Quem sou eu

Minha foto
Santa Cruz do Capibaribe/ Caruaru, NE/PE, Brazil
Posso ser séria, brincalhona, distraída, chata, abusada, legal,ótima, travosa (como diz um grande amigo) isso depende de você, de mim, do dia ou da situação. Quer mesmo saber quem sou eu? Precisa de mais proximidade. Gosto de ler e escrever, embora nem sempre tenha tempo suficiente para tais práticas. Gosto de tanta coisa e de tantas pessoas que não caberiam aqui se a elas fosse me referir uma por uma. Acho a vida um belo espetáculo sem ensaios onde passeamos dia a dia a procura da felicidade. Para falar mais de mim profissionalmente: Sou professora. Graduada em Letras-FAFICA. Atualmente estudo sobre Leitura Literária no Ensino Fundamental. Atuo no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

SEGUIDORES

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O SEBO: OÁSIS COM TANTOS DESTINOS LEITORES.(Antonio Gil Neto)



2805_gil_gde

“Nós somos feitos/ Da mesma matéria dos sonhos e nossa pequena vida/ Está envolta em um sono”.

(in A tempestade, Shakespeare)

Uma bíblia alemã que precisou ser enterrada para não ser destruída na Segunda Guerra? Um exemplar antigo, ricamente ilustrado de Alice no País das Maravilhas? A primeira edição brasileira de A Origem das Espécies, de Charles Darwin? Pois é, exemplares como esses poderiam estar num museu. Mas, podem estar em sebos.

Sebo é o nome popular dado a livrarias que compram, vendem e trocam livros usados. Mas é de alfarrábio - palavra árabe, ainda utilizada em Portugal e que significa “livro antigo ou velho e de pouco préstimo ou valioso por ser antigo” - que podemos ter a idéia melhorada, a de um lugar misterioso, curioso e cheio de encantos e preciosidades à espera de nossa pesquisa e aventura.

Fiquei pensando que sebo pode ser originado do manuseio constante do livro e que acaba ensebando suas páginas. Será?

Diferente de nós, em Portugal o sebo não terá exemplar novo. Terá o raro, o autografado, a edição esgotada. Aqui não: sebo pode ter de tudo. De lançamentos a fora de catálogo. Os sebos brasileiros se organizaram, ampliaram seus acervos com a aquisição de livros seminovos e novos e se modernizaram, passando a vender livros também pela internet. Na sua cidade, no seu bairro há algum sebo? Você já o visitou? Tem curiosidade? Tenha a certeza de que será uma aventura deveras interessante visitar o site estantevirtual@com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. . Experimente digitar logo na home aquele título e/ou autor de algum livro que está na fila de seus desejos e veja o que acontece.

Para mim o sebo é lugar de preservação da memória humana. Alguém disse e é bem verdade: livro novo é aquele que ainda não foi lido. A preservação não se trata apenas do objeto físico, mas do pensamento veiculado pela ação leitora. Por ela o livro pode ser interpretado, reorganizado, analisado e reconstruído. O leitor tem a oportunidade de partir de um conhecimento já existente num ato de compreensão do tempo, ou, apenas fruir livremente, para o bem estar do espírito. E por compartilhar essa riqueza única.

Mas, não é todo mundo que gosta de livros usados. Como se fosse o mesmo que roupa íntima de segunda mão. Isso dá nojo, eu sei. Com livros, é diferente. As manchas, ou melhor, as marcas de toda sua vida pregressa, os sublinhados, as dobras, os rabiscos, as frases adjuntas com letra de mão desconhecida, essas coisas podem funcionar como algo novo, renovado, que se vivificará na próxima leitura em ponto de espera e que tragará as outras já realizadas sorvendo estes pequenos detalhes. Fico na dúvida se é melhor um livro novinho em folha ou um carregado de indícios de outras viagens leitoras. Não falo de livro estragado, emporcalhado, que vai para o lixo, com certeza. Mas do livro usado, bem trilhado pelos percursos de leituras incontáveis e inimagináveis. Num livro assim acho que temos a sensação de ser proprietário temporariamente do livro e também das marcas de tantos bailes leitores. Num sebo cada volume é um e único. Não é substituível. Cada volume guarda individualidade, pois viveu cada mudança perpassada em olhos leitores, numa constelação de proprietários. Se não comprar o livro na hora do encontro, talvez não tenha nunca mais outra oportunidade.

Pensando bem as palavras nos livros é que são sagradas, prontas para o sopro da interpretação. O papel, o tecido, a cola, a linha, a tinta são apenas receptáculos delas.

Espera-se que nos sebos os preços dos livros sejam os mais baixos encontrados. Com exceção de livros raros, os autografados, as primeiras edições, os que levam encadernações de luxo, por exemplo, podem ter custos pelo seu valor histórico. Enfim, os sebos, estas pequenas ou grandes lojas de livros usados são prato cheio para uma gama de freqüentadores ocasionais e féis: os curiosos, estudiosos, colecionadores.Ou os que se lancem a alguma boa aventura.

Em era de tantos crimes ecológicos, desperdício e consumismo desenfreado e em vias de se decretar a transformação do livro de papel, o sebo é uma empresa ecologicamente correta. O objetivo de preservar o planeta, poluindo-o o mínimo possível, passa pelo reciclar dos livros. Papel que os sebos realizam muito bem.

É sempre prazeroso e inusitado passar algumas horinhas num dos sebos. Costumo fazer isso num pequeno período livre numa tarde qualquer ou mesmo num sábado pela manhã. É como se fizesse um passeio numa cidade embora já conhecida, mas reveladora de um dos de seus íntimos segredos, escondidos e entregues ao nosso bel-prazer ávido e interessado.

Sempre levo de cabeça minha listinha interminável. Mas o legal mesmo é você ir descobrindo um título aqui, outro ali e que surgem como nova manhã em seu horizonte leitor, como promessa feliz. Uma capa que se destaca, um título pungente e mais que provocativo, a leitura inicial de um primeiro capítulo ou de uma apresentação, um folhear e uma leitura em diagonal pelas orelhas atentas e pela sua quarta capa convidativa. Muitas vezes tenho a especial sensação de que sou comprado pela surpresa e pelo inesperado encontro com algum inusitado livro. E raras vezes me arrependo de levá-lo para casa a conviver com os outros adquiridos. Qualquer coisa, uma desatenção, um não gostar é só retornar ao sebo e refazer a negociação. Como nos velhos tempos de grandes navegações, não é?

Penso eu que ter bons títulos à disposição dos leitores seja um dos principais quesitos para o sucesso de um sebo. Assim, vender bem é o mesmo que comprar bem. Como nas boas bibliotecas e salas de leituras das escolas, a escolha do acervo é pedra de toque. Na escolha está impregnada a ação leitora. Ninguém escolhe “O Cortiço” ou “Vidas Secas” apenas para deixar na estante. A escolha se efetiva porque há a presença potencial do leitor e que será apresentado e mergulhará no universo tramado por Aluisio Azevedo e Graciliano Ramos, não é assim?

Pois é. Você já foi a algum sebo? Não mesmo? Pois então, vá...

FONTE: http://www.escrevendo.cenpec.org.br/ecf/index.php?option=com_content&view=section&layout=blog&id=13&Itemid=161

Nenhum comentário: