Quem sou eu

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Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES - CLARICE LISPECTOR




A obra apresenta um narrador em terceira pessoa e tem como personagem principal uma mulher, cujo nome é Loreley, mas é chamada de Lóri. Lóri é de família de posses, de origem agrária. Vive no Rio de Janeiro, separada da família, sozinha, trabalhando como professora primária. Para manter um padrão de vida acima das possibilidades de uma professora, Lóri recebe mesada do pai.
Vejamos o começo da obra:

,estando tão ocupada, viera das compras de casa que a empregada fizera às pressas porque cada vez mais matava o serviço, embora só viesse para deixar almoço e jantar prontos[...]

Este início, com uma vírgula antes de qualquer palavra, e, na seqüência, um período longo, aparentemente incompleto, sem 'começo', faz parte da estrutura formal da obra e demonstra um dos traços dominantes na obra de Clarice Lispector: a preocupação com a escrita, com as possibilidades de as palavras representarem [ou não] as sensações, as percepções, enfim, a condição humana. No livro em estudo, este início fragmentado pode ser interpretado da seguinte maneira: a narrativa apanha um determinado momento da personagem Lóri. Ou seja, o livro fala sobre Lóri a partir daquele momento em que ela estava ocupada, pensou na empregada, etc. O que veio antes daquele momento, disto a narrativa não se ocupa. O ponto de partida é aqui: , estando ocupada... Assim, este livro capta um momento de Lóri, nem antes, nem depois. A representação parcial da vida de Lóri, dá-se, no plano da escrita, por uma parcialidade formal: o romance começa com uma vírgula e termina com dois pontos. Aqui está o final do livro:

-Eu penso, interrompeu o homem e sua voz estava lenta e abafada porque ele estava sofrendo de vida e de amor, eu penso o seguinte:

Posta nestes termos, a narrativa dá a idéia de continuidade: Lóri, sua vida, seu mundo, existiam antes e existirão depois do livro.

Não é uma história de amor comum. Logo na primeira página do livro, sabemos que Lóri mantém um relacionamento com Ulisses [tendo um encontro com ele, busca entre as suas roupas um vestido para ficar 'atraente']. As características deste relacionamento vão sendo desvendadas ao longo da narrativa. Ulisses é professor universitário de filosofia. Aos poucos vamos sabendo que Lóri está 'aprendendo a amar', ou a 'ter prazer', com Ulisses. São vários os momentos narrativos em que isto fica explícito: ela está sendo 'preparada para a liberdade por Ulisses', 'Ulisses determinará quando ela estará pronta para dormir com ele'.

A aprendizagem de que nos fala o título é o caminho que percorre Lóri enquanto dura a narrativa. Este processo terá sua conclusão quando Lóri estiver 'pronta' para dormir com Ulisses. Não se pense que este 'pronta' significa uma virgem preparando-se para seu primeiro amor. Lóri já teve outros amantes, que ela desqualifica, não como amantes, mas como relacionamentos inconsistentes ou superficiais. Trata-se de, com Ulisses, aprender ou descobrir o prazer para além do meramente sexual: algo como um amor total, com a personagem sentindo-se 'plena'. Esta é a travessia do livro, a trajetória a ser percorrida pela personagem. Em meio a este percurso, Lóri tem que se haver com inseguranças, medos, hesitações, encontros e desencontros com Ulisses: é a angústia d busca. Trata-se de uma busca que, a esta altura, não se resume apenas no ato de 'dormir' com Ulisses. Lóri pretende dar um 'passo à frente' na sua vida. O relacionamento com Ulisses, cujo ápice se dará quando estiver 'pronta', recobre-se de um significado especial, uma 'plenitude'. Depois de vários encontros nos quais conversavam sobre a 'aprendizagem' de Lóri, Ulisses diz a ela, num dado momento que, a partir daquele momento, não mais a procurará. Ela está 'pronta'. Ela sabe os seus horários de aulas, sabe os momentos em que ele estará em casa. Ulisses diz que vai esperá-la, querendo que ela não telefone avisando: 'Queria que você, sem uma palavra, apenas viesse'. A decisão de Ulisses causou um primeiro impacto em Lóri, que hesitou, demorou, mas numa madrugada chuvosa, estando 'mansamente feliz', teve o desejo: imediatamente, sem sequer trocar a roupa, apanhou um táxi, vestida com uma camisola, e foi até a casa de Ulisses. Amaram-se. Falam em filhos e casamento. Segue-se um diálogo no qual Lóri e Ulisses conversam sobre o amor, sexo, solidão, Deus e a obra termina com a frase em letras itálicas acima.

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