Quem sou eu

Minha foto
Santa Cruz do Capibaribe/ Caruaru, NE/PE, Brazil
Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

SEGUIDORES

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Clarice Lispector: vida e obra que desafiam o tempo



Literatura

Por Bia Carrasco
Na imagem ao lado, Clarice Lispector

A data de sua morte já completa mais de 30 anos, mas suas obras continuam sendo reeditadas. Livros e mais livros analisam sua escrita, suas entrelinhas e seu pensamento visceral.
Alguns de seus personagens alcançaram o cinema para transformar a palavra em imagem. Frases, textos e trechos de sua intensa produção circulam sem cessar pela Internet. Clarice Lispector ainda está viva, pois, como ela disse um dia, “Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever”.
Na era digital que se consolida, em que obras literárias muitas vezes passam despercebidas, como explicar o público que continua nas livrarias para adquirir as publicações relacionadas à autora?
Em meio a bestsellers, seus livros continuam com lugar de destaque nas prateleiras, conquistando leitores de todas as idades e realidades. “Ela não era uma escritora meteórica de curto prazo, mas daquelas que ganham na releitura”, observa Joel Rosa de Almeida, Mestre em Letras e autor de A Experimentação do Grotesco em Clarice Lispector.
Para tudo e para todos
Influenciada por autores como Franz Kafka, James Joyce e Virginia Woolf, Clarice deixa transbordar seu intimismo visceral.
Para Joel, esse é um dos motivos que continua atraindo tantos leitores para seus livros. “A obra dela é aberta e multifacetada, permite plurais interpretações. O leitor que terá o papel de ouvir essa voz e socorrer-se. Ele que escolherá a jornada”, diz o autor sobre a temática que não se apaga com o passar do tempo.
Um grito sem resposta, uma escrita que se costura para dentro a fim de indagar as questões da condição humana, como o amor, o nascimento, a morte, o desejo.
Para Clarice, esse era o motivo de escrever. “São temas interessantes até hoje, mas o modo como ela trabalha esses temas nos contos e nos romances é que faz dela uma autora especial. Ela se incomoda com o gesto mais sutil e delicado do ser, o mínimo atrito, ela fotografa a ambiguidade ou ambivalência dos sentimentos como se precisássemos redimensionar nosso modo de ser”, completa Joel.
Para desvendar o que está “atrás de detrás do pensamento” – como disse a própria Clarice –, foram escritos nove romances por ela, compilados em uma coletânea lançada recentemente pela Editora Rocco.
Organizada pelo jornalista, escritor e crítico literário José Castello, Clarice na Cabeceira – Romances faz uma síntese da obra em questão e do momento vivido por ela ao escrevê-la. A coletânea é continuação de Clarice na Cabeceira – Contos e Clarice na Cabeceira – Crônicas, em que diferentes personalidades apresentam os textos favoritos da autora.
Em meio à sua prosa poética, Clarice emerge, segundo Joel, como uma “ficcionista-poeta”, tal como Guimarães Rosa. “São nossos dois grandes ficcionistas da modernidade. São ficcionistas-poetas.
Por esse motivo, eles têm vida longa nas estantes das livrarias”, observa o escritor sobre esses autores que trabalham a partir da sondagem psicológica de suas personagens, tendência que ganhou complexidade com o surgimento da psicanálise, na virada do século 20.
Escritora, artista plástica e tema de vestibular
A pesquisa de Joel sobre o grotesco na obra de Clarice, muito presente em sua terceira fase de produção, despertou outro interesse no pesquisador: a escritora como artista plástica. “Ela foi pintora nos idos de 1974 e 1975. Seus quadros em pinho de riga estão na Fundação-Casa Rui Barbosa”, conta o autor ao destacar a obra A Gruta, que remete justamente à estética do surreal e do grotesco.
Clarice ainda foi retratada pelo pintor surrealista De Chirico, em uma tela que revela seu olhar enigmático.
Clarice por De Chirico
Devido ao seu caráter multifacetário e seu universo de olhares, formatos e interpretações, a obra de Clarice tornou-se leitura obrigatória em diversos vestibulares, fato que muitos justificam como o motivo de sua popularidade. “Acho que os jovens gostam dessa ruptura estilística que Clarice fez em sua escrita.
Os jovens, os adolescentes principalmente, gostam de quebrar paradigmas, e acredito que, lendo as obras de Clarice, eles acabam se identificando com sua linguagem”, comenta Márcia Moreira Pereira, pesquisadora na área de Literatura.
Juventude clariciana
Dos vestibulares para as mídias sociais, o gosto dos jovens pela escritora mostra-se cada vez mais presente, fato que, segundo Joel, também pode ser perigoso. “Algo ruim tem acontecido na Internet. Há muito fragmento e citação de Clarice. Ela também está sendo muito mal lida, lida em pedaços, lida picotadamente”, observa o escritor ao afirmar que ler um grande autor não é ler frases, trechos ou máximas. “O jovem internauta brasileiro, que surfa, trafega e passeia pela Internet e pelos sites de relacionamento, precisa começar a reservar algumas horas para a leitura de textos longos, para que não haja deturpação da obra literária original”, completa ele.
Para Gabriel Flores dos Santos, 16 anos, o interesse pela escritora começou justamente por meio das redes sociais, fato que abriu caminho para um aprofundamento em suas obras.
Mesmo com o leque de opções nas livrarias, Gabriel afirma que continua lendo os livros da autora “pela maneira diferente e misteriosa que ela escreve, pelo jeito que ela faz a gente se prender na história, querendo saber o final o mais rápido possível”, conta.
Já Isabela Simão, 22 anos, entrou em contato pela primeira vez com a escrita clariciana ao ler A Hora da Estrela para o vestibular. A paixão foi tanta, que já conta com 11 obras da autora em sua lista de leituras. “Ela faz coisas banais tornarem-se tão importantes... Gosto muito de como usa palavras simples, como se fossem expulsas de seus pensamentos para o papel, organizadas de formas diferentes, que nos obrigam a parar e reler certas linhas”, diz a estudante ao lembrar que, quando começou a ler os textos da autora, sentiu-se confusa, mas depois passou a assimilar a sua estética.
Do português para o mundo
De caráter único e universal, a escrita da autora ultrapassou os territórios brasileiros. Afinal, já dizia Guimarães Rosa que se lê Clarice para a vida, para viver. “Os textos de Clarice são importantes porque são vitais, têm a força das ondas do mar, das árvores, do fluxo das águas. Aliás, foi essa força vital que impressionou muitos críticos lá fora e faz dela uma autora de estilo único”, diz Joel ao revelar que ainda fica impressionado com seus textos, que possuem dimensão filosófica que atrai psicanalistas, críticos, filósofos e leitores comuns.
Dos estrangeiros apaixonados pela obra de Clarice, Benjamin Moser aparece como um amante incondicional. O norte-americano nascido em Houston encantou-se por sua escrita já na primeira página de A Hora da Estrela, durante um curso de literatura brasileira da Brown University. Crítico e tradutor, ele aprendeu português e mergulhou na cultura brasileira do século 20 para tentar desvendar a obra enigmática da autora.
Na biografia Clarice, lançada pela Editora Cosac Naify, ele revela fatos até então desconhecidos sobre a escritora e ajuda a consolidar o crescente interesse internacional por esse figura marcante de nossa literatura. “Gostei de poder abrir novas perspectivas. Me senti um pouco pioneiro, sobretudo porque a minha biografia foi a primeira de qualquer escritor do Brasil escrita em língua estrangeira”, conta Benjamin ao ressaltar que é um desafio traduzir o pensamento da autora para outro idioma.
Profundamente ligada à palavra, a escrita de Clarice Lispector encontrou abrigo na rica língua portuguesa.
Quando indagado sobre isso, Benjamin é certeiro: “acho que estamos conseguindo, sim, passar o estilo dela, mas tradução é sempre uma imitação, de certa forma, e é difícil imitar Clarice. Às vezes, me sinto um ventríloquo com um boneco chamado ‘Clarice’, fazendo-a falar um idioma que não é o seu, mas na esperança de trazer o leitor de língua inglesa mais próximo a ela”, diz o autor, que se prepara para lançar o livro na França, em 2012, e depois na Alemanha e em outros países.

fonte: http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/43625

Nenhum comentário: