Quem sou eu

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Santa Cruz do Capibaribe/ Caruaru, NE/PE, Brazil
Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Liberdade às bibliotecas virtuais


Escrito por Ricardo Lísias   
Ilustração por Janio Santos

Sou a favor dosdireitos autorais. Toda vez que houver uso comercial de um texto meu, quero receber por isso. Da mesma forma, sempre que um evento público contar com patrocinadores, os convidados precisam ser pagos pelo seu trabalho. Escrevo todos os dias, normalmente pela manhã, e procuro participar de uma quantidade reduzida de eventos e debates. Meu projeto literário exige algum tempo de pesquisa e revisões contínuas de um mesmo texto até atingir o ponto que me pareça satisfatório. Nunca escrevi um best-sellere é provável que meus livros sempre tenham uma quantidade limitada de leitores. Por isso, tiro meus rendimentos sobretudo como professor de língua portuguesa e inglesa em uma faculdade e de aulas particulares de português para estrangeiros.

Mas não foi por esperar pouco ou nenhum dinheiro com a literatura que me irritei com a retirada do ar, via medida jurídica, do site livrosdehumanas.org. Mantido por um grupo de alunos da Universidade de São Paulo, o espaço virtual disponibilizava arquivos PDF, quase sempre integrais, de muitas obras utilizadas nas faculdades de ciências humanas e também vários textos literários. O site era indexado, muito bem organizado e recebia milhares de acessos diários. Não tinha nenhum fim lucrativo e trabalhava de maneira colaborativa: o PDF era enviado para os administradores, que o revisavam e logo colocavam no ar.

A ação contra o site evidencia que mesmo uma parcela dos “profissionais do livro” não tem a menor ideia do meio através do qual retira seu lucro. É verdade que a difusão de arquivos eletrônicos dizimou a indústria fonográfica. No entanto, os objetos são muito diferentes. Dando um pouco de sorte é possível encantar-se com a música que o vizinho está ouvindo, sem saber como ele a reproduz. Vá alguém tentar ler Noturno do Chileesticando o pescoço para aproveitar o livro do cara sentado ao lado no ônibus...

Um arquivo PDF não é um livro. Quem baixa textos na internet muito provavelmente vai comprá-los depois. O site livrosdehumanas.orgfuncionava em parte como publicidade. As livrarias das maiores cidades do Brasil dispõem de um café onde o cliente pode examinar o que pretende adquirir. Mas a maior parte das cidades brasileiras, apesar de sempre ter o velho e bom café de bule, não conta com livrarias. Seus moradores compram livros pela internet. Assim, o arquivo serve como demonstração.

O site também tinha colocado limites na cultura do xerox, ainda reinante nas universidades. Em vez de um capítulo, os alunos podiam ter acesso a todo um livro. Vou contar uma experiência pessoal para ilustrar meu argumento. Certa vez, fui convidado por um grupo de cinco estudantes universitários que estavam fazendo uma monografia de final de curso sobre meu livro de contos (Anna O. e outras novelas). Quando os conheci, três estavam com o livro e dois carregavam xerox. Obviamente, não falei nada. Seis meses depois, no lançamento de um romance (O livro dos mandarins), os dois alunos que tinham uma cópia trouxeram agora o livro na noite de autógrafos. Provavelmente, na ocasião do primeiro encontro, não tinham dinheiro para adquirir meu livro. Com a difusão do ensino superior, ainda, o site cumpria a função de oferecer educação, um direito certamente acima dos que a ação cita.

Por fim, vale um lembrete: os direitos autorais são importantes para um autor, mas garanto que fundamental mesmo é saber que um leitor não deixará de conhecer nossos textos porque não têm dinheiro. Não podemos deixar que a miséria brasileira se alastre ainda mais pelas nossas Letras. O site livrosdehumanas.orgera uma biblioteca. A Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, que até propor essa ação judicial era desconhecida, pode até estar atenta ao lucro dos donos de máquinas copiadoras, mas colabora para a diminuição da inteligência brasileira. Quem é inimigo de uma biblioteca é companheiro da burrice. É preciso combater esse tipo de gente: primeiro impedem as pessoas de ler, logo vão nos dizer como temos que pensar, a maneira de agir e para onde devem se voltar nossos sentimentos. Eu prefiro a liberdade da tecla enter.

FONTE:
http://www.suplementopernambuco.com.br/index.php/teste/21-artigo/660-liberdade-as-bibliotecas-virtuais.html

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