. Entre suas obras, estão O Passado e História do Pranto.

Tema: Segunda parte de uma trilogia sobre a Argentina dos anos 70, iniciada em História do Pranto. Em tom de comédia, Pauls escolhe desta vez a obsessão pelo cabelo para tratar da identidade, da imagem que percebemos no outro e a que queremos transmitir.

Por que ler: Pela excentricidade de certos personagens: Celso, um barbeiro paraguaio, Monti, um amigo de infância que conta histórias amalucadas, e um veterano de guerra que trafica drogas.

Preste atenção: Na impagável sequência sobre o teatro e uma tradução. Um diretor exige que se refaça uma versão em castelhano de Shakespeare para tornar o texto mais palatável.

Trecho: "Está tão desarmado pela felicidade que não tem força nem para se aproximar do espelho e simular aquele último exame, severo, ameaçador, com que um mês atrás pretendia evitar que Celso dormisse sobre os louros". (pág. 79)
Chuva Negra
Chuva Negra
Estação Liberdade, 328 págs., R$ 52

Autor: O escritor japonês Masuji Ibuse nasceu em Kamo, em 1898, e morreu em Tóquio, em 1993. Publicou, entre outros, A Salamandra, O Antiquário e Crônica das Pequenas Ondas.

Tema: A consequência das bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. No retrato da vida do casal Shizuma, que tenta casar a sobrinha, veem-se o sofrimento e o drama a que foram submetidos os sobreviventes.

Por que ler: Adaptado para o cinema por Shohei Imamura em Black Rain (1989), o romance recompõe de modo fidedigno testemunhos recolhidos pelo escritor para a composição da narrativa.

Preste atenção: Em como Ibuse relata cenas chocantes de desespero, abandono, fome e morte sem sensacionalismo. Prevalecem o retrato psicológico e os traumas legados pelo desastre atômico.

Trecho: "Eu gritava para encorajá-las. Completamente enfraquecidas, elas não me respondiam. Ambas tinham os olhos sanguinolentos, avermelhados como se tivessem jorrado sangue. Contudo, não podíamos descansar". (pág. 107)
O Duplo
O Duplo
Editora 34, 240 págs., R$ 39

Autor: O russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) é um dos cânones da literatura ocidental. Entre suas obras-primas, estão Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov.

Tema: A história do solitário Golyádkin, que sofre com perturbações mentais e encontra seu duplo, em um processo em direção à loucura.

Por que ler: Pelo tema do duplo, fundamental na obra madura de Dostoiévski. A edição traz belas ilustrações do artista austríaco Alfred Kubin (1877-1959).

Preste atenção: No diálogo do protagonista com seu duplo, em que ele se despe das formalidades de sua rotina e faz revelações que contradizem sua imagem pública.

Trecho: "Ah, se eu fosse poeta! - É claro que ao menos como Homero ou Púchkin; com menos talento não dá para se meter. - Sem falta eu retrataria em cores vivas e largas pinceladas todo esse dia sublime". (pág. 45)
As coisas da vida
As coisas da vida
Alfaguara, 232 págs., R$ 34,90

Autor: O escritor António Lobo Antunes nasceu em 1942, em Lisboa. Publicou, entre outras obras, Memória de Elefante, Os Cus de Judas e Conhecimento do Inferno.

Tema: Seleção de 60 crônicas, divididas em sete segmentos: Descrição da Infância, Retrato do Artista, As Coisas da Vida, O Spitfire dos Olivais, O Entendimento Humano, Esta Maneira de Chorar e Antes que Anoiteça.

Por que ler: Pela beleza e inteligência dessas pequenas narrativas. No minúsculo espaço da crônica, Lobo Antunes explora a potencialidade do humor melancólico.

Preste atenção: No impacto das cenas cruéis descritas em Esta Maneira de Chorar Dentro de uma Palavra, testemunho sobre a guerra civil em Angola.

Trecho: "Jogara tudo no acto de escrever, servindo-se de cada romance para corrigir o anterior (...), com tanta intensidade que não lograva recordar-se dos acontecimentos que haviam tido lugar enquanto produzia". (pág. 59)
A noiva do tigre
A noiva do tigre
Leya, 280 págs., R$ 39,90

Autor: A escritora iugoslava Téa Obreht nasceu em 1985, em Belgrado, e vive hoje nos Estados Unidos. Este livro marca sua estreia literária.

Tema: Uma viagem empreendida por Natália, narradora e protagonista. Depois da morte do avô, ela retorna à sua vila na antiga Iugoslávia a fim de recuperar objetos e reviver toda uma simbologia de lendas e mitos.

Por que ler: O livro impressionou a imprensa norte-americana por ter rendido o Orange Prize a uma jovem de 25 anos.

Preste atenção: Em como a trajetória de uma família torna-se espelho e metáfora para os acontecimentos na antiga Iugoslávia nas últimas décadas.

Trecho: "Eu tinha a sensação terrível de que as crianças ali seriam assim, alheias à dor, desmotivadas da prática de coisas que as crianças de onde vim rejeitavam por princípio". (pág. 113)
Tripé do Tripúdio
Tripé do Tripúdio
Tordesilhas, 216 págs., R$ 42,50

Autor: O poeta e escritor Glauco Mattoso nasceu em 1951, em São Paulo. Entre suas obras, encontram-se Tratado de Versificação, As Mil e Uma Línguas, Dicionário do Palavrão e Correlatos.

Tema: Reunião de narrativas curtas, ou "contos malditos", como o próprio autor os define. As histórias abordam fetiche por pés, homossexualismo, violência urbana, sadomasoquismo e toda uma série de perversões sexuais expostas com crueza e detalhe.

Por que ler: Pelo zelo da edição, que conta com cronologia e bibliografia sobre o autor e posfácio de Antonio Vicente Seraphim Pietroforte. E pelas provocações sem nenhuma cerimônia.

Preste atenção: Em como Glauco Mattoso se posta como protagonista dos próprios contos, criando dubiedade entre ficção e realidade, entre criador e personagem, entre testemunho e inspiração.

Trecho: "(...) sempre tive ojeriza a sair com michês, fosse pelo bolso, fosse pelo gozo duvidoso. Até que a ideia de poder cheirar e lamber à vontade uns tênis e pés fedidos era coisa tentadora, mas a fantasia logo broxava". (pág. 53)
País Sem Chapéu
País Sem Chapéu
Editora 34, 240 págs., R$ 39

Autor: Dany Laferrière nasceu em 1953, no Haiti, e denomina-se um "escritor americano que escreve em francês". Publicou L’Énigme du Retour, Vers le Sud e La Fête des Morts, entre outros.

Tema: O relato, de cunho autobiográfico, de um escritor que retorna para a cidade de Porto Príncipe depois de 20 anos de exílio no Canadá e nos Estados Unidos. O reencontro com a mãe e a tia o esclarece sobre as mudanças pelas quais o Haiti passou.

Por que ler: Pela poderosa imagem do "país sem chapéu", que significa o mundo dos mortos. Um sacerdote vodu convida o narrador a conhecer essa dimensão. Ele se fascina com a ideia.

Preste atenção: No efeito da visita ao país sem chapéu. A chance de ficar frente a frente com Dostoiévski ou Dante atraiu o protagonista, que fará um balanço ao fim dessa viagem.

