Quem sou eu

Minha foto
Santa Cruz do Capibaribe/ Caruaru, NE/PE, Brazil
Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

SEGUIDORES

quarta-feira, 13 de março de 2013

Homofobia: um problema complexo de se resolver


Homofobia: um problema complexo de se resolver
Mariana Branco

Estudos revelam despreparo de gestores ao enfrentarem a
discriminação contra homossexuais no ambiente escolar

Em uma escola pública de Uberlândia (MG), um professor homossexual era frequentemente agredido pelos alunos, que o chamavam de boiola e de bicha. A direção não tomou providências, provavelmente por medo de revides, uma vez que a instituição localizava-se num bairro com alto índice de criminalidade. O relato, que faz parte do estudo Docências que Transitam pelas Fronteiras das Sexualidades e do Gênero: a Escola como Espaço de Imposição de Poderes e Resistências, do educador Neil Franco Pereira de Almeida, evidencia a discriminação contra homossexuais nas escolas brasileiras. Embora muitos gestores ainda prefiram não discutir o assunto ou até negar a sua existência, a homofobia faz vítimas, seja os professores, que acabam saindo da escola, seja os estudantes homossexuais, que terminam entrando para as estatísticas de evasão escolar.

O estudo de Almeida analisa relatos de professores e professoras gays, travestis e lésbicas, e suas análises são parte de uma pesquisa de mestrado em Educação realizada nos anos de 2007 e 2008. Na visão do docente, a homofobia está relacionada à construção social que diz que a sociedade é construída por dois gêneros — masculino ou feminino — e que uma dessas duas identidades, que seria a masculina, tem um valor social superior à outra. “O estereótipo gay estaria transitando para o gênero feminino e desobedecendo a regra de que o masculino é a
identidade máxima. A homofobia vai denunciar o sexismo que existe socialmente e que envolve professores, professoras, alunos e alunas”, explica Almeida, que também é professor do curso de Educação Física da Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), de Minas Gerais.

O educador ainda destaca as consequências do preconceito, como a baixa autoestima de docentes homossexuais. “Às vezes, ele [o professor homossexual] pode se sentir na obrigação de alimentar essa homofobia dentro da escola, achando que talvez não tenha o valor social que lhe é devido, que deveria ter. Lá no fundo, ele pode acreditar que a desvalorização da homossexualidade é uma coisa legítima, legal. Na minha pesquisa, percebi que eles têm um pouco de dificuldade de administrar isso”, analisa.

É aí que entra o papel do gestor escolar no combate à homofobia. Mas, para especialistas no assunto, o que mais se vê são profissionais despreparados diante de situações discriminatórias, e, não sabendo lidar com a situação, muitos preferem ignorá-la. “O discurso da diversidade é muito frágil, fica muito no papel. Na hora de botar em prática mesmo, é outra história, porque na verdade o discurso é uma coisa, mas a prática é outra”, afirma o professor.

Para o deputado estadual José Rodrigues Lemos (PT-PR), o Professor Lemos, a escola brasileira, situada em uma sociedade que é preconceituosa, reproduz essa realidade. “Diante de pesquisas, observamos que é grande o número de estudantes que rejeitam a presença de colegas homossexuais. Dados mostram que há uma exclusão nas escolas dos alunos que não são heterossexuais, e a maioria acaba abandonando a escola”, afirma, lembrando que o Brasil já foi considerado o país mais homofóbico do mundo. Ele se refere ao Relatório Anual do Grupo Gay da Bahia (GGB), que lista desde 1980 os assassinatos de homossexuais no País — em 2008, o Brasil registrou o maior número de crimes do gênero (190 casos), seguido pelo México (35) e pelos Estados Unidos (25).

