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Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Febre do Rato - "O cinema é uma arte de transformação", diz Cláudio Assis sobre seu novo longa

Febre do Rato


por Anna Carolina Lementy
Conteúdo do site da Assinatura-colherada
Foto Divulgação
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Nanda Costa é Eneida e Irandhyr Santos é Zizo em Febre do Rato, todo filmado em preto e branco
Inspiradas pelos versos fortes de um poeta que propõe a real independência, um grupo de pessoas tira a roupa no meio da rua, num claro dia de sol, em meio às comemorações do 7 de Setembro. A polícia chega (no filme e na realidade), o movimento é reprimido com violência. A manifestação e a verdade do corpo nu são, enfim, sufocados. Assim é uma das cenas mais simbólicas de "Febre do Rato", o novo longa metragem de Cláudio Assis, dos pesados Amarelo Manga e Baixio das Bestas. De fato, a polícia coibiu as filmagens, apesar da autorização dada pela prefeitura, e esse episódio fala muito sobre o cinema de Assis, revelador da violência e da opressão.
Nesta terceira experiência, filmada toda em preto e branco, o que interessa é mostrar o contraste entre o progresso de Recife, cheia de condomínios (mas com uma ordem social excludente e conservadora), e a transgressão política e sexual proposta por Zizo (Irandhir Santos), um poeta anarquista que parece vir de outro tempo, menos conformado.
Zizo passa os dias a gritar sua poesia em um megafone, a bordo de um carro capega que dirige pelos múltiplos cenários de Recife – vale dizer que todos os poemas que aparecem no filme são originais, escritos pelo roteirista Hilton Lacerda. Numa casa caótica, Zizo edita e imprime fanzines de protesto (intitulados Febre do Rato, uma expressão popular típica do nordeste usada para dizer que alguém está fora de controle).
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Num tanque destinado a prazeres sem fim, Zizo faz sexo com mulheres mais velhas. Pelos bares da cidade, ele se embriaga e fala de mudança na companhia de amigos como coveiro Pazinho, homem de poucas palavras interpretado por Matheus Nachtergaele.
Num segundo momento do filme, vê-se Zizo completamente entregue a um amor não correspondido pela colegial Eneida (Nanda Costa, numa atuação surpreendente). Ela se entrega a todo mundo, menos a ele. Eis aí a fonte de sua ira e de uma paixão ainda mais incontrolável. Diante da impossibilidade dessa relação, pouco a poesia pode fazer.
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Tramas paralelas mostram a juventude da cidade vivendo o amor livre. Conta-se a bonita história de Pazinho e o travesti Vanessa (Tânia Granussi), passional, cheia de idas e vindas. São evidências de que o cinema de Cláudio Assis se apoia na liberdade, em todas as suas matizes. Confira a entrevista que fizemos com o diretor:
Qual foi a mensagem que você tentou passar com o filme?
Eu acredito no cinema que faz pensar. Você sai do filme, senta numa mesa de bar, numa calçada com seu namorado ou a sua namorada e fica pensando no que você viu. Não vou ter a oportunidade de fazer muitos filmes, e quando fizer ninguém vai ter a obrigação de gostar, mas vão saber que ali tem uma atitude e um respeito com o que está sendo feito.
Recife está efervescente, muita coisa boa tem saído de lá, na música e no próprio cinema. No seu filme, nota-se uma crítica às pessoas que ficam nos grandes condomínios e não veem isso acontecer...
Não temos que criar 13 Torres Gêmeas, um paredão de concreto. A cidade não é isso, a gente tem que respeitar a cultura do lugar.
Nesse ponto, você parece bastante o Zizo...
Aquela história que está ali é algo que eu e o Hilton Lacerda estamos perseguindo desde "Amarelo Manga", então o Zizo tem muito da gente. Eu quase fiz o papel do poeta, mas não dava, não dava, seria um pouco demais. E eu sou um pouco desengonçado. Mas o Beto Brant achava que eu tinha de fazer o Zizo (Cláudio Assis atuou em "Crime Delicado", de Brant, e era ator de teatro em Caruaru, onde nasceu). Aí veio o Irandhir Santos, que é um ator sensacional, o Matheus (Nachtergaele), que é uma pessoa generosa, grande, e está tudo certo.
Por que um filme em preto e branco?
Eu acho que a poesia e a palavra tinham que aparecer. E o próprio preto e branco na fotografia maravilhosa de Walter Carvalho é uma poesia também. Ver um filme em preto e branco é muito bom.
Você fala bastante de protesto e de mudança no filme. Você acha que a juventude brasileira está muito quieta?
Eu acho. Os movimentos sociais estão meio parados. A juventude ficou... sabe? O mundo está sendo feito pra você achar que está tudo certo. Você vai ser aquilo, as pessoas não lutam para mudar o estado das coisas, não existe mais o movimento de transformar. Eu sinto falta. É o umbigo miúdo, as pessoas querem para si, não para a coletividade. O que estamos buscando (no nosso cinema) é que a juventude tenha oportunidade e faça o filme que ela quer fazer, e não fique fadada a fazer filme de amor, ver novela das oito.
Você não tem um pouco de medo de que vejam o personagem central do filme como um bêbado que só pensa em sexo, que não é pra ser levado a sério?
O mundo é dos caretas. Quem vai falar esse tipo de coisa é só quem não tem coragem. Eu não tenho rabo preso. Faço o cinema que estou acreditando. Quero que meu filho tenha orgulho de mim e não diga que sou um vendido. Tenho um compromisso com o cinema que a gente quer fazer, com a arte. O cinema é uma arte de transformação.
Acha que existem coisas boas sendo feitas no cinema nacional?
Sim, mas tem que perder essa coisa de Hollywood. Não tem um filme voltado pras conquistas do nosso povo, da nossa cultura, e temos que apostar nisso. Os americanos vendem ideologia com o cinema deles e a gente não vai fazer esse tipo de filme. Se fizermos filme de verdade, não por decreto, aí vai ser legal. Com as fórmulas que já existem, estamos fadados ao fracasso.




ci-colherada-febre-rato-3FONTE:http://bravonline.abril.com.br/materia/febre-do-rato

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