Trecho: "Tia Renée é uma católica fervorosa. Ela crê em Cristo e ao mesmo tempo nos poderes de Lucrèce. Na sua capacidade de cruzar as fronteiras quando bem entende. (...) De passar para o lado dos vivos assim como para o lado dos mortos". (pág. 111)
Wolf Hall
Wolf Hall
Record, 588 págs., R$ 59,90

Autor: A inglesa Hilary Mantel nasceu em 1952. Ganhou o Man Booker Prize (2009) por este romance. Entre seus livros, estão A Sombra da Guilhotina e Além da Escuridão.

Tema: No século 16, a tentativa do rei inglês Henrique 8º de ter um herdeiro homem e apaziguar um clima à beira da guerra civil. Ele quer se separar de Catarina de Aragão e se casar com Ana Bolena, o que o Vaticano repudia.

Por que ler: Pela habilidade de Hilary Mantel em construir, nesta extensa narração, intrigas palacianas e manejar tantos personagens.

Preste atenção: Na presença e na caracterização psicológica minuciosa do filósofo Thomas More e na sua posição de enfrentamento contra Cromwell.

Trecho: "Quando a primeira esposa de More faleceu, a sucessora já estava na casa antes que o cadáver esfriasse. More quase foi padre, mas a carne humana o chamou com suas exigências inconvenientes". (pág. 124)
Orlando Furioso - tomo I
Orlando Furioso - tomo I
Ateliê Editorial/Editora da Unicamp, 664 págs., R$ 118

Autor: O poeta e dramaturgo italiano Ludovico Ariosto (1474-1533) foi um dos expoentes do Renascimento. Entre suas obras, encontram-se Satire, La Lena, La Cassaria e Il Suppositi, entre outras.

Tema: Os primeiros 23 dos 46 cantos do poema épico sobre a paixão tresloucada de Orlando por Angélica. A guerra entre francos e sarracenos e o amor de Rogério por Bradamante completam o trio temático.

Por que ler: Pela riqueza de referências. Obra-prima do Renascimento italiano, o poema parodia os romances medievais e combina lendas da corte de Carlos Magno e a invasão sarracena da França.

Preste atenção: Nas ilustrações de Gustave Doré, um dos grandes trunfos da edição. E no Canto VIII, sobre a "fuga de Rogério", "Angélica na Ilha da Orca" e "Orlando desertor por amor de Angélica".

Trecho: "À copiosa e requintada mesa/ Pouco em manjares o prazer se expande;/ Maior deleite há na conversa acesa/ Acerca de outra maravilha grande:/ Sonho parece que ficando lesa/ Cabeça, mão que ao chão o ferro mande". (pág. 387)
Raga
Raga
Cosac Naify, 126 págs., R$ 21,90

Autor: O escritor, poeta e ensaísta francês J.M.G. Le Clézio nasceu em 1940, em Nice. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2008. Publicou, entre outras obras, Diego e Frida e O Africano.

Tema: A descoberta e a colonização da Oceania em uma narrativa que já se qualifica no subtítulo: Uma Abordagem do Continente Invisível. São descrições antropológicas, testemunhos reais e fictícios, além de lendas, que formam esta história da região.

Por que ler: Pelo caráter experimental do romance, cujas variações permitem que o leitor componha sua própria visão. E para examinar a opinião do escritor sobre as agressões ao continente.

Preste atenção: Nos capítulos A Arte da Resistência e Ilhas, que criticam o Ocidente e em que são citados autores que se debruçam sobre o tema da mestiçagem, como o caribenho Édouard Glissant.

Trecho: "Se ainda resta algum segredo, é no interior da alma que vamos encontrá-lo, na série de desejos, lendas, fantasias e cantos que se mistura ao tempo e ressurge e percorre a pele dos povos como os relâmpagos no verão". (pág. 86)
A Máquina de Fazer Espanhóis
A Máquina de Fazer Espanhóis
Cosac Naify, 256 págs., R$ 39,90

Autor: O escritor angolano Valter Hugo Mãe nasceu em 1971. Ganhou o Prêmio Literário José Saramago em 2007. É também autor de O Remorso de Baltazar Serapião e O Nosso Reino, entre outros.

Tema: Em Portugal, um barbeiro de 84 anos passa a viver em um asilo. A convivência com outros idosos o faz se deparar com "a solidão, o mau humor, o silêncio". Uma visão crítica sobre o país perpassa a relação entre os personagens e sua memória.

Por que ler: Autor que vem chamando atenção da crítica, Valter Hugo Mãe emprega recursos estilísticos de efeito poderoso, como a recusa de letras maiúsculas em "um mundo em minúsculas".

Preste atenção: Na força argumentativa dos títulos dos capítulos. E em personagens como Esteves, que diz ser aquele citado por Fernando Pessoa na última estrofe do poema Tabacaria.

Trecho: "quando aqui entrei da primeira vez quiseram vender-me a felicidade por estas crianças passando como se fosse bastante vida para quem se empoleira aqui a comprovar que ainda nascem pessoas e ainda há quem esteja a começar tudo". (pág. 111)
A Travessia do Rio
A Travessia do Rio
Record, 320 págs., R$ 39,90

Autor: Caryl Phillips nasceu em 1958, no Caribe, e vive desde a infância na Inglaterra. Professor de inglês na Universidade de Yale, é também autor de Uma Margem Distante, entre outros.

Tema: A história de três irmãos africanos em destinos e tempos distantes depois de vendidos pelo pai: Nash, educado como cristão e vivendo na Libéria; Martha, que foge da escravidão percorrendo o oeste dos Estados Unidos; Travis, um soldado norte-americano.

Por que ler: Pela representação da diáspora dos africanos (seu dispersar por países e continentes em razão do tráfico de escravos). E pelo uso de diferentes perspectivas, fontes e vozes na narrativa.

Preste atenção: Em como o autor contempla simbolicamente um período de mais de 200 anos de história: os anos 1830 (no caso de Nash), o fim do século 19 (Martha) e a Segunda Guerra Mundial (Travis).

Trecho: "Buscavam um lugar onde as coisas fossem um pouco menos infelizes e onde não se precisasse ficar sempre olhando para trás, perguntando-se quando é que alguém lhe faria uma maldade". (pág. 102)
O Livro de Praga
O Livro de Praga
Companhia das Letras, 144 págs., R$ 37,50

Autor: O escritor carioca Sérgio Sant’Anna nasceu em 1941. Também escreveu O Sobrevivente, O Concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro e A Senhorita Simpson, entre outras obras.

Tema: Sete "narrativas de amor e arte" que se entrecruzam e envolvem o protagonista, Antônio Fernandes, na cidade de Praga. A obra é parte do projeto Amores Expressos, que enviou escritores brasileiros a diferentes cidades do mundo.

Por que ler: Depois de um hiato de oito anos sem publicar, Sant’Anna compõe uma obra na fronteira entre a coletânea de contos e o romance - hibridismo que favorece o ritmo e os clímax do romance.

Preste atenção: Em como as artes plásticas e a música integram uma ficção que pensa sobre a estética. E na citação a Franz Kafka, com uma mulher que tatuou fragmento inédito do escritor tcheco.

Trecho: "Me interessa tudo na cidade, inclusive as manifestações artísticas, como esse concerto. A música desperta fantasias sobre as quais se pode escrever, inclusive fantasias amorosas, ainda que um amor platônico, da alma". (pág. 14)
Sangue Errante
Sangue Errante
Record, 960 págs., R$ 77,90

Autor: O escritor norte-americano James Ellroy nasceu em 1948. Este título encerra a trilogia iniciada com Tabloide Americano e Seis Mil em Espécie. É também autor de Dália Negra, entre outros.

Tema: O submundo norte-americano entre os anos de 1968 a 1972 com os protagonistas Dwight Holly, responsável por medidas racistas; Wayne Tedrow, ex-policial e traficante com negócios escusos e Don Crutchfield, investigador ligado a assassinos e revolucionários.

Por que ler: Considerado a obra-prima de Ellroy, o romance atesta a maturidade de um escritor que se firma como o melhor da moderna ficção policial.

Preste atenção: Na presença de personalidades reais em meio a indivíduos fora da lei: o presidente Richard Nixon, o chefe do FBI John Edgar Hoover e o aviador e cineasta Howard Hughes.

Trecho: "Chegou. Tirou os galhos de arbustos, destrancou a porta e carregou a literatura racista para fora. Títulos saltavam das capas. Viu Geração miscigenação e Cozido judeu: um livro de receitas. (...) Viu fotos manipuladas do Dr. King". (pág. 161)
Os Verbos Auxiliares do Coração
Os Verbos Auxiliares do Coração
Cosac Naify, 72 págs., R$ 35

Autor: O húngaro Péter Esterházy nasceu em 1950, em Budapeste. Ganhou, entre outros, o Prêmio Kossuth. Entre seus livros, estão Uma Mulher, Edição Revista e Harmonia Celestis.

Tema: Relatos de um filho em luto por perder a mãe. E também o testemunho da mãe já morta. A narrativa trata da perda alternando o tom fortemente confessional com um discurso que se volta para fora da própria dor, apoiando-se na literatura.

Por que ler: Pelo trabalho com a linguagem. Vê-se aqui o cuidado com a forma: à maneira de anúncios funerários, bordas negras emolduram os textos das páginas, que não são numeradas.

Preste atenção: Na importância da citação de trechos de A Peste e O Estrangeiro, de Albert Camus, de O Aleph, de Jorge Luis Borges, e de Os Contos de Maldoror, de Lautréamont.

Trecho: "Passeava por um castelo bonito. Flanava. Ainda era gordinha, só que não chorava mais o tempo todo, gostava de me vestir como um rapaz, andar a cavalo e patinar. Eu tinha um cavalo de pele da Transilvânia, como uma pluma".
Ponto Ômega
Ponto Ômega
Companhia das Letras, 104 págs., R$ 31

Autor: O escritor norte-americano Don DeLillo nasceu em 1936, em Nova York. Publicou, entre outros livros, Submundo, Ruído Branco, A Artista do Corpo, Cosmópolis e Homem em Queda.

Tema: Duas narrativas paralelas: um anônimo assiste a uma projeção em câmera lenta do filme Psicose, de Hitchcock, que dura 24 horas, e um jovem cineasta tenta fazer um documentário sobre a Guerra do Iraque e precisa contar com o depoimento de um acadêmico.

Por que ler: Pelo jogo em torno da passagem do tempo. Quando o cineasta aceita o convite do acadêmico, mentor da guerra, para uma temporada em sua casa, eles renunciam ao andamento do mundo.

Preste atenção: Na adequação do título do romance, conceito criado pelo jesuíta Pierre de Chardin (1881-1955), segundo o qual a evolução espiritual levaria o homem à integração cósmica com o Universo.

Trecho: "Todo momento perdido é a vida. É incognoscível, menos para nós, cada um de nós inexprimivelmente, este homem, aquela mulher. A infância é vida perdida recuperada a cada segundo, ele disse". (pág. 56)
Dublinesca
Dublinesca
Cosac Naify, 320 págs., R$ 55

Autor: O escritor espanhol Enrique Vila-Matas nasceu em 1948, em Barcelona. Entre seus livros publicados no Brasil, estão A Viagem Vertical, Bartleby e Companhia, Paris Não Tem Fim e Suicídios Exemplares.

Tema: Samuel Riba, um ex-editor na casa dos 60 anos, sente falta de seus agitados dias de lançamentos literários. Riba parte para Dublin, onde pretende comemorar o Bloomsday e a derrota da era de Gutenberg para a da internet.

Por que ler: Pela habilidade com que Vila-Matas explora uma infinidade de referências e citações, que se tornam parte essencial da narrativa - uma odisseia literária com ecos joycianos.

Preste atenção: Na relação entre o protagonista e a mulher, que se aproxima do budismo. E na importância dos autores irlandeses, além de Joyce, no enredo, como Yeats e Beckett.

Trecho: "Acha fascinante o encanto da vida ordinária. Verdade que às vezes se angustia por ter ficado tão bloqueado, tão autista informático, e também é verdade que às vezes o angustia levar uma vida sem os sobressaltos de antes". (pág. 145)
Borralheiro
Borralheiro
Bertrand Brasil, 256 págs., R$ 29

Autor: O poeta, cronista e professor gaúcho Fabrício Carpinejar nasceu em 1972, em Caxias do Sul. Entre seus livros publicados, estão O Amor Esquece de Começar, Mulher Perdigueira, Canalha!, As Solas do Sol e Cinco Marias.

Tema: Cem crônicas em que o narrador faz o papel de um homem que assume os cuidados domésticos. O subtítulo Minha Viagem pela Casa resume sua trajetória: em cada cômodo, ele encontra motivos para falar de casamento, parentes, estratégias de sedução.

Por que ler: Carpinejar tem investido com sucesso na crônica, gênero em que ele tem explorado seu lirismo e humor. Sua verve cômica se alia aqui à do conselheiro sentimental, com frases precisas de efeito.

Preste atenção: Na comicidade dos textos Quando o Homem Fingir o Orgasmo, A Importância do Tio para a Evolução da Espécie, Casado na Festa de Solteiro, Fla-Flu das Brasas, No Meio de Tudo e Beijo Multimídia.

Trecho: "Invadir a hora do café cria o impasse, além de expor o tamanho do estrago no corpo, simbolizado pela montanha de latinhas de energéticos, garrafas de vodca vazias e guimbas de cigarro pelo chão. Não veio o sono para se perdoar". (pág. 125)
Odisseia
Odisseia
Editora 34, 816 págs., R$ 79

Autor: Segundo os historiadores, Homero teria vivido no século VIII a.C. e nascido na Ásia Menor. É também atribuída a ele a composição de Ilíada, que faz par com a Odisseia na fundação da literatura do Ocidente.

Tema: Em edição bilíngue, a aventura do herói grego Odisseu (Ulisses) no retorno ao lar, em Ítaca, depois do fim da Guerra de Troia. São dez anos de perigos em terras e mares estrangeiros para que ele reveja a mulher, Penélope, assediada por pretendentes ao trono.

Por que ler: Pela suma importância da obra para a literatura ocidental. E pelos adendos da edição, como mapas, ensaio de Italo Calvino e posfácio e elucidativas notas do tradutor, Trajano Vieira.

Preste atenção: Nas subtramas que engrandecem a epopeia, como o tecer e desfiar de Penélope à espera do marido, e no encontro com seres fantásticos, como sereias, Circe e Ciclope.

