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Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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sábado, 18 de fevereiro de 2012

O best-seller dentro e fora da sala de aula



Bianca Borgianni

O que é best-seller?

Em termos literais, chamamos de best-sellers os livros que figuram ou figuraram na lista dos mais vendidos das livrarias. Essa definição não é suficiente, pois pode levantar questões do tipo: “mas então Machado de Assis escreveu best-sellers? Saramago escreveu best-sellers? Flaubert escreveu best-sellers? Porque todos esses livros um dia figuraram na lista dos mais vendidos...”. Para reduzirmos um pouco nosso campo de pesquisa, vamos deixar de lado os livros clássicos que um dia foram os mais vendidos (pois esta questão demandaria uma análise sócio-histórica bastante aprofundada) e nos focar naqueles livros que primeiro nos vem à mente quando alguém fala que leu um best-seller: tais como Harry Potter, a saga Crepúsculo, O Código da Vinci, Paulo Coelho etc. Livros nos quais o processo de escrita está intimamente vinculado ao sucesso de vendas, elaborados com o objetivo de atingir um grande público e, portanto, produtos da indústria cultural.

Essa ideia de um autor ser reconhecido pela quantidade de livros que vende não existe desde sempre. Antes do século XVIII, os escritores produziam sob o regime de mecenato, ou seja, eram financiados por alguém abastado, um mecenas que bancava os custos da publicação e garantia uma vida confortável para o artista produzir livremente. Este tipo de relação não exigia que o autor escrevesse livros que agradassem a maioria das pessoas, pois ele não dependia do sucesso de vendas para sobreviver. No entanto, a partir do século XVIII, o mercado editorial cresce substancialmente e os escritores passam a depender da venda de seus livros para se manterem: “Resta ao escritor uma escolha entre a busca pela emancipação artística, mantendo a autenticidade de seus escritos, contudo sem o retorno financeiro, ou a submissão às exigências de um vasto público leitor consumidor para garantir a independência financeira” (CORTINA; SILVA).

O que é indústria cultural?

Para fazermos uma crítica mais aprofundada aos best-sellers e a concepção de arte que os rege, é importante compreendermos o conceito de indústria cultural, formulado pelos pensadores alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer e utilizado pela primeira vez no livro Dialética do Esclarecimento, publicado em 1947.

“(...)em todos os seus ramos (da indústria cultural- tais como cinema, rádio, literatura) fazem-se, mais ou menos segundo um plano, produtos adaptadosa o consumo das massas e que em grande medida determinam esse consumo.”

A indústria cultural é o sistema que, segundo Adorno, rege a produção cultural voltada para as massas. Esses produtos são planejados para atingir um grande número de pessoas, e, portanto, tem como principal objetivo servir aos interesses do mercado. Os best-sellers, como o próprio nome já diz, são, acima de livros pertencentes a algum gênero, livros que vendem muito e são escritos para vender muito.

Tomemos como exemplo a recente onda de livros de magia e personagens sobrenaturais que tomou a prateleira dos livros infanto-juvenis. Não é por acaso que numa mesma década livros como Harry Potter, Percy Jackson, saga Crepúsculo e As Crônicas de Nárnia tenham sido escritos e vorazmente consumidos pelo público jovem. Também não é por acaso que não tenhamos citado aqui nem um único título, por assim dizer, mas apenas os nomes das séries (que chegam a conter sete livros), e também não é uma grande coincidência que todos eles tenham sido adaptados para o cinema. Podemos perceber uma produção massiva que possui grande potencial de adaptação para outras linguagens como o cinema, e que, além de tudo, alimenta a indústria de videogames, material escolar e brinquedos. Apesar de parecer que o jovem escolheu gostar disso, por todos os lados ele enfrenta uma forte pressão para gostar disso. Esse estímulo enorme da indústria cultural à produção de livros deste nicho temático é o que determina o gosto dos jovens por esses assuntos, e não o contrário, como se pode pensar.

Talvez o primeiro Harry Potter não tivesse a pretensão de vender tanto, agradar a tanta gente, virar filme e se tornar mania, mas assim que foi possível perceber o interesse de uma parcela de consumidores por esse sub-gênero da literatura, todos os outros volumes que sucederam o primeiro já foram escritos com contrato fechado com a produtora de filmes.

“As massas não são a medida, mas a ideologia da indústria cultural, ainda que esta última não possa existir sem a elas se adaptar”(ADORNO)

Ler ou não ler? (eis a questão)

A subordinação do best-seller aos interesses do mercado pode criar em alguns leitores um sentimento de profunda repulsa e reações do tipo: “prefiro nem ler, isto não é arte, não chega nem aos pés de um Machado de Assis”. Talvez em termos de valor literário e erudição, o best-seller ofereça, de fato, motivos de sobra para ser renegado por aqueles que se interessam por literatura, mas será que dentro do processo de formação de leitores ele não pode ter um papel importante?

