Quem sou eu

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Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

INGRAMATICÁVEL - MARINA PORTECLIS




“Amar, verbo intransitivo”
Foi este o título do livro
Romance de Mário de Andrade

Amar, verbo intransitivo
Repito,
Reflito:
Dizia ele a verdade
Mesmo avessando a gramática

Pois amar é verbo arredio
Que não exige complemento
Não escolhe sujeito
Prescinde de objeto
Direto ou indireto
Choca-se em nós sem aviso,
Por vezes em forma de prêmio,
Outras, de castigo
Sempre sem escolha
E conjuga-se em todos os tempos
Em todas as pessoas
Atreve-se a ser plural e singular
Definido e indefinido
Ecoa no pretérito perfeito
E também no imperfeito
No mais-que-perfeito, repousa
E ousa retornar ao presente,
Mesmo contido,
Mesmo ausente
O amor não é só intransitivo
É também intransigente
No futuro distante, por vezes, prorroga-se
No infinitivo dos “r”s
Amar, amar e somente
Inventando, à revelia de nós, o “para sempre”
Mesmo em primeira pessoa

O amor substantivo
Também é palavra articulada:
Como se feita de líquido
Se amolda em toda morada:
Não tem face
Não tem cor
Não tem sexo
Não tem idade
Tem apenas um capricho:
Classificar-se como abstrata

Mas o amor é mais que isto
E burla mesmo o dicionário,
É sentimento concreto,
Teimoso,
Ingramaticável

Além das palavras,
Além das quimeras,
Além das vontades,
O amor, de tão concreto, é terreno
Onde se erguem indústrias,
Pontes,
Cabanas,
Miragens,
Onde crescem frondosas árvores
Onde descansa a chuva
De onde verte coragem

Feito navio sem leme,
O amor segue à escolha do vento
Propõe pacto contra o tempo
E vence
A singrar pelos mares

Mas o amor não é só verbo,
Não é só substantivo,
Não é só terreno fértil
De onde despontam abrigos
O amor também é semente
Que precisa ser regada
E, astuto, se desfaça
De pronome reflexivo
A exigir cumplicidade

É quando o desafio começa
E de navio sem leme
Transmuda-se em leme sem navio
Que finge ser guiado,
Que finge ter controle,
Que se acomoda nos particípios:
Amado e Amado
Até que um colide no outro
E o amor, compassadamente sepultado,
Encolhe, seca e morre
No silencio negligente
De não ser mais conjugado

Retomemos, portanto, a gramática,
As lições, os dicionários
Em busca de outra palavra
A completar o amor:
“Cuidado”.

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