Trecho: "Perdeu-se o dia do retorno de meu pai./ Permito-me solicitar tua franqueza:/ quem és? De que cidade vens? Quem são teus pais?/ Que nome tem tua nau? Os teus marujos vêm/ a Ítaca por quê? Preferes que te chamem/ como? Não creio que chegaste aqui a pé". (pág. 23)
Sardenha como uma infância
Sardenha como uma infância
Cosac Naify, 126 págs., R$ 45

Autor: O italiano Elio Vittorini (1908-1966), poeta, romancista, tradutor, crítico literário e jornalista, é autor, entre outros livros, de O Cravo Vermelho, Conversa na Sicília, Homens e Não e Érica e Seus Irmãos.

Tema: Diário de viagem sobre a região da Sardenha escrito nos anos 1930. O autor adota o recurso da fragmentação, conferindo em cada capítulo o foco a alguma particularidade que vai remetê-lo à infância, numa espécie de "aventura poética".

Por que ler: Nesta obra de juventude, Vittorini exercita - conscientemente ou não - a narrativa com que iria lidar na maturidade: a descrição do meio e a (im)possibilidade de desfrutá-lo plenamente.

Preste atenção: Nas expressões que ressoam ao longo dos capítulos como eco da frase de abertura: "Eu sei o que é ser feliz na vida". Há um contínuo deslumbramento com a descoberta de um mundo.

Trecho: "À tarde dobramos o cabo Manu. Uma escuridão misteriosa penetrou na luz, uma sombra não sei se de chuva ou de noite. Certamente o sol dissolveu-se - em seu invisível. E o céu ficou todo branco, de um gelo de nuvem uniforme". (pág. 85)
Ilustrações para fotografias de Dandara
Ilustrações para fotografias de Dandara
Objetiva, 36 págs., R$ 36,90

Autor: O dramaturgo e poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é um dos nomes centrais da poesia brasileira moderna. Publicou, entre outros livros, A Pedra do Sono, A Educação pela Pedra e Morte e Vida Severina.

Tema: Álbum de fotos e poemas concluído por João Cabral em 1975 e destinado à sua neta mais velha, Dandara. Quando trabalhava como embaixador no Senegal, o poeta recebia fotos dela e, encantando com a lembrança, compunha em sua homenagem.

Por que ler: Pela curiosidade que os escritos revelam. Poeta cerebral, João Cabral deixa transparecer, conforme os poemas demandam, a emotividade de que se distancia na sua obra madura.

Preste atenção: Em como os versos e estrofes apresentam, apesar de terem sido produzidos para o círculo familiar, o traço cabralino: a sintaxe, o ritmo, o corte, a concisão típicos de sua escrita seca.

Trecho: "D., nesta fotografia/ reviajo vinte e cinco anos:/ regresso a tua mãe menina/ Em Barcelona, aos dois anos.// Reviajo à mesma pessoa/ que nasceu pra dizer não,/ que embora tenha vivido/ pra ser desafirmação". (poema número 7)
Galáxias
Galáxias
Editora 34 - 130 págs. - R$ 54

Autor: O tradutor e poeta paulistano Haroldo de Campos (1929-2003) foi um dos idealizadores do movimento concretista brasileiro (1956). Entre seus livros, estão Xadrez de Estrelas, Significância: Quase Céu e Crisantempo.

Tema: Nas palavras do autor, trata-se de um livro entre a fronteira da prosa e da poesia, um caleidoscópio de tom épico e narrativo uma vez que mini-histórias se articulam e se dissipam, embora a imagem acabe por prevalecer e haja a visão da epifania.

Por que ler: Podendo também ser visto como um grande ensaio sobre o livro como viagem ou a viagem como livro, Galáxias funde na forma diferentes tipologias textuais e desafia a percepção do leitor.

Preste atenção: No rigor formal, que faz de cada página um fragmento. E nas leituras do próprio Haroldo de Campos - no CD encartado - de algumas dessas partes, que propõem um ritmo.

Trecho: "como quem está num navio e persegue as ondas jade jadeante a calota polar fechada em seu prepúcio noturno poderia também conter esta solidão de avesso de espelho e coluna de mercúrio o estar-aqui não-estando-aqui".
Naufrágios
Naufrágios
Editora 34 - 136 págs. - R$ 32

Autor: A artista plástica e escritora Giselda Leirner nasceu em São Paulo, em 1928. De sua produção como contista e romancista, publicou A Filha de Kafka, Nas Águas do Mesmo Rio e O Nono Mês.

Tema: Catorze contos, cujos temas respondem à ideia do título da coletânea. Conforme uma das apresentações do livro, lugares de clausura, como ilhas, residências no estrangeiro ou apartamentos na metrópole, formam o cenário propício às histórias narradas.

Por que ler: Pela maneira como se trabalha a noção do exílio, da viagem e do fim em infortúnio. Há sempre tensão no conflito entre "sonho e vigília", "erotismo e recalque", "liberdade e morte".

Preste atenção: Em O Sacrifício e suas referências. A literatura gótica, sobrenatural, romântica e a mística consumida pelas irmãs são determinantes para a interpretação.

Trecho: "O olhar do pai fora diferente. Um olhar externo cujo amor não se fazia reconhecer. Um sentimento sem nome, que nem sempre se exprimia como gesto. Aparecia só como responsabilidade. Aquilo que na mãe era entrega, no pai foi apenas o gesto". (pág. 96)
Todos os fogos o fogo
Todos os fogos o fogo
BestBolso - 160 págs. - R$ 12,90

Autor: O escritor de origem argentina Julio Cortázar (1914-1984) nasceu na embaixada de seu país na Bélgica. Entre seus livros de contos e romances, estão Histórias de Cronópios e Famas, O Jogo da Amarelinha e O Exame Final.

Tema: Reunião de oito contos: A Autoestrada do Sul, A Saúde dos Doentes, Reunião, Senhorita Cora, A Ilha ao Meio-Dia, Todos os Fogos o Fogo e O Outro Céu. O sugestivo título de alguns textos já aponta para a natureza surpreendente e fantástica da obra de Cortázar.

Por que ler: A coletânea traz o escritor no melhor de sua forma. O conto A Autoestrada do Sul, por exemplo, trata de relações sociais surgidas em um congestionamento.

Preste atenção: Na técnica empregada no conto-título, em que Cortázar funde duas histórias em contextos distintos, alternando-as inclusive em um mesmo parágrafo e rompendo antigas convenções.

Trecho: "Mas ele continuava com os olhos fechados e o suor lhe empapava a testa e o rosto era como se tivessem me enfiado dentro de água fervendo, via manchas roxas e vermelhas quando apertava os olhos para não olhá-la sabendo que ainda estava ali". (pág. 89)
Nem te conto, João
Nem te conto, João
L&PM - 144 págs. - R$ 14

Autor: O contista Dalton Trevisan nasceu em Curitiba, PR, em 1925. É também autor de Crimes de Paixão, Chorinho Brejeiro, O Grande Deflorador, A Polaquinha, O Vampiro de Curitiba, Machado Não Ganha Flor, entre outros.

Tema: Romance curto, composto da reunião de trechos de contos e o acréscimo de ideias para outros escritos. Nesta nova obra, vê-se a relação entre João, um profissional liberal de classe média alta, e Mariazinha, uma garota virgem que narra a ele as suas histórias libidinosas.

Por que ler: Para os leitores de Trevisan, eis a oportunidade de adentrar mais uma vez no universo tão particular do escritor, que desloca partes de outras obras para dar novos significados a esses trechos.