Uma das principais funções do professor é conseguir realizar propostas em sala de aula que sejam capazes de dialogar com o repertório dos alunos, para isso é preciso captar de alguma forma quais são seus interesses, se gostam de ler e, principalmente, que tipo de leitura os agrada. Vamos imaginar uma situação em que um professor da oitava série precise introduzir textos do Machado de Assis para sua classe. Ele faz uma roda de conversa e descobre que menos da metade da classe gosta de ler; descobre ainda que, dentre os que gostam, a grande maioria inclui best-sellers e livros que não são clássicos entre os seus prediletos. O que este professor pode fazer? Se ele passar um Machado de Assis agora, corre o risco de afastar aqueles jovens leitores que estão começando a entender do que gostam, se ele passar um best-seller, corre o risco de viciar a leitura dos alunos em uma literatura comercial de pouco valor artístico. O que é mais importante, então? Ler qualquer coisa ou ler determinado tipo de literatura? É claro que não há uma única resposta para esta questão, mas algo que deve ser levado sempre em conta é a realidade dos seus alunos. O professor não pode negar todo o universo cultural deles (seja ele inteiramente formado por produtos da indústria cultural ou não) e propor uma leitura absolutamente estranha a todos, que vai se apresentar a eles como uma espécie de desafio intransponível para o qual ainda não estão preparados. Esta situação requer do professor uma mediação capaz de fornecer ao aluno ferramentas que o possibilitem a escolher por si mesmo o que quer ler. Cabe ao professor a difícil tarefa de ajudar os estudantes na libertadora transição da leitura de livros pouco complexos e conservadores em sua forma para livros questionadores da realidade, nos quais a elaboração estética da linguagem atribui às palavras a deliciosa capacidade de surpreender o leitor, colocando em xeque seus valores e sua concepção de mundo.

Existem várias teorias acerca da leitura de best-sellers na escola, uma delas chama-se “teoria do degrau” e supõe que a leitura desses livros pode ser parte de uma “escada qualitativa”, o princípio é mais ou menos o seguinte: se você gostar de ler best-sellers, será mais fácil procurar ler outras coisas, pois você já possui o principal atributo do bom leitor, o gosto pela leitura.


Acontece que o cuidado na hora de passar um best-seller na aula de literatura deve ser redobrado se o professor tiver a pretensão de desenvolver a consciência crítica dos alunos. A análise de um best-seller não pode ignorar a presença de lugares-comuns temáticos e não pode esquecer de analisar os livros formalmente, pois é aí que mora a principal diferença entre estes livros e os clássicos: os best-sellers, voltados sempre para o consumo do grande público, não são escritos para o leitor desfrutar de uma organização diferenciada da linguagem, são escritos com o propósito de não oferecer nenhum tipo de resistência ao leitor que possa atrapalhar sua compreensão e, consequentemente, sua vendagem. Se o professor decidir mediar esta difícil tarefa, é de suma importância que questione com os alunos o porquê de aquele livro ser um best-seller, bem como a sua semelhança com outros best-sellers e as suas diferenças com os clássicos.

Talvez renegação desses livros em sala de aula não seja uma boa estratégia para incentivar os alunos a ampliarem seu repertório artístico, o risco de essa forma consolidar uma imagem de que “livro chato (clássico) a gente lê na escola e livro legal (best-seller) a gente lê em casa” é muito grande. O professor de literatura precisa se esforçar para diminuir a distância entre o aluno e os livros clássicos, mostrando que eles não são “difíceis de ler”, escolher trabalhar um best-seller pode ser positivo neste sentido de avaliar coletivamente o que é um livro considerado “fácil e prazeroso de ler” e quais são os motivos disso. É preciso preparar o aluno com as ferramentas necessárias para ler o que quiser. Todos obviamente podem ler best-sellers, mas um leitor melhor preparado consegue escolher qual é o livro que melhor dá conta da sua subjetividade. Quando podemos de fato escolher o que queremos (e precisamos) ler, o livro adquire outra função além da fruição estética: a profunda ampliação das nossas possibilidades expressivas.

Bibliografia


CORTINA; SILVA. “Um olhar sobre a leitura de best-seller”. Revista Travessias, nº 02.
ADORNO, Theodor. “Resumé sobre indústria cultural”. Originalmente este ensaio foi uma conferência radiofônica proferida por Adorno em 1963. Publicado pela primeira em 1967.
ADORNO, Theodor. “Indústria cultural e sociedade”. Ed. Paz e Terra, 2009; 5ª edição.


FONTE

http://www.escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&view=article&id=25905:mercado-de-livro-ou-livro-de-mercado&catid=18:artigos&Itemid=148

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