Segundo o deputado, quando acontece uma situação de discriminação, é importante que os docentes estejam preparados para atender a uma demanda como essa. “Mas, evidentemente, eles precisam contar com uma equipe pedagógica preparada, com a direção e com o Conselho Escolar, que, na área pública, é o órgão de maior deliberação da escola.” Lemos propõe a sensibilização de gestores de escolas públicas e privadas para a promoção de um debate sobre o assunto e a inclusão desses conteúdos no interior das escolas. “Se avançarmos com os gestores, nós vamos mais rapidamente combater a homofobia nas instituições de ensino. Estamos propondo abrir esse debate levando toda a comunidade escolar a refletir”, afirma. No final do ano passado, ele promoveu, na Assembleia Legislativa do Paraná, a audiência pública sob o tema Escola sem Homofobia: Toda Discriminação Deve Ser Reprovada!. Uma das propostas aprovadas na audiência pública pelas entidades presentes — instituições integrantes do Fórum Paranaense de Gênero e Diversidade Sexual, como a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Dom da Terra, o Grupo de Gênero da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR) e o Grupo Dignidade — foi a criação de um projeto de lei que tornaria obrigatória a inserção de conteúdos curriculares sobre as relações entre os gêneros e a diversidade sexual nos estabelecimentos de ensino do Estado, medida que seria aplicada em instituições públicas e privadas, da Educação Básica ao Ensino Superior.

Almeida lembra em seu estudo que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), do Ministério da Educação (MEC), apresentam a orientação sexual como um de seus temas transversais, ou seja, os conteúdos relacionados à temática da sexualidade devem atravessar e ser contemplados por todas as séries e por todas as áreas do conhecimento. Mas ele acrescenta: “São dez anos de uma proposta que pouco se conseguiu instituir como forma de desenvolver esse conhecimento”.

Formação

Se o projeto de lei do Paraná fosse aprovado e colocado em prática, poderia ser um caminho para preparar futuros docentes e gestores do Estado. “A escola não está só para ensinar Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia; ela está para contribuir para a construção de uma sociedade justa. Então, a gente não pode permitir que discriminações sejam feitas, percebidas, e a escola não tome providências”, analisa o deputado.

O professor de História e coordenador pedagógico de Ensino Fundamental (séries finais) do Colégio de Aplicação João XXIII, de Juiz de Fora (MG), Anderson Ferrari, alerta para a necessidade de os educadores também estarem preparados para situações de homofobia. “A escola não quer discutir conscientemente e tem dificuldade efetiva de discutir, por várias questões. Uma delas se refere às nossas formações, sobretudo às licenciaturas, que são extremamente conteudistas. As pessoas entram na graduação e vão ser professores achando que sala de aula é só conteúdo”, opina Ferrari, que também é professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (mestrado/doutorado) na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Para ele, a sala de aula exige uma série de outras coisas e, dentre elas, as construções das identidades. “O que o professor não sabe é exatamente trabalhar essas questões.”

Ferrari acrescenta que alguns professores não tomam nenhuma atitude ao presenciar a discriminação porque, muitas vezes, não sabem como agir. “Se lida mal com isso fora da escola, ele vai lidar da mesma forma na instituição. A graduação não foi capaz de mudar essa postura dele, porque não discutiu isso. Basta a gente pensar: qual faculdade discute sexualidade? Você não tem na História, por exemplo, a história da sexualidade. Você não tem nenhum momento em que se discute a sexualidade, muito menos a homossexualidade”, alerta.

Recomendações

Os especialistas sugerem que o gestor aborde a diversidade sexual e o respeito à orientação sexual não apenas com o corpo docente, mas com todos os colaboradores da instituição de ensino. “Esses funcionários recebem o aluno no portão, fazem a merenda, estão na biblioteca, na secretaria e andando pelo pátio. E os estudantes têm confiança e conversam muito com eles. Então, esses profissionais precisam estar incluídos no debate”, analisa Lemos.

Outra orientação é que as instituições de ensino estabeleçam regras claras para evitar confusões. Ferrari relembra uma situação em que um aluno queria ir para a escola com a camisa do arco-íris durante a semana de comemoração do Rainbow Fest — evento organizado pelo Movimento Gay de Minas (MGM). Quando isso foi negado a ele, o estudante achou que a escola estava agindo de forma discriminatória. “Isso é uma regra da escola que cabe a todo mundo. A fronteira é muito tênue. Não quer dizer que não haja homofobia; ela existe de fato e muitas vezes é sutil.”