Preste atenção: Na passagem do tempo entre a primeira história e a última, quando Maria se encontra na faculdade. E na falta de comunicação efetiva entre ela e João, que ouvem apenas a si próprios.

Trecho: "Se você soubesse, João. Deu tudo errado. Na vinda, seis da tarde, uma pedra quebrou o para-brisa. Foi aquele susto. Sem tempo de mudar. Dez horas, na volta, uma ventania mais desgraçada". (pág. 50)
Os belos e malditos
Os belos e malditos
BestBolso - 416 págs. - R$ 19,90

Autor: O romancista F. Scott Fitzgerald (1896-1940) é um dos mais populares escritores norte-americanos. É de sua autoria Este Lado do Paraíso, O Grande Gatsby, Suave É a Noite e O Último Magnata, entre outros livros.

Tema: A vida movimentada, de luxo e prazeres, do casal Anthony e Gloria. Ele, um boêmio herdeiro da fortuna deixada pelo avô; ela, uma bela jovem com a intenção única de satisfazer a seus prazeres. Há aqui, para a crítica, reflexos da biografia do autor.

Por que ler: Segundo romance de Fitzgerald, a obra reproduz os elementos que fariam o escritor ser o prosador da chamada Era do Jazz. Com ironia, ele descreve a sociedade da década de 1920.

Preste atenção: No magistral retrato da crise do casal em Retrospecto, sua aflição ganha contornos precisos. E nas rubricas ao longo do livro a apontar o exato movimento dos personagens.

Trecho: "Um baile magnífico, alegre, com risos românticos despreocupados, desgasta suas sedas e seus cetins revelando a estrutura nua de algo feito pelo homem - oh, essa eterna mão! -, uma peça, trágica e divina, torna-se apenas uma sucessão de discursos". (pág. 164)
O escaravelho de ouro
O escaravelho de ouro
L&PM. 245 págs. R$ 15

Autor: O norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849) é um dos cânones da literatura ocidental e um dos expoentes do gênero fantástico. Entre suas obras, estão o O Corvo e A Narrativa de Arthur Gordon Pym.

Tema: Seleção de contos de Poe. Além do texto-título, encontram-se nesta antologia O Mistério de Marie Rogêt, O Demônio da Impulsividade, O Sepultamento Prematuro, Manuscrito Encontrado Numa Garrafa, O Coração Delator e "Tu És o Homem", entre outros.

Por que ler: A miscelânea - em edição de bolso - serve como introdução à obra de Poe. O Escaravelho de Ouro, por exemplo, figura entre suas histórias exemplares de mistério.

Preste atenção: Na riqueza da obra de Poe, que perpassa o macabro, o gótico, se aproxima da abordagem científica e se destaca por algumas poucas e iluminadas histórias de detetives.

Trecho: "Que algum dano material a nosso globo ou a seus habitantes resultaria do contato previsto era uma ideia que perdia terreno de hora em hora entre os sábios; e os sábios”.
O crime do padre Amaro
O crime do padre Amaro
BestBolso. 496 págs. R$ 19,90

Autor: Eça de Queirós (1845-1900) foi o maior representante da prosa realista portuguesa e um grande renovador do romance em seu país. Entre suas obras, encontram-se Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires e A Relíquia.

Tema: A história de Amélia, criada em um ambiente contaminado pela religião católica e pela culpa, que se apaixona por Amaro, que, em razão de uma promessa feita pela mãe beata, entra no seminário para ordenar-se padre.

Por que ler: Pelo painel social de Portugal no século 19. A hipocrisia e o atraso da classe dominante e pela desapaixonada descrição da história pelo narrador, que não o impede de ser bem-humorado.

Preste atenção: No curioso aspecto dos personagens dos livros. Todos eles impregnados de religião e de amor à Igreja, ao mesmo tempo em que se entregam aos vícios mundanos.

Trecho: "João Eduardo fazia-se escarlate de indignação. Mesmo nos tempos de sua felicidade, quanto tinha Amélia certa, aquela acusação tê-lo-ia escandalizado, Mas hoje! Justamente quando ele perdera Amélia por ter dito de alto, num jornal, o seu horror a beatos!" (pág. 259)
Honra teu pai
Honra teu pai
Cia. das Letras. 512 págs. R$ 55

Autor: O jornalista norte-americano Gay Talese nasceu em 1932. Trabalhou para publicações como o New York Times, que lhe rendeu o livro O Reino e o Poder. Lançou também A Mulher do Próximo e Vida de Escritor, entre outros.

Tema: A trajetória de um clã de mafiosos, os Bonanno, que operava nos Estados Unidos. Talese foca a relação entre o patriarca Joseph "Joe Bananas" Bonanno e o filho, Savatore "Bill" Bonanno, para contar a história do crime organizado.

Por que ler: Pelo exercício pleno do que se chama jornalismo literário. Talese combina a narrativa próxima da ficção com o apuro preciso das informações para montar essa história.

Preste atenção: Em como Talese mantém um ritmo vigoroso de seu relato sem perder de vista os dados e argumentos que sustentam seu livro. É um estilo que se tornou referência no jornalismo.

Trecho: "Os mafiosos, que não acordavam cedo, em geral se reuniam toda tarde num clube particular da rua Roebling, onde ficavam tomando café ou jogando cartas. (...) Em muito pouco tempo, Bonanno veio a ser considerado no Brooklyn como um líder em potencial". (pág. 207)
O coração das trevas
O coração das trevas
Landmark. 176 págs. R$ 17,50

Autor: O escritor britânico de origem polonesa Joseph Conrad (1857-1924) é um dos nomes centrais da literatura inglesa. Entre outras obras, é também autor de Lorde Jim, O Agente Secreto, Nostromo e O Negro do Narciso.

Tema: A aventura do inglês Charles Marlow, que assume o posto de capitão de um barco de uma companhia belga cuja missão oficial é transportar marfim por um rio do Congo. Por outro lado, o objetivo é localizar Kurtz, o administrador desaparecido.

Por que ler: Pelo evidente fascínio desta obra, sobretudo depois que foi adaptada para o cinema por Francis Ford Coppola em Apocalipse Now (1979). E pelas referências à situação da África.

Preste atenção: No percurso tumultuoso de Marlow e nas simbologias que sugerem a sua trajetória. E na construção lenta do personagem Kurtz, a figura-alvo da viagem do protagonista.

Trecho: "As ruínas de sua mente (de Kurtz) devastada estavam agora assombradas por imagens tenebrosas - imagens de fortuna e fama resolvidas com submissão em torno de seu dom inextinguível de nobreza e de expressão arrogante". (pág. 84)
O homem invisível
O homem invisível
Alfaguara, 216 págs., R$ 36,90

Autor: O inglês H.G. Wells (1866-1946), um dos expoentes do romance de ficção científica, escreveu, entre outros livros, A Guerra dos Mundos, A Ilha do Dr. Moureau, A Máquina do Tempo e O Alimento dos Deuses.

Tema: Depois de fazer um audacioso experimento científico em busca de fama e prestígio, o doutor Jack Griffin torna-se invisível e não encontra antídoto para a transformação. Carente de compreensão e acolhida das pessoas, torna-se violento e fora da lei.

Por que ler: Pelo modelo que a obra se tornou, referência para outros autores do gênero. A imaginação poderosa de Wells criou aqui um dos temas que seriam desenvolvidos pelos futuros ficcionistas.

Preste atenção: Em como Wells desenvolve sua crítica ao emprego da ciência para o benefício pessoal. E na habilidade para encadear o clima de suspense e de expectativa quanto ao destino de Jack Griffin.

Trecho: "Houve outro fato extraordinário (...) Foi o avistamento de um ‘punhado de dinheiro’ (...) flutuando sem suporte visível (...). Outro marinheiro tinha se deparado com essa visão extraordinária naquela mesma manhã". (pág. 96)
O poder ultrajovem
O poder ultrajovem
Record, 288 págs., R$ 42,90

Autor: O poeta e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu em Itabira e morreu no Rio. Entre suas obras, estão Alguma Poesia, A Rosa do Povo, Claro Enigma, Cadeira de Balanço e Contos de Aprendiz.

Tema: Reunião de crônicas e poemas de Drummond. Destacam-se os textos No Restaurante, sobre uma menina que deseja comer lasanha; Deusa em Novembro, dedicado a Cecília Meireles; e o poema Copa do Mundo 70.

Por que ler: Para tomar contato com a prosa drummondiana, que se apresenta nessa obra com a graça, a leveza e as reflexões sobre o cotidiano. Seus personagens cativam pelo humor.

Preste atenção: Em Manuel, ou A Morte Menina, em que comenta um ano de morte de Manuel Bandeira. Drummond narra os encontros dos dois e defende que Bandeira continua vivo em poesia.

Trecho: "(Sobre Manuel Bandeira) Aos 76 anos, entra na longa fila de ônibus para Copacabana, disposto a viajar em pé enquanto lê Maria Stuart em alemão, e vai mentalmente traduzindo o verso de Schiller para Cacilda Becker interpretar o drama". (pág. 236)
Meu tipo de garota
Meu tipo de garota
Companhia das Letras, 152 págs., R$ 33

Autor: O escritor Buddhadeva Bose nasceu em Bengala, em 1908, e morreu em 1974. É autor de contos, poesias, peças de teatro, ensaios e traduções, como Rilke, Baudelaire e Hölderlin.

Tema: Depois do descarrilamento de um trem, quatro passageiros que são obrigados a passar a madrugada numa estação na Índia resolvem contar histórias até a manhã chegar: A Triste História de Makhanlal, A História de Gagan Baran e O Monólogo do Escritor.

Por que ler: Pela simplicidade com que as narrativas variam de acordo com cada protagonista: um escritor, um médico, um burocrata e um empresário, "vindos de diferentes nichos da sociedade".

Preste atenção: Nos valores morais da sociedade indiana, que se manifestam nos relatos, como o casamento por conveniência e a impossibilidade de viver com a mulher que se deseja.

Trecho: "Como um pirata, o sono me cortava as mãos e as pernas; meu corpo derretia como cera, e cada vez que eu me chicoteava para não ceder, uma enorme onda de sono se erguia lá das profundezas". (pág. 119)
Submarino
Submarino
Galera Record, 400 págs., R$ 42,90

Autor: Joe Dunthorne nasceu em 1982, em Swansea, País de Gales, no Reino Unido. Submarino, seu único romance publicado, já tem versão para o cinema, que estreia neste mês na Inglaterra.

Tema: Os dilemas e planos de vida de Oliver Tate, um garoto galês às vésperas dos 15 anos. Ele deseja ajudar a melhorar o relacionamento de seus pais, que estariam em crise, e perder a virgindade.

Por que ler: Desde o primeiro romance, Joe Dunthorne foi visto pela crítica como um autor promissor. Aqui sua linguagem se mostra ágil, irônica e certeira no espanto adolescente com o mundo.

Preste atenção: Nas personagens femininas com que Oliver se relaciona: Jordana, a namorada de pele escamosa, e Zoe, que tem baixa autoestima. E na sequência da peça sobre o Holocausto.

Trecho: "Se eu fosse velho (...), passaria esses últimos (...) convencendo a mim mesmo de que o tempo é tão rápido que até mesmo as plantas (...) mal têm chance de fazer algo que preste com a vida". (pág. 330)
Papéis avulsos
Papéis avulsos
Penguin Companhia, 268 págs., R$ 25

Autor: Machado de Assis (1839-1908) é o maior nome da literatura brasileira. Romancista, contista, cronista, poeta e dramaturgo, é autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas, D. Casmurro e Crisálidas, entre outras obras.

Tema: Coletânea de 1882 que reúne 12 contos publicados originalmente na imprensa carioca entre 1875 e aquele ano. Nessa reunião de textos, encontram-se obras-primas, como O Alienista, Teoria do Medalhão, D. Benedita, O Espelho e Verba Testamentária.

Por que ler: Pela maestria de Machado de Assis na construção do conto. E pelas virtudes dessa edição: traz introdução do crítico inglês John Gledson e notas do professor Hélio de Seixas Guimarães.

Preste atenção: Na figura cômica de Simão Bacamarte (O Alienista) e em suas teorizações, no perfil psicológico construído em O Espelho e na antológica argumentação em Teoria do Medalhão.

Trecho: "Três horas depois, cerca de cinquenta convivas sentavam-se em volta da mesa de Simão Bacamarte; era o jantar das boas-vindas. D. Evarista foi o assunto obrigado dos brindes, discursos (...). Ela era a esposa do novo Hipócrates". (pág. 62)
Os comparsas
Os comparsas
Rocco, 254 págs., R$ 38,50

Autor: O escritor de romances policiais e de faroeste Elmore Leonard nasceu em Nova Orleans, em 1925. Entre seus livros, estão Irresistível Paixão, Cárcere Privado, Os Amores de Honey e Os Caçadores de Recompensas.

Tema: Jack Foley sai da prisão com a pena reduzida de 30 anos para três meses graças à ajuda de um colega de prisão cubano, Cundo, e sua advogada. Foley aguarda a liberdade de Cundo, cuja amante tem interesse em lhe roubar com a ajuda de Foley.

Por que ler: Pela retomada de personagens de outros romances, o que mantém sua produção como uma obra contínua. Procedimento feito com maestria e em direção a novas perspectivas.

Preste atenção: Em Dawn Navarro e seus jogos de sedução para atingir Jack Foley. E nos lances cômicos que envolvem Little Jimmy, que é tido como gay e começa a se interessar por mulheres.

Trecho: "Quando a gente morre (...) o corpo não está mais aqui, o espírito continua vivo, ele vive para sempre. (...) Nós aprendemos que os fantasmas não têm poder sobre nós, a menos que lhes demos alguma vantagem, demonstrando que temos medo deles". (pág. 135)
Ua: Brabi: Do outro lado do mundo
Ua: Brabi: Do outro lado do mundo
Objetiva, 256 págs., R$ 38,90

Autor: O dramaturgo e romancista Marcelo Rubens Paiva nasceu em 1959, em São Paulo. É colunista de O Estado de S.Paulo e ganhador do Jabuti por Feliz Ano Velho. Entre suas obras, está Malu de Bicicleta.

Tema: Lançado em 1990, trata da história de um jornalista, Fred, que tem de viajar para a Amazônia para descobrir o paradeiro de seu cunhado, Zaldo. Esse lidera uma seita e tornou-se o messias do povo da floresta - ou o Ua:Brari.

Por que ler: Para ir além de Feliz Ano Velho, romance mais famoso do escritor. Em Ua:Brari, Paiva investe em um enredo alegórico sobre o Brasil para abordar temas como ecologia e religião.

Preste atenção: No caráter experimental da obra, que combina vertiginosamente frases curtas, diálogos rápidos, alternância de sentenças de jornal, TV, rádio, cartazes e fluxo do pensamento.

Trecho: "Entrei no bar em frente. Cheiro de formicida. Duas doses. Um carro da polícia, voando. Um otário falando sem parar. Um bêbado foi ao chão e bebi mais duas. Uma mulher vesga, muito magra, olheiras gigantes, pediu uma Diet Pepsi". (pág. 53)
O amante de Lady Chatterley
O amante de Lady Chatterley
Penguin Classics Companhia das Letras - 378 págs. - R$ 32

Autor: O escritor inglês D. H. Lawrence nasceu em 1885 e morreu em 1930. Publicou novelas, contos, poemas, livros de viagem e peças de teatro. Entre suas obras, estão Filhos e Amantes, Mulheres Apaixonadas e O Pavão Branco.

Tema: A história de Constance Chatterley, cujo marido torna-se impotente. Ela se envolve com um empregado de sua propriedade e descobre o prazer sexual. As descrições detalhadas dessas relações causaram escândalo.

Por que ler: Pela qualidade da edição, que traz introdução da escritora Doris Lessing, texto do próprio Lawrence, que comenta a polêmica acerca do livro, e um apêndice sobre a paisagem das Midlands inglesas.

Preste atenção: Em até que ponto o lirismo de Lawrence pode soar ainda hoje como "um manifesto em favor do sexo e do amor". E nas transformações na sociedade inglesa tratadas pelo romance.

Trecho: "Ele tinha o curioso tipo de autoridade protetora que suscitava sua obediência imediata. De maneira que ela se sentou e aqueceu as mãos perto do fogo, pondo mais lenha na lareira enquanto lá fora ele voltava a martelar". (pág. 165)
Uma viagem à Índia
Uma viagem à Índia
Leya - 480 págs. - R$ 44,90

Autor: O angolano Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970. Recebeu o Prêmio José Saramago 2005 e Portugal Telecom 2007 pelo romance Jerusalém. É autor de A Máquina de Joseph Walser, Aprenda a Rezar na Era da Técnica.

Tema: À maneira de Os Lusíadas, de Camões, a narrativa em dez cantos sobre a viagem do personagem Bloom em direção à Índia. Em vez de rigor formal, há estrofes livres; em vez de monstros e mares tempestuosos, o herói enfrenta os males do século.

Por que ler: Pela magistral ideia da navegação por um itinerário típico dos protagonistas pós-modernos: tédio, memória, erotismo, moral e tecnologia são exemplos dos percalços de Bloom.

Preste atenção: No humor e nas sentenças que o narrador lança nos cantos, como se ditasse máximas, reflexo provável do objetivo da viagem, em que "procurou sabedoria e esquecimento".

Trecho: "E os poetas desaparecem./ De facto, o que alguém quis dizer,/ e tinha razão, foi que a poesia limpa e belíssima é inaceitável/ depois do que os homens fizeram a outros homens/ no século XX". (pág. 222)
Cala a boca e me beija
Cala a boca e me beija
Record - 240 págs. - R$ 37,90

Autor: O mineiro Alcione Araújo nasceu em 1945. É cronista, romancista, dramaturgo, roteirista e professor universitário. Publicou Nem Mesmo Todo o Oceano, Pássaro de Voo Curto e Urgente é a Vida, entre outras obras.

Tema: Reunião de 70 crônicas publicadas no O Estado de Minas e selecionadas pela professora Glória Gomide. Entre os assuntos colhidos do cotidiano, estão memória da família, Deus, mulheres, histórias infantis, causos do Rio e conversas de namorados.

Por que ler: Autor de sensibilidade e técnica para registrar o cotidiano, Alcione Araújo revela maestria no gênero crônica por imprimir reflexões com um tom ao mesmo tempo erudito e bem-humorado.

Preste atenção: No texto Sherazade Espantada, que trata do valor da ousadia para o desenvolvimento da criatividade. E em O Barba-Azul, que discute se o conto de Perrault deve ser destinado a crianças.

Trecho: "Ele não singra o mar, apenas o tangencia; não o fere nem agride, flutua sobre ele, não quer domá-lo, nem descobrir seus segredos, sequer pescar seus frutos, como n’O Velho e o Mar, de Hemingway". (pág. 164)
O caso Dreyfus
O caso Dreyfus
Companhia das Letras, 232 págs., R$ 45

Autor: O romancista e advogado Louis Begley nasceu na Polônia, em 1933. Escreveu, entre outras obras, Sobre Schmidt, Naufrágio, Questões de Honra e O Mundo Prodigioso que Tenho na Cabeça.

Tema: Segundo o subtítulo (Ilha do Diabo, Guantánamo e o Pesadelo da História), trata-se da reconstituição e da análise do Caso Dreyfus (em que um militar francês judeu foi preso injustamente por traição em 1894) e uma reflexão sobre a Justiça internacional hoje.

Por que ler: Pela abrangência e detalhamento da via-crúcis percorrida por Alfred Dreyfus. Pelo rigor na apresentação dos argumentos. E por expor a repercussão do episódio até as décadas recentes.

Preste atenção: No capítulo cinco, em que Begley relaciona obras literárias que abordam o Caso Dreyfus de maneira direta ou alegórica, como as de Émile Zola, Anatole France e Marcel Proust.

Trecho: "Quando Dreyfus ouviu a leitura da acusação, em 1894, Paléologue viu lágrimas enormes brotarem de seus olhos e escorrem-lhe pela face. Mas logo em seguida seu rosto voltou a ser uma máscara impassível". (pág. 165)
O Capote e outras histórias
O Capote e outras histórias
Editora 34, 224 págs., R$ 37

Autor: Nikolai Gógol nasceu em 1809, na Ucrânia, e morreu em 1852, na Rússia. Sua obra inclui novelas, romances, contos e peças de teatro. Foi autor de Almas Mortas, O Inspetor Geral e Taras Bulba, entre outros.

Tema: Cinco contos de Gógol: Capote, sobre um funcionário público que precisa de um capote novo; Diário de um Louco, o testemunho de um apontador de penas para escrever; O Nariz, do gênero fantástico; Noite de Natal e Viy, retratos do meio rural ucraniano.

Por que ler: Pelo papel que desempenhou o autor, alçado por Jean-Paul Sartre ao patamar de fundador da literatura moderna. As narrativas aqui compiladas são capitais em sua produção.

Preste atenção: Na ironia fina de Gógol e na sua habilidade para expor a fragilidade dos protagonistas e o mundo absurdo em que estão inseridos. E na visão aguda sobre a burocracia do estado russo.

Trecho: "Até que enfim agora tomarei conhecimento de todas as coisas, dos intentos, dos motivos, enfim ficarei a par de tudo. Essas cartas vão me revelar tudo. Os cães são um povo inteligente, conhecem todos os laços políticos". (pág. 55)
Marco, o barco
Marco, o barco
Cosac Naify, 44 págs., R$ 45

Autor: O poeta e escritor Ted Hughes (1930-1998) foi autor de Cartas de Aniversário, O Homem de Ferro e Dificuldades de um Noivo, entre outros. E o designer inglês Jim Downer produziu trabalhos para a TV BBC e outras empresas.

Tema: Poema infantil sobre Marco, um barco rebocador enferrujado que escapa do cais e parte em busca de um sentido para a existência. Em vez da autodepreciação, Marco passa a encontrar a autoconfiança ao fazer salvamentos e conhecer uma barca fêmea.

Por que ler: Pela anedota da concepção do livro: Downer fez ilustrações e o poema em 1956. Hughes pediu para revisar e ficou com o material, achado 52 anos depois e entregue a Downer.

Preste atenção: No posfácio de Downer, em que elenca as pessoas de seu meio cultural, como, além de Hughes e a mulher, Sylvia Plath, os atores Peter O’Toole e Albert Finney e o pintor Robert O’Brian.

Trecho: "Granizo caiu. Não se via o sol. O ar batia/ Como um martelo. Sob os golpes,/ Marco seguia, cantarolava de alegria,/ ‘Sou mais do que um bom páreo, no meu dia a dia,/ Para aqueles com os quais eu tope’". (pág. 26)
Kappa e o levante imaginário
Kappa e o levante imaginário
Estação Liberdade, 352 págs., R$ 47

Autor: O romancista e contista japonês Ryunosuke Akutagawa nasceu em 1892 e morreu em 1927. Entre suas tantas histórias, estão A Vida de um Idiota, O Fio da Aranha, O Fumo do Diabo, A Engrenagem e Os Salteadores.

Tema: Reunião de contos: Kappa; Rashomon e No Matagal, que inspiraram o filme do diretor Akira Kurosawa; O Nariz (1916); Destino (1917); Os Salteadores (1917); Inferno (1918); Dragão (1919); As Laranjas (1919); A Mágica (1920) e Rodas Dentadas (1927).

Por que ler: Mestre do conto japonês, Akutagawa tem sua obra revalorizada com essa seleção, que apresenta contos inéditos e novas traduções. E pela referência ao folclore japonês.

Preste atenção: Nas duas vertentes em que esses contos se alinham: a histórica e a introspectiva. No primeiro, os enredos se ambientam no Japão e, no segundo, tratam das tensões humanas.

Trecho: "As pessoas deixaram de frequentá-lo. Os corvos, não. Surgiam em bando, não se sabia de onde. À luz do dia, grasnavam e voavam em círculos sobre os adornos da alta cumeeira. (...) Vinham, é claro, bicar a carne dos cadáveres". (pág. 86)
Hell’s Angles
Hell’s Angles
L&PM, 352 págs., R$ 22

Autor: O nome do jornalista americano Hunter S. Thompson (1937-2005) encontra-se entre os principais do movimento conhecido como "novo jornalismo". Entre seus livros, estão Reino do Medo e Medo e Delírio em Las Vegas.

Tema: Relato acerca da gangue norte-americana de motociclistas Hell’s Angels. Depois de um ano convivendo com o grupo, Thompson descreve o cenário de violência, drogas, assaltos, estupros e brigas que amedrontavam as cidades por onde passavam.

Por que ler: Primeiro livro de sucesso do autor, é uma das obras capitais do novo jornalismo, gênero que funde a narrativa literária com a objetividade e a pesquisa exigida pela reportagem.

Preste atenção: Em como Thompson imprime à narração dinamismo e ritmo nas sequências em que ele se encontra em situação de perigo. E no retrato das cidades interioranas dos Estados Unidos.

Trecho: "É preciso ver um fora da lei montar em sua moto e depois começar a pular no pedal de ignição para poder avaliar com precisão o que isso significa. É como ver um homem com sede encontrar água. Sua feição muda". (pág. 115)
Os Sertões: A luta
Os Sertões: A luta
Desderata - 80 págs. - R$ 44,90

Autor: O roteirista, quadrinista e ilustrador gaúcho Carlos Ferreira é editor das revistas Caos e Olho Mágico, entre outros trabalhos. Rodrigo Rosa é gaúcho e nasceu em 1972. Trabalha desde os 14 anos como quadrinista.

Tema: O terceiro capítulo do romance Os Sertões, de Euclides da Cunha, em formato de novela gráfica. A obra narra a guerra entre sertanejos seguidores de Antonio Conselheiro e o Exército brasileiro, o vencedor do conflito - ocorrido entre 1896 e 1897.

Por que ler: Pela oportunidade de uma releitura de uma obra capital para compreender o Brasil. Fruto de uma minuciosa reportagem, Os Sertões rompe as fronteiras entre jornalismo e literatura.

Preste atenção: Em como Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa transformaram a prosa de Euclides. E nas cenas criadas para ilustrar os bastidores da guerra, como as reuniões de Prudente de Morais.

Trecho: "Em Bello Monte ninguém vacila, ninguém escapa do fim. Lutaremos com pedras, paus ou armas roubadas de vosmicês contra o Golias República. As nossas carnes serão feridas e crivadas de chumbo, mas as nossas almas estarão nos céus”.
O Carrossel
O Carrossel
Berlendis & Vertecchia Editores - 24 págs. - R$ 32

Autor: O poeta tcheco Rainer Maria Rilke nasceu em 1875 e faleceu na Suíça, em 1926. Escreveu poemas e prosa, entre os quais Vida e Canções, O Livro das Imagens, Elegias de Duíno e Cartas a um Jovem Poeta.

Tema: Poema em que são descritas as sensações e as imagens de um carrossel que gira indefinidamente. A aparição de um elefante branco serve para marcar que uma volta se completou. Nesta edição, as ilustrações são da francesa Isabel Pin.

Por que ler: O Carrossel integra o volume Novos Poemas, cujos textos foram compostos entre 1907 e 1908, na estada de Rilke em Paris, período em que a produção do poeta tem um salto qualitativo.

Preste atenção: Em como o intervalo da repetição do verso "E vez em quando um elefante branco" indica o aumento da velocidade do carrossel. E nos recursos que alinham o poema ao simbolismo.

Trecho: "E nos cavalos todos vão passando,/ e até meninas, para tais passeios/ já que crescidas: levantam em meio/ ao salto o olhar pra lá, pra cá, vagando.// E vez em quando um elefante branco".
Dostoiévski: Bobók
Dostoiévski: Bobók
Editora 34, 172 págs., R$ 37

Autor: O escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) é um dos cânones da literatura ocidental. Entre suas obras capitais, encontram-se Crime e Castigo, Os Demônios, Os Irmãos Karamazov e Memórias do Subsolo.

Tema: O escritor Ivan Ivanovitch, depois de presenciar um enterro, começa a ouvir as vozes dos mortos no cemitério. As almas que dialogam entre si representam diferentes figuras da sociedade russa: militares, governantes, funcionários públicos, médicos e as altas autoridades.

Por que ler: Magistral narrativa satírica, o conto expõe os vícios e a crise moral da Rússia da segunda metade do século 19 - e responde às críticas feitas ao autor por ter escrito o romance Os Demônios.

Preste atenção: No uso de um recurso caro a Doistoévski: a polifonia, ou seja, um conjunto múltiplo de vozes que se misturam à do narrador para tecer pontos de vista distintos na composição da história.

Trecho: "Aconteceu de forma súbita e involuntária, mas o efeito foi surpreendente: tudo ficou em silêncio, exatamente como no cemitério, desapareceu como um sonho. Fez-se um silêncio verdadeiramente sepulcral". (pág. 37) 

fonte:
http://revistaescola.abril.com.br/ferias/livros.shtml