Religião

Um professor entrevistado por Almeida (para o estudo citado no início deste artigo) apontou a religiosidade como uma das principais barreiras na construção de um trabalho representativo que discuta a homossexualidade nas escolas. E essa questão afeta não apenas as instituições brasileiras. Nos Estados Unidos, por exemplo, a aprovação em maio de 2009 de um currículo que visava evitar a homofobia em escolas de Alameda, na Califórnia, está provocando muita polêmica. A Lição 9, como é chamada, gerou um processo judicial, acusações de que famílias religiosas estão sendo discriminadas e ameaça de afastamento dos três membros do Conselho Educacional da cidade que aprovaram a medida. Ela se resume ao ensino sobre o tema uma vez ao ano, durante 45 minutos, para todas as séries a partir da Educação Infantil. Lá, existe uma tensão entre pais gays, que querem ter seus filhos protegidos contra possíveis discriminações, e pais que acreditam que é muito cedo abordar homossexualidade com alunos de Ensino Fundamental.

Para Rogério Diniz Junqueira, pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a principal consequência de as escolas não implementarem políticas de enfrentamento à violência e ao preconceito motivado por orientação sexual e identidade de gênero é a construção de um ambiente escolar menos pedagógico e seguro. “As pesquisas do Inep mostram que, quanto mais preconceituoso é o ambiente escolar, menor é o rendimento escolar de todos os estudantes; a média cai” (veja dados a seguir).

Preconceito nas escolas

Uma recente pesquisa nacional, resultado de uma parceria entre o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), analisou ações discriminatórias em 501 escolas. Participaram 501 diretores, 1.005 professores, 1.004 funcionários, 15.087 alunos e 1.002 pais/mães de alunos. Veja alguns resultados:

• 99,3% afirmaram possuir algum nível de preconceito, sendo que 87,3% indicaram o preconceito em relação à orientação sexual.

• 98,5% apresentaram predisposição a manter algum grau de distância em relação aos homossexuais.

• O índice de conhecimento de situações discriminatórias pelo fato de o aluno ser homossexual foi de 17,4% e pelo fato de o professor ser homossexual foi de 8,1%.

• Escolas em que se observaram atitudes mais preconceituosas entre os alunos apresentaram avaliações mais baixas na Prova Brasil 2007 (em Matemática e Português).

Estados de negação

Enquanto trabalhava na implementação do Programa Brasil Sem Homofobia, do Governo Federal, Rogério Diniz Junqueira, hoje pesquisador do Inep, ouvia discursos de agentes públicos e dirigentes escolares que deixavam transparecer um estado de negação em relação à homofobia e à diversidade sexual. Em um estudo, ele agrupou e problematizou argumentos colhidos entre 2005 e 2008:

• Negação literal: nega-se de forma direta e categórica. Exemplos: “A homofobia não é um problema” ou “As coisas não são assim. Nessa escola, não temos gays nem lésbicas”.

• Negação implícita: são negadas as suas implicações psicológicas, físicas, morais e políticas, e, em geral, o interlocutor utiliza justificativas evasivas. Não raro, essa negação se dá por meio de afirmações que parecem justificáveis: “Por que eu deveria me arriscar? Em outros países é pior do que aqui”.

• Negação interpretativa: mais do que refutar diretamente o fenômeno, procura-se atribuir a ele um significado ou um contorno diverso: “Será que é assim mesmo? Afinal, faltam dados, indicadores que comprovem que essa violência seja fruto da homofobia”.

• Hierarquização: aqui, a homofobia não é simplesmente negada, mas denegada por meio do estabelecimento de níveis de prioridade que nos obrigariam a adiar o seu enfrentamento: “Devemos primeiro enfrentar o analfabetismo”.

• Diversionismo: o interlocutor, ao admitir a homofobia, exibe aqui maior preocupação em introduzir novos problemas, apresentar argumentos fantasiosos e discutir aspectos nitidamente escapistas ou pouco relevantes: “Isso é muito complexo. A escola não está preparada” ou “Isso é coisa para o pessoal da saúde”.

• Apelo ao senso de oportunidade: “Ainda é cedo” ou “Não há clima neste momento”.

• Antecipação fatalista: ressaltam-se dimensões negativas das ações de reconhecimento da diversidade e de crítica da homofobia. “Não vai adiantar”, “Nossa contribuição não fará nenhuma diferença” ou “Sempre foi assim e continuará sendo em todo o mundo”.

Fonte: Estudo Não Temos que Lidar com Isso. Aqui Não Há Gays nem Lésbicas! Estados de Negação da Homofobia nas Escolas.

Mariana Branco é jornalista.
Endereço eletrônico:
mariana@humanaeditorial.com.br
Revista Gestão Educacional. Ano 05. nº 57. Curitiba:
Humana Editorial, fevereiro de 2010.

Nenhum